Eduardo Rocha/Auto Press
Os SUVs compactos estão entrando em uma nova fase no Brasil. Como passou a ser o segmento mais desejado e de maior volume no mercado – representam 48% das vendas de automóveis de passeio –, as marcas passaram a expandir as ofertas. Uma das novidades do segmento são as vertentes mais esportivas, e a proposta da Chevrolet é o Tracker RS. A sigla RS, de Rally Sport, designa apenas uma versão com visual esportivo, mas acontece que a marca precisou adequar seu motor 1.2 turbo para as normas L8 do Proconve. Para alcançar o padrão, ainda na linha 2025 a engenharia adotou a injeção direta de combustível, que não só reduziu as emissões como também permitiu um aumento da potência em 6% e do torque em até 15%. Agora, com a atualização da linha 2026, o Tracker RS exibe um trem de força com mais fôlego.
Não é suficiente para dar ao SUV compacto uma alma verdadeiramente esportiva. Inclusive porque o novo mapeamento do motor, mais focado em emissões e consumo, faz com que o comportamento fique até menos agressivo que antes. Na linha 2024, o modelo fazia de zero a 100 km/h em 9,4 segundos, mas a partir da linha 2025, que chegou em dezembro de 2024, esse tempo subiu para 9,7 segundos. Mas nas acelerações de zero a 60 km/h, típica de área urbana, o tempo caiu de 4,7 para 4,4 segundos. E mais: nessas idas e vindas, a Tracker ganhou um consumo 5% melhor.
A nova Tracker RS traz uma interpretação própria do facelift promovida na linha em julho passado. O visual segue o novo estilo adotado pelo design da Chevrolet, inaugurado no Brasil com a Montana. A dianteira ganha assinatura luminosa elevada, na linha do capô, migrando o conjunto ótico principal a meia altura do para-choque. No caso da RS, a grade redesenhada ganhou um padrão de gomos horizontais, é toda em preto brilhante e traz a sigla RS do lado esquerdo. Esse mesmo acabamento está no spoiler dianteiro e nas capas dos retrovisores e na placa de proteção inferior do para-choque traseiro. Todo o contorno do carro tem uma moldura de proteção em preto fosco. A tampa traseira traz a sigla RS em vermelho, com a gravatinha e o nome do carro em preto.
O Tracker RS divide com a versão Premier o posto de topo de linha e também o motor 1.2 Turbo
Por dentro, a Tracker mudou bastante e a RS, um pouco mais. O painel digital se manteve em um cluster separado e ganhou novos grafismos. A maior mudança foi na tela central, que agora é de 11 polegadas e ficou bem elevada. Esse crescimento, no entanto, teve como efeito colateral a eliminação da fileira de botões que ficaram na base da antiga tela. Por isso, diversos controles migraram para a própria tela, através de touch, ou para o volante. Ficou um pouco mais complicado, pela necessidade de realizar mais de um comando para acessar funções que antes eram diretas. Por outro lado, o visual ficou mais limpo, com um aspecto mais tecnológico.
Os acabamentos seguem a lógica de visual esportivo. Revestimento em couro sintético em preto e vermelho nos bancos, painel e console frontal. É um tanto chamativo, mas tem a ver com a personalidade da versão. Tudo o mais é em preto fosco ou preto brilhante, com raros detalhes em cromado. Essa segunda fase da Tracker, a RS traz outros ganhos definidos no lançamento da linha 2025, como ar-condicionado automático digital e carregador sem fio. Em relação à versão Premier, a RS deixa de trazer sensores dianteiros e auxílio semiautomático de estacionamento. Mas por conta dos incrementos visuais, a versão RS custa R$ 175.900, ou R$ 1 mil a mais que a Premier.
Ponto a ponto
Desempenho – O Tracker RS divide com a versão Premier o posto de topo de linha e também o motor 1.2 Turbo. O verdadeiro ganho desse propulsor foi na adequação às normas L8 do Proconve, feita no início do ano, quando ganhou injeção direta e passou de 132/133cv para 139/141 cv de potência e de 19,4/21,4 kgfm de torque para 22,4/22,9 kgfm. Também ganhou uma correia dentada mais resistente aos óleos comuns, colocados fora das concessionárias – um drama enfrentado pela Chevrolet no Brasil. A atualização de meia vida em si, feita para a linha 2026, engordou o RS em 17 kg – tem agora 1.265 kg –, mas isso não afetou em nada a boa performance do motor de três cilindros, que é muito bem disposto, apresenta acelerações progressivas e vigorosas e se entende bem com o câmbio automático de seis marchas. O zero a 100 km/h é feito em 9,7 segundos e a máxima fica em 190 km/h. Nota 8.
Estabilidade – Na atualização, amortecedores e molas foram recalibrados com o objetivo de melhorar a filtragem das irregularidades em baixas velocidades, como na cidade, e melhorar o controle em velocidades mais altas, como em estrada. Com isso, a rodagem da Tracker ficou mais suave e reduziu a rolagem nas curvas – mesmo sendo um modelo com 1,62 metro de altura. Nota 9.
Interatividade – Nessa nova fase, o conteúdo do Tracker RS se aproximou da versão Premier – a rigor, só não traz o sistema semiautomático de estacionamento e sensores dianteiros. Com o novo conjunto de telas, as informações passaram a ser mais diretas, mas a navegação pelo computador de bordo ficou um pouco mais confusa – antes trazia um conjunto de botões sob a tela da central e agora muitos comandos são por toque ou migraram para o volante multifuncional. A versão tem câmera de ré e sensor traseiro, sistema multimídia que espelha celulares sem cabo, roteador de internet para até sete aparelhos e um pacote básico de recursos ADAS, com alerta de colisão, de ponto cego e frenagem autônoma de emergência. Rivais na mesma faixa de preço já contam com controle de cruzeiro adaptativo e monitoramento de faixa. Nota 7.
Consumo – Com a adoção da injeção direta, o motor 1.2 turbo ganhou potência e também ficou mais econômico. Nos testes do InMetro, o Tracker apresentou um consumo médio de 7,6/9,7 km/l com etanol e 11/13,7 km/l com gasolina, na cidade/estrada. Uma melhora em média de 5%, mas que não se refletiu nas notas, mantidas em C na categoria e no geral, mas melhorou o índice de emissões, que foi de C para A. Nota 7.
Conforto – O espaço interno não mudou, mas houve uma melhora no ambiente. Os bancos redesenhados ganharam espumas de diferentes densidades para melhorar a sustentação do corpo. A suspensão suavizou a rodagem e o isolamento acústico é bom em baixas velocidades, mas deixa a desejar em altas – na estrada, é preciso aumentar o som. Nota 7.
Tecnologia – O Tracker usa a plataforma Global Emerging Markets, ou GEM, uma arquitetura compacta simplificada, de baixo custo, que tem boa rigidez e é leve. A Tracker RS tem um bom nível de conectividade, com sistema de emergência On Star e com funções remotas pelo aplicativo myChevrolet. Ganhou também a enorme tela de 11 polegadas para a central multimídia. Nota 8.
Habitabilidade –A área para pernas e cabeça é generosa, como é de praxe em SUVs, mesmo compactos. O teto solar panorâmico intensifica a sensação de espaço no interior. O Tracker tem uns poucos nichos no interior – sob o apoio de braços dianteiros e nas portas –, mas o porta-malas, além de carregar 393 litros, tem diversos nichos sob o fundo, onde se pode colocar objetos mais sensíveis. O assento traseiro elevado em relação ao dianteiro torna a viagem mais agradável para quem vai atrás e agora inclui um apoio de braços central. Nota 9.
Acabamento – O Tracker RS traz diversos elementos para exaltar o estilo esportivo do modelo. Como os revestimentos em couro sintético em preto e vermelho, detalhes em vermelho no painel e nas portas, numa combinação agressiva. A decoração inclui ainda uns poucos detalhes cromados e diversas guarnições em preto brilhante. Nota 6.
Design – A renovação visual do Tracker para sua segunda fase de mercado harmonizou a frente com os outros compactos da marca, em um processo iniciado com a chegada da Montana. A linha de led subiu para a linha do capô. Com isso, os faróis foram rebaixados a meia-altura do para-choque, logo acima do cluster do farol de neblina. A frente combina áreas pintadas da cor da carroceria com a grade de duas alturas e guarnições em preto brilhante. Na grade principal, do lado esquerdo, está a assinatura RS. Não houve uma quebra de paradigmas, mas apenas uma adequação ao face-family da marca. Mas ainda é um design harmonioso e simpático. Nota 8.
Custo/benefício – O Chevrolet Tracker é um carro de amplo espectro, que tem o papel de cobrir todo o segmento de SUVs compactos. E será assim até que seja apresentado o novo SUV de entrada da marca, também baseado no Onix, possivelmente no início de 2026. Por isso, a gama começa em R$ 119.900 na versão AT e vai até os R$ 175.900 da RS, a mais cara da gama. Nessa faixa, vai brigar com SUVs compactos com pegada esportiva como Volkswagen T-Cross Extreme, que é um pouco mais potente e mais caro, com Hyundai Creta N Line, que é bem menos potente e mais caro, e Pulse Abarth, que é muito mais potente e mais barato. Nota 7.
Total – O Chevrolet Tracker RS 1.2 Turbo 2026 somou 76 pontos em 100 possíveis.
Impressões ao dirigir
Suave esportividade
A versão de 1.2 litro do motor Ecotec Turbo da General Motors é o que equilibra melhor consumo, desempenho e suavidade de funcionamento. E ele passou por uma boa reconfiguração com a chegada da injeção direta, no final de 2024. Ganhou potência e torque, mas perdeu no tempo da aceleração de zero a 100 km/h, que subiu de 9,4 para 9,7 segundos. E, a não ser que a ideia seja disputar arrancadas, o 0,3 segundo a mais que leva para alcançar a marca não faz a menor diferença. O mais efetivo é que ele ganhou em maciez no funcionamento, com um comportamento mais progressivo.
Aliás, o objetivo da GM com as alterações, além de se adequar às normas de emissões, foi tornar o Tracker mais agradável na rodagem. Por conta disso, as alterações promovidas na suspensão e na direção foram no sentido de dar maior suavidade ao trato. O Tracker está mais controlável e direto nas respostas. Mas como é um SUV com relação peso/potência favorável, de 8,9 kg/cv, ele pode ser bastante reativo, se esse for o comando no acelerador. A sensação é que o SUV está sempre pronto para ganhar velocidade. E é interessante que, mesmo sendo mais dócil, dá respostas agressivas quando é chamado de forma mais intensa.
Como o Tracker tem a função de brigar em toda a faixa de SUVs compactos, o modelo começa com valores modestos para a faixa superior do segmento – que são considerados SUVs de entrada. Por conta dessa referência direta, os preços do modelo acabam sendo mais favoráveis nas versões de topo do que de concorrentes que só atuam no topo do segmento. O RS tem praticamente todos os recursos de tecnologia e conforto disponíveis na gama de compactos da Chevrolet. Ficam faltando apenas o sistema semiautomático de estacionamento, o que inclui os sensores dianteiros. Como costuma acontecer com SUVs, o Tracker tem uma boa proporção de espaço interno e para bagagens, se comparado com o tamanho externo. O ambiente é incrementado por um bom nível de acabamento, com couro sintético nos bancos e guarnições, teto solar panorâmico e um sistema de conectividade bem prático, com roteador e espelhamento de celulares via Bluetooth, sem cabo. Na parte de tecnologia autônoma, o Tracker RS é modesto: traz apenas alerta de colisão com frenagem autônoma e alerta de ponto cego.
Ficha técnica
Chevrolet Tracker RS 2026
Motor: Etanol e gasolina, dianteiro, transversal, 1.199 cm³, com três cilindros em linha, quatro válvulas por cilindro, turbocompressor, injeção direta e controle eletrônico de aceleração.
Transmissão: Câmbio automático de seis marchas à frente e uma a ré. Tração dianteira. Controle eletrônico de tração.
Potência: 139/141 cv a 5.500 rpm com etanol/gasolina.
Torque: 22,4/22,9 kgfm a 2 mil rpm com etanol/gasolina.
Diâmetro e curso: 75 mm por 90,5 mm.
Taxa de compressão: 10,5:1.
Aceleração: 0-100 km/h: 9,4 segundos.
Velocidade Final: 190 km/h.
Suspensão: Dianteira do tipo independente McPherson, barra estabilizadora e amortecedores telescópicos hidráulicos pressurizados a gás. Traseira com eixo de torção e amortecedores telescópicos hidráulicos pressurizados a gás. Controle eletrônico de estabilidade.
Pneus: 215/55 R17.
Freios: Discos ventilados na frente e tambores atrás. Oferece ABS com EBD com controle de partida em rampa.
Carroceria: Utilitário esportivo em monobloco com quatro portas e cinco lugares. Com 4,30 metros de comprimento, 1,79 m de largura, 1,63 m de altura e 2,57 m de distância entre-eixos. Oferece airbags frontais, laterais e de cabeça na versão.
Peso: 1.265 kg.
Capacidade do porta-malas: 393 litros.
Tanque de combustível: 44 litros.
Lançamento: março de 2020.
Lançamento da versão RS: abril de 2023
Facelift: julho de 2025.
Produção: São Caetano do Sul, São Paulo, Brasil.
Preço da unidade avaliada: R$ 175.900.










