Carta Z
É com segurança que Cristiana Oliveira olha para sua trajetória profissional. Com uma carreira pontuada por protagonistas como a Juma, de "Pantanal", a Tatiana de "Quatro por Quatro", e a Selena, de "Corpo Dourado", a atriz de 52 anos encara a profissão de forma simples e sem afetações. No ar em "A Terra Prometida" como a pessimista Mara, ela sabe que é difícil prever os rumos ou a importância de um papel ao longo dos meses de uma novela. "Não me preocupo com tamanho de personagem. Quero apenas fazer um bom trabalho. Se ele tiver de crescer, vai ser consequência de um bom trabalho. O status é muito forte na cabeça das pessoas. Em 'O Clone', a Alicinha tinha uma linha na sinopse e foi uma das minhas melhores personagens. Televisão é muito um tiro no escuro", explica. Na trama escrita por Renato Modesto, Mara é uma mulher ambiciosa, desconfiada e vaidosa. Em nome de seus objetivos, começa a cultuar deuses pagãos e a aprender magia negra. "Ela não tem uma vida própria. Gosta de perturbar a vida dos outros. Faz a cabeça do marido para derrubar Josué e virar o líder da tribo. Acaba virando feiticeira e revelando um lado bem obscuro", ressalta.
Cristiana estreou na tevê em 1989, quando participou da novela "Kananga do Japão". Porém, o reconhecimento veio em 1990, ao protagonizar "Pantanal". Agora, na Record, após 22 anos na Globo, a atriz ressalta as novas configurações do mercado, onde os contratos por obra estão cada vez mais comuns entre as emissoras de televisão. "É uma nova forma que o mercado tem de se manter. As empresas não podem gastar mais do que devem. Então, fica difícil manter um funcionário sem trabalhar. Sou empresária, dona de loja, e sei como essas coisas funcionam. Uma obra é um gasto tremendo. Fui muito feliz na Globo. Não à toa, fiquei 22 anos lá", afirma.
P – Como surgiu a oportunidade para "A Terra Prometida"?
R – O convite veio a partir do Alexandre Avancini. Fui me encontrar com ele e conversamos. Ele já tinha me dirigido na Globo. Sempre admirei o trabalho dele. Depois de um tempo, a Record me ligou para formalizar tudo. Fui contratada especificamente para "A Terra Prometida".
P – Você ficou 22 anos na Globo. O que motivou a mudança de emissora?
R – Foi um conjunto de coisas. Essa linguagem é algo muito original para mim. Ator gosta de ser movido por coisas diferentes ou um universo diferente. Há uma liberdade muito forte. Pude ir juntando as minhas propostas de construção da personagem com as propostas da equipe. É muito bom ter essa liberdade em uma obra aberta. A gente não sabe exatamente onde as coisas vão parar.
P – Como foi seu processo de composição para o papel?
R – Me inspirei um pouco na história de Jezebel. Esse comportamento obsessivo da Mara é atemporal. Sempre há milhões de mães que são obsessivas. Na verdade, segui bastante o que o autor deu como referências no texto. Tento buscar uma criação interna porque a Mara não existe. É uma criação. Eu a estou fazendo de uma forma verdadeira e sem uma linguagem engessada. Não gosto de representar, gosto de interpretar. Crio um universo interno para que acreditem nela.
P – Ao longo da novela, Mara aparece com uma composição mais pesada. Isso mexeu de alguma forma com a sua vaidade?
R – Não. Estou de cabelo branco e 8 kg mais gorda. Me olho na novela e estou um horror (risos). Mas isso é uma preocupação boba. Hoje em dia, estou mais preocupada em fazer um bom trabalho. Não vou ficar mais jovem. Dependo do universo da personagem. Acabou minha época de musa ou mulher "sexy". Até posso fazer, mas não posso ficar preocupada em fazer papel de jovenzinha. Me aceito como sou.
P – Sua última novela havia sido "Salve Jorge", em 2012. Foi uma opção sua se manter afastada dos folhetins?
R – Estava investindo em um lado mais tranquilo meu. Sou palestrante sobre autoestima e dona de uma loja de roupa. Optei por fazer outras coisas que gosto. Não faço questão de ser conhecida ou famosa, mas de ser respeitada. Durante esse período que fiquei longe, muitas pessoas perguntaram se eu tinha desistido de ser atriz. Eu só não estava em um momento atriz.
"A Terra Prometida" – Record – De segunda a sexta, às 20h30.