A dependência química não afeta apenas o comportamento — ela consome energia.
O corpo e a mente entram em colapso porque os neurotransmissores, substâncias que controlam nosso humor e nossa disposição, deixam de trabalhar em harmonia.
O dependente acorda, mas não desperta; pensa, mas não age; existe, mas não vive.
Essa perda de energia não é apenas cansaço — é o reflexo de um corpo que parou de produzir prazer natural.
O corpo em colapsoQuando a energia desaparece. O cérebro funciona como uma rede elétrica alimentada por química.
Entre os principais mensageiros desse sistema estão a dopamina, a serotonina e a noradrenalina, substâncias essenciais para o prazer, equilíbrio e a energia. Durante o uso da droga, esses neurotransmissores são liberados em níveis muito altos. O corpo sente uma explosão artificial de prazer e coragem. Mas, à medida que o uso se repete, o cérebro passa a reduzir sua produção natural. A dopamina despenca, a serotonina se desorganiza e a noradrenalina, responsável pela energia vital, cai drasticamente.
Sem dopamina, o sujeito perde a motivação. Sem serotonina, perde o equilíbrio emocional. -Sem noradrenalina, perde a energia para agir.
O sujeito entra em uma sensação profunda de vazio, lentidão, esgotamento físico e desânimo. Ele não usa mais para sentir prazer, mas para evitar o sofrimento da falta de energia. O corpo, que antes reagia com vigor, agora implora pela substância como um combustível químico. É um cansaço que não se cura com sono, nem com descanso. É um apagão bioquímico.
É por isso que a fase de abstinência é marcada por tanta apatia e tristeza — o organismo precisa reaprender a produzir suas próprias substâncias.
Mas o cérebro tem memória e pode se regenerar. A prática esportiva faz o corpo liberar dopamina, serotonina, noradrenalina e endorfina — os mesmos neurotransmissores afetados pela droga. Mas, dessa vez, eles aparecem em equilíbrio, de maneira constante e saudável. Durante a corrida, o treino, a natação ou a caminhada, o corpo produz pequenas doses dessas substâncias, e o cérebro aprende de novo a sentir prazer sem precisar da substância química.
A dopamina volta a ser associada à conquista e à superação. A serotonina estabiliza o humor, reduz a ansiedade e melhora o sono.
A noradrenalina reacende a disposição, a energia e o foco. Aos poucos, o corpo volta a reagir à vida com prazer. O sujeito, antes esgotado, começa a sentir o coração bater mais forte e percebe que está vivo.
Corpo como recomeço- A recuperação da energia não é apenas física, é simbólica.
Quando o corpo volta a reagir, o sujeito descobre que pode sentir prazer sem se anestesiar. A dopamina premia o esforço, a serotonina traz serenidade e a noradrenalina devolve o impulso vital. O prazer deixa de ser químico e volta a ser humano.
O corpo que um dia colapsou pela falta de energia é o mesmo que pode renascer pela energia do movimento.
(Nailton Reis é Neuropsicólogo Clínico com especialização em Neuropsicologia Cognitiva Comportamental, Avaliação Psicológica e Psicologia do Trânsito - CRP 18/7767









