por Eduardo Rocha
Auto Press
O Chevrolet Cruze Sport6 RS está sozinho. Não só no segmento de hatches médios como também na linha Cruze. Enquanto o sedã conta com as versões LT, LTZ e Premier, a RS é a única disponível para a carroceria hatch. E mesmo dentro da gama, a versão de visual mais esportivo foi o único que sobrou. A não ser por modelo de marcas de luxo, como Audi, Mercedes-Benz e BMW, ou pelo elétrico Nissan Leaf, não há mais ofertas de hatches médios no Brasil. Em um mercado pequeno como o brasileiro, uma saída para ganhar escala de produção é reduzir a oferta de modelos e concentrar o mercado em determinados segmentos, como SUVs e picapes. De fato, automóveis médios produzidos localmente – Mercosul – conta apenas com o Cruze e o Toyota Corolla.
De qualquer forma, a linha Cruze, produzida na Argentina, tem fãs em outros países da América do Sul e mesmo no Brasil, a linha consegue orbitar em torno de 1.200 unidades mensais – 150 da versão hatch. E a versão RS garante que o modelo vai cumprir seu ciclo de produção, que deve se encerrar em 2023 ou 2024, em alto nível. A versão foi apresentada em janeiro deste ano e, mesmo atuando sozinha, conseguiu manter o mesmo nível de emplacamentos de 2021, quando em versões mais baratas. O Cruze Sport6 RS custa R$ 160.190 e tem o visual arrojado como um de seus principais pontos de atração.
Na frente, o RS traz um novo para-choque, mais projetado e agressivo na área da grade. Dividindo a entrada de ar, a barra em cromo escurecido é semelhante à da versão Midnight. A grade traz a logo Bow Tie ao centro e a inscrição “RS” na lateral esquerda. Os faróis são em led e têm máscara negra. Na lateral, moldura das janelas, adesivo de coluna e retrovisores são em preto, enquanto as maçanetas são na cor do veículo com um friso cromado. As rodas de liga polida com cinco pétalas são parcialmente pintadas. Para ressaltar a esportividade do modelo, a versão RS traz sempre o teto e o aerofólio traseiro em preto metálico, independentemente da cor da carroceria.
Por dentro, os revestimentos de teto, assoalho, colunas, painéis e bancos são em preto, enquanto as costuras pespontadas dos assentos, por exemplo, trazem linhas vermelhas. De série, a versão RS inclui seis airbags, monitoramento da pressão dos pneus, câmera de ré, sensor de estacionamento dianteiro e traseiro, sensor de luz e chuva, retrovisor interno eletrocrômico e externos com rebatimento elétrico. O sistema multimídia MyLink tem tela de 8 polegadas e pareamento via Bluetooth com até dois celulares. É possível configurar dois perfis de usuários, um para cada chave, com as preferências de aplicativos, estações de rádio, etc).
Sob o capô, o hatch traz o propulsor 1.4 turbo com injeção direta e duplo comando variável, capaz de entregar 150/153 cv de potência e 24/24,5 kgfm de torque com gasolina/etanol. A transmissão é sempre a automática de seis marchas com modo sequencial e mudança em um comutador na lateral da alavanca. O zero a 100 km/h do modelo fica em exatos 9 segundos e a máxima é de 214 km/h. A versão recebeu calibragem de suspensão e direção específicas para ganhar esportividade. Com um bom nível de requinte, recursos tecnológicos e um bom desempenho, o Cruze Sport6 RS certamente seria bem mais apreciado em um mercado menos monótono que o brasileiro.
Ponto a ponto
Desempenho – O Cruze RS use o motor 1.4 turbo de 150/153 cv e 24/24,5 kgfm de outras versões, mas a verdade é que o visual esportivo apenas faz jus ao comportamento apimentado que o modelo sempre apresentou com essa configuração. Apesar do turbo lag inicial, principalmente em retomadas, a partir das 2 mil rotações as acelerações se tornam bem progressivas, com subidas de giro rápidas. O câmbio automático de seis marchas tem um escalonamento bem fechado, com relações próximas, para não ter uma queda de giros acentuada nas trocas. A relação boa peso/potência em torno de 8,5 kg/cv e a aceleração de zero a 100 km/h em 9 segundos mostram que o modelo não é um esportivo feroz, mas é capaz de oferecer um desempenho emocionante e convincente. Nota 8.
Estabilidade – Por conta da melhor distribuição de peso da configuração hatch, a dinâmica do Cruze Sport6 RS leva ligeira vantagem sobre a versão sedã. A rolagem lateral é mais controlada e a recuperação de equilíbrio da carroceria é mais rápida, o que faz diferença em uma sequência de curvas. O modelo se mostra bem ágil e estável, apesar de ter uma suspensão traseira por eixo de torção, menos refinada que uma multilink. A direção é leve e comunicativa, o que torna as tocadas mais agressivas bem controladas. Nota 8.
Interatividade – A Cruze RS traz a central multimídia MyLink com tela de oito polegadas, roteador wi-fi e conexão com fio com Apple CarPlay e Android Auto. Tem ainda o sistema OnStar de assistência e monitoramento, chave presencial com acionamento remoto do motor. Todo o sistema é amigável e funcional, mas a tecnologia anda muito rápido nesse aspecto já há oferta de sistemas mais modernos, dentro da própria linha Chevrolet. Nota 8.
Consumo – A versão hatch do Cruze consome um pouco mais que a sedã, pois apesar de ter 21 cm a menos, pesa 21 kg a mais, quando comparado à versão Midnight. O modelo cumpriu a média de 10,4 km/l na cidade e 13,3 km/l na estrada, com gasolina, e 7,0 km/l e 9,2 km/l, respectivamente, com etanol, na avaliação feita com o modelo 2022. Com isso, ganhou do InMetro nota C na categoria e no geral. Nota 6.
Conforto – O sistema suspensivo privilegia a estabilidade. Os pneus de perfil 50, com 10,7 cm de flanco, e o acerto da suspensão transfere parte das irregularidades para os ocupantes, mas é muito agradável em estradas bem pavimentadas, quase sem provocar ruídos e vibrações. Os bancos são robustos, confortáveis e ergonômicos e o espaço no habitáculo acomoda muito bem quatro ocupantes adultos para viagens longas. Um terceiro passageiro no banco traseiro é viável em trajetos mais curtos. Nota 8.
Tecnologia – O Chevrolet Cruze iniciou sua produção na Argentina em 2016. Nesses seis anos, a indústria caminhou mais no sentido da eletrificação e da autonomia do que no de aprimoramento de plataforma e motores. Por isso, apenas de estar em seu sétimo ano de mercado, a atual geração do Sport6 RS não está tão defasada. O modelo segue parâmetros básicos como motor de pequeno com turbo e plataforma com bom nível de rigidez. Atualmente, o Cruze Sport6 não oferece mais sistemas de condução autônoma, ainda disponíveis na versão sedã, como Easy Park, de estacionamento semiautomático, farol alto automático, alerta de colisão, monitoramento de faixa e alerta de ponto cego. Nota 7.
Habitabilidade – Por dentro, a organização do habitáculo repete o sedã, com bons nichos e porta-objetos para acomodar pequenos objetos. O acesso ao interior é bom, mas o porta-malas é apenas razoável: ele carrega 290 litros, próximo ao de alguns hatches compactos. Por outro lado, tem a versatilidade de contar com bancos rebatíveis, que amplia consideravelmente o volume de carga. Nota 8.
Acabamento – De maneira geral, os modelos médios no Brasil são a porta de entrada do luxo. E o Cruze Sport6 RS, apesar do apelo esportivo, responde bem a essa demanda. O revestimento em couro sintético, chamado de Jet Black está presente nos bancos, apoio de braços, painéis das portas e até no painel. Os encaixes são bem feitos e as peças têm bom aspecto. Nota 8.
Design – Os adereços adicionais da versão RS incrementaram ainda mais o aspecto esportivo do Cruze Sport6. Vincos percorrem a carroceria de forma a acentuar uma sensação de velocidade, e a frente ficou ainda mais agressiva com os novos para-choques e a grade com trama simétrica em V. As rodas de liga leve de 17 polegadas têm acabamento em parte polido, em parte pintado, agregam requinte. Na traseira, se destaca o spoiler entre o teto e o vidro traseiro em preto brilhante. Apesar de ter seis anos de mercado, o desenho não está cansado. Nota 9.
Custo/Benefício – O Chevrolet Cruze Sport6 RS atualmente é a única versão do modelo e custa R$ 160.190 (R$ 162.190 com pintura metálica). O modelo não tem mais rivais no Brasil, mas briga tanto com os sedãs médios quanto com SUV compactos mais completos. E é uma opção para quem deseja um carro menor que um sedã médio, com bom espaço interno e design esportivo. Nota 8.
Total – O Chevrolet Cruze Sport6 RS somou 78 pontos em 100 possíveis.
Impressões ao dirigir
Ligeiro atraso
O visual esportivo do Cruze Sport6 RS finalmente faz justiça ao desempenho que o motor 1.4 turbo sempre ofereceu. E a nova calibração de suspensão e direção melhoraram sensivelmente o controle e a comunicação com o motorista. Na estrada, o hatch médio da Chevrolet entrega uma dinâmica agradável e, quanto solicitada, vigorosa, com ganhos de velocidade decididos, mas não tão imediatos quanto seria desejável, já que o turbo só enche após os 2 mil giros. Ou seja: se o condutor está buscando o limite, com trocas em alta, não vai nem perceber o turbo lag. Mas se for uma solicitação esporádica, como em uma ultrapassagem, há um atraso perceptível na entrega de potência.
A suspensão mais rígida favorece o comportamento do Cruze RS nas curvas e o deixa bastante neutro nas retas, sem qualquer necessidade de correções ao volante. Na realidade brasileira das cidades, no entanto, esse acerto atrapalha na filtragem das irregularidades, mas não a ponto de incomodar os ocupantes. No ritmo urbano, o modelo perde um pouco de agilidade por conta do atraso no turbo, mas ganha em praticidade, tanto por ser relativamente curto, o que facilita a movimentação e o estacionamento, quanto pela grande tampa do porta-malas, que ajuda na hora de acomodar bagagem.
Um ponto positivo é a facilidade de uso dos comandos, tanto os presentes no volante multifuncional quanto os do sistema multimídia, que é bem simples de operar. O Cruze RS traz os recursos de conforto esperados para a categoria, como ar automático, chave presencial, teto solar, revestimento em couro sintético, etc. Mas perdeu diversos recursos, que eram oferecidos até o ano passado, principalmente relativos a assistência à condução, como sensor de ponto cego, frenagem automática com detecção de pedestres, alerta de manutenção de faixa e estacionamento semiautomático. Ou seja: o conceito do Cruze RS acaba desembocando em uma esportividade mais clássica, que só tem as ajudas eletrônicas obrigatórias, como ABS e controle de estabilidade. O resto fica por conta de quem está ao volante.
Ficha técnica
Chevrolet Cruze Spoprt6 RS
Motor: Etanol e gasolina, dianteiro, transversal, 1.399 cm³, com quatro cilindros em linha, quatro válvulas por cilindro, turbocompressor, injeção direta e controle eletrônico de aceleração.
Transmissão: Câmbio automático de seis marchas à frente e uma a ré. Tração dianteira. Possui controle eletrônico de tração.
Potência máxima: 153/150 cv a 5.200/5.600 rpm com etanol/gasolina.
Torque máximo: 24,5/24 kgfm a 2 mil/2.100 rpm com etanol/gasolina.
Taxa de compressão: 10,0:1.
Suspensão: Dianteira independente do tipo McPherson, com barra estabilizadora ligada a hastes tensoras e molas helicoidais com carga lateral. Traseira do tipo eixo de torção, semi-independente e molas helicoidais.
Pneus: 215/50 R17.
Freios: Discos ventilados na frente e sólidos atrás. Oferece ABS com EBD.
Carroceria: Hatch em monobloco com quatro portas e cinco lugares. Com 4,45 metros de comprimento, 1,81 m de largura, 1,48 m de altura e 2,70 m de entre-eixos. Airbags frontais, laterais e de cortina.
Peso: 1.336 kg.
Capacidade do porta-malas: 290 litros.
Tanque de combustível: 52 litros.
Produção: Rosário, Argentina.
Lançamento da atual geração: 2016.
Lançamento da versão RS: janeiro de 2022.
Preço do Cruze Sport6 RS: R$ 160.190.
Preço da unidade avaliada na cor Vermelho Chili: R$ 162.190.