Carta Z
POR CAROLINE BORGES
TV PRESS
A tevê tem se tornado um campo de redescobertas paras Marcos Caruso. Após se reconectar com o humor ao interpretar o esperto Leleco, de “Avenida Brasil”, o ator de 68 anos, sendo mais de 40 deles vividos no vídeo, seguiu sendo surpreendido pela televisão nos últimos meses. Por conta da pandemia do novo coronavírus, Caruso desbravou o trabalho remoto na nova temporada da “Escolinha do Professor Raimundo” e da série “Diário de Um Confinado”. Já nos Estúdios Globo, no Rio de Janeiro, ele se viu envolto em novos protocolos e regras para gravar “in loco”. “Contracenar à distância é mais difícil, mas, ao mesmo tempo, foi um processo estimulante. Tudo que nos estimula nesse momento é genial. É uma luz no fim do túnel para todos os artistas”, aponta.
De volta ao ar na “Escolinha do Professor Raimundo”, Caruso não interpretou apenas o espalhafatoso Seu Peru, vivido originalmente por Orlando Drummond. O ator também revisitou o personagem Leleco, de “Avenida Brasil”, em um dos episódios. Na participação especial, Leleco chega à “Escolinha” e convida João Canabrava, papel de Marcos Veras, para a final de um campeonato da quinta divisão, em que o fictício Divino Futebol Clube compete. “Esse personagem me deu mais autoestima quando já estava entrando na terceira idade. Leleco é solar. Tem humor. Representa bem uma grande parcela reconhecível do povo brasileiro”, valoriza.
P – O primeiro episódio da temporada foi gravado de forma remota. Como foi essa experiência de contracenar?
R – Gravar remotamente é uma forma estranha de contracenar. Porque contracenar é estar diante do seu colega, e o olho no olho faz com que a cena aconteça. Evidentemente, você estar vendo o Professor Raimundo por uma tela não é a mesma coisa. Foi bastante diferente, mas era o momento que estávamos vivendo. Essa forma de se gravar o programa, extremamente contemporânea, simbolizou o começo de um novo tempo.
P – De que maneira?
R – A “Escolinha” é um ícone, um clássico. Todas as pessoas que já passaram pelos bancos escolares se identificam com o programa. E estão se identificando neste momento, porque os jovens e crianças estão passando por essas fases também: o ensino remoto e a volta à sala de aula.
P – Na atual temporada, além do Seu Peru, você também interpretou o personagem Leleco, de “Avenida Brasil”. Como foi reviver esse papel em outro contexto?
R – Foi como visitar um antigo parente que eu não via há muitos anos. Quando acabei de me vestir no camarim, pus os óculos escuros na cabeça, a corrente dourada no pescoço e me olhei no espelho. Fiquei feliz por reencontrá-lo bem, mas um pouco mais velho. Não cortei propositadamente o cabelo, que ele usava quase raspado, para dar essa ideia de passagem do tempo. Foi bom ver que ele continua bem-humorado e com muita energia física (risos).
P – Além da “Escolinha”, você também participou da série “Diário de Um Confinado”, do Globoplay. De que forma esse projeto chegou até você?
R – Fiquei sabendo desse projeto da Joana (Jabace) e do Bruno (Mazzeo) lendo o jornal. Eles são dois queridos amigos e talentosíssimos colegas, com os quais já trabalhei algumas vezes. Logo pensei: “puxa vida, queria tanto estar nessa...”, mas fiquei quietinho no meu canto. De repente veio o convite e foi uma felicidade. Obviamente, aceitei na hora. Contracenar à distância é um pouco mais difícil, mas também pode ser muito estimulante. E acho que tudo o que nos estimula nesse momento em que estamos isolados é bom. Contracenar, conviver, falar, mesmo que virtualmente, já é uma luzinha no fim do nosso túnel artístico.
P – Então, seu período de isolamento foi bastante intenso...
R – Sim, passei trabalhando bastante (risos). Fiz “Sob Pressão”, gravei o podcast da “Escolinha”, a “Escolinha” remota e nos Estúdios Globo, o programa “Cada Um No Seu Quadrado”, “Diário de um Confinado”, fiz participação no “Fantástico” etc. Fora isso, também li muito. Tenho assistido a muitos filmes e me preparado fisicamente para os novos projetos que virão.
“Escolinha do Professor Raimundo” - Globo - Domingo, às 12h45.