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Opinião Segunda-feira, 24 de Julho de 2017, 00:00 - A | A

24 de Julho de 2017, 00h:00 - A | A

Opinião /

De corações



EDUARDO GOMES

 

Rondonópolis, cidadezinha de nariz empinado que se rotulava Rainha do Algodão das roças de toco. Poxoréu, rica e exuberante, estufava o peito enquanto Capital dos Diamantes. A primeira com cinco anos de emancipação e a outra engasgada com o espinho dessa autonomia que lhe surrupiou seu distrito mais ao sul. Com esse componente, as seleções de futebol das duas cidades se enfrentaram na ensolarada tarde do domingo 8 de novembro de 1959, para a inauguração do Estádio Engenheiro Luthero Lopes, construído no tal ex-distrito.

Poxoréu despachou Rondonópolis por 5 a 2, com direito a olé e foguetório. Quanto ao resultado, a torcida que assistiu ao jogo não discute. O que ninguém sabe é o nome do craque autor do primeiro gol do Luthero Lopes.

 Ninguém vírgula, porque duas vozes discordantes sempre sustentaram a seu modo a paternidade do feito.

Hermenegildo Reis de Almeida, de Rondonópolis, conta que na intermediária desarmou o volante, avançou, driblou dois zagueiros, cobriu o goleiro e fez a gorduchinha triscar a trave antes de cair mansa e faceira atrás da linha da cal. Rosalvo Aguiar, de Poxoréu, disse como marcou o primeiro gol: recebeu cruzamento da esquerda, matou a redonda no peito e de voleio estufou as redes.

Nos alicerces de Rondonópolis estão as impressões digitais dos personagens dessa polêmica. Hermenegildo foi servidor do DNER (agora Dnit).

Alguns anos depois daquela partida, Rosalvo dignificou a profissão de bancário gerenciando o Banco Real naquela cidade, até se aposentar precocemente por problemas de saúde que comprometeram a desenvoltura de seu caminhar.

Na madrugada do sábado 5 de junho de 2010 Deus vagava onipresente sob o firmamento em Rondonópolis, agora bonita metrópole e bem diferente da cidadezinha da época do primeiro gol no Luthero Lopes. O Senhor gostou do espírito reinante na cidade levando dali para seu reino celeste um septuagenário enfermo. Na porta do céu um coro de anjos, arcanjos e querubins entoou cânticos que soaram aos ouvidos de Rosalvo como se fossem gritos da torcida poxoreana com seu voleio estufando as redes da cidade que mais tarde seria seu novo lar.

Com o adeus de Rosalvo, a terra de meus filhos Agenor e Luiz Eduardo virou mais uma página de sua recente história e não ouve mais o debate dos dois artilheiros que consciente ou inconscientemente solidários ao espírito de luta que esculpiu a têmpera da singular Rondonópolis marcaram o mais importante tento de suas vidas: o gol da construção da cidadania rondonopolitana.

O texto acima é uma das narrativas do livro sobre Rondonópolis, que em breve publicarei. Sua leitura é boa maneira de se encontrar com a verdadeira história daquela cidade construída pela força de sua gente, mas principalmente por seus corações.

 

Eduardo Gomes de Andrade é jornalista

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