DO TERRA
Sandra Annenberg, 54 anos, prestou homenagem ao marido, Ernesto Paglia, de 63, após o repórter anunciar sua saída da Rede Globo. Ele ficou mais de 43 anos na emissora.
Em carta aberta publicada nas redes sociais na noite de segunda-feira, 26, a jornalista revelou que se aproximou do companheiro após diretor do Fantástico pedir para ela acompanhar produção de reportagem de Paglia.
"Há 30 anos fui convidada para ser apresentadora do Fantástico, ainda fazia faculdade e o diretor do programa, falou: 'Você precisa aprender a fazer reportagem, vai acompanhar o melhor repórter da TV brasileira'. Assim o fiz. Segui a missão à risca e assim o faço até hoje", começou ela.
A apresentadora ainda elogiou a forma como o marido trata a equipe e os entrevistados. "Sou completamente apaixonada pelo trabalho do Ernesto", completou.
Para ela, ninguém produz matérias para a televisão como Paglia. "Sacadas geniais e a capacidade sem igual de transformar qualquer tema - do mais complexo ao mais simples - em algo gostoso de ver, com inteligência, humor e elegância", disse.
Conhecido por viajar muito a trabalho, algumas aventuras de Paglia ocorreram enquanto Annenberg cuidava da filha, Eliza, ainda bebê. A jornalista chegou a comprar um telefone que funcionava por satélite para falar com o marido.
"É, houve aventuras tão distantes que não tinha comunicação e eu, com filha pequena, queria poder falar com ele em caso de emergência."
Ernesto Paglia anunciou sua saída da Rede Globo na segunda-feira, 26, após 43 anos e sete meses na empresa. Em uma troca de e-mails com o diretor de jornalismo da emissora, Ali Kamel, ao qual o Estadão teve acesso, ele homenageou o seu tempo na casa.
"Quando comecei na Globo, em maio de 1979, um 'bom tempo de casa' era atestado de competência. O certo é que esse longo período permitiu colecionar um repertório profissional que me enche de orgulho. Uma lista imensa de satisfações", escreveu o repórter.
Leia a carta aberta de Paglia
43 anos e 7 meses. Tempo demais numa única empresa, dizem hoje em dia.
Quando comecei na Globo, em maio de 1979, um "bom tempo de casa" era atestado de competência.
O certo é que esse longo período permitiu colecionar um repertório profissional que me enche de orgulho.
Uma lista imensa de satisfações.
Dá pra imaginar o peso dessa experiência na minha vida. Entrei na Globo com 20 anos recém completados, saio às vésperas de fazer 64.
No trabalho, dobrei minhas melhores expectativas. Em muitos casos, literalmente.
Fui correspondente em Londres por duas vezes.
Visitei Ártico e Antártida outras duas, cada.
Viajei por dezenas de países.
Fiz reportagens em todas as ilhas oceânicas brasileiras e em muitos dos seus parques nacionais.
Perdi a conta das missões complexas que ajudei a destrinchar.
Citando de memória…
A libertação de Nelson Mandela em 1990, na África do Sul.
No interior da Inglaterra, a primeira entrevista de Ayrton Senna como piloto da Fórmula 1. Dezessete anos depois, em Interlagos, a sua última participação numa matéria de TV.
Cobri todas as visitas de Papas ao Brasil e mais algumas fora do país.
Trabalhei em 8 copas e 4 olimpíadas.
Entrevistei Shimon Perez, Kofi Annan, Paul Krugman, Tim Berners-Lee. Tim Burton, Ney Matogrosso, Maria Rita, Cássia Eller, Cora Coralina, Gilberto Gil. Zubin Mehta, Maurice Bèjart, Placido Domingo. Gravei com Margareth Thatcher, Mikhail Gorbachev, Fidel Castro, François Mitterrand, Helmut Khol. Até de João Paulo II consegui arrancar algumas reações, num tempo em que Papa não falava com a imprensa.
Acompanhei o fim da ditadura militar, a luta pelas Diretas Já, o calvário de Tancredo, a volta da Democracia. As eleições e posses de José Sarney, Itamar Franco, Fernando Collor de Melo, Fernando Henrique Cardoso, Luís Inácio Lula da Silva, Dilma Roussef.
Fora do Brasil, Pepe Mujica e Hugo Chaves.
Fiz documentários com Luiz Gonzaga e Mário Juruna.
Tive o privilégio de realizar milhares de matérias de destaque para todos os telejornais da Globo.
Até o fim.
Escrevo esta despedida em Stanley, onde vim fazer ( de novo, a minha segunda ) matéria nas Ilhas Falklands/Malvinas. Um verdadeiro presente de despedida do Fantástico.
Sou grato à TV Globo por todas essas oportunidades de aprender e explorar a linguagem da TV. Tive a sorte de embarcar na então Central Globo de Jornalismo quando um grupo de brilhantes veteranos tarimbados da imprensa escrita começava a mudar o telejornalismo brasileiro. As conquistas desse período estão por trás da qualidade exibida até hoje.
Ajudei a formatar o "novo" Globo Repórter, quando o programa passou para a jurisdição do Jornalismo.
Criei programa para a nascente Globo News, participei do desenvolvimento do formato inovador inaugurado pelo Globo Mar.
Fiz a primeira entrada ao vivo da Antártida na TV brasileira!
As primeiras participações via internet para o JN no Paquistão, no pós-11 de Setembro.
A Rede Globo sempre me tratou com grande correção. O melhor exemplo foram os 13 meses em que a empresa me permitiu trabalhar em casa durante a pandemia.
Nesse último período, acredito ter correspondido à altura: segui colocando matérias no Fantástico, produzindo reportagens nacionais e internacionais em ritmo ainda mais frequente que o normal, trabalhando pela internet, gravando sozinho ou com ajuda da minha esposa. Sem sair de casa, fiz matérias que foram das explosões no porto de Beirute à entrevista com a ganhadora do prêmio Nobel da Paz de 2021, da pandemia da Covid à guerra da Ucrânia . Os últimos anos no Fantástico também foram a minha segunda passagem pelo programa. Tenho muito orgulho de ter feito parte dessa equipe brilhante.
Nesta despedida da Globo, não posso deixar de agradecer às companheiras e companheiros que tanto me ensinaram, jornalistas com quem compartilhei dias e noites de trabalho, nas redações de todos os programas para os quais produzi.
Obrigado aos colegas que estiveram ao meu lado em expedições inacreditáveis, que ficaram incomunicáveis por semanas angustiantes no Atol das Rocas, que desafiaram o frio em viagens de trenó pelo Ártico, encararam a tropa de choque nas grandes greves do ABC, engasgaram com os gases lacrimogêneos de tantas passeatas e manifestações pela Democracia, se perderam ao meu lado nas savanas do Quênia.
Meu eterno reconhecimento aos jornalistas e técnicos com quem cruzei o Brasil numa cobertura pré-eleitoral que dificilmente vai se repetir, voando de jato executivo para os quatro cantos do país em visitas-surpresa a municípios de todos os estados brasileiros.
Minha gratidão aos geniais profissionais que embarcaram comigo em inúmeras travessias pelo Globo Mar, mareando em jangadas, iates ou navios militares para contar as histórias que acontecem além da arrebentação.
Meu muito obrigado, também, a todos os especialistas de outras áreas, que viabilizaram todos esses trabalhos: editores de imagens, técnicos, motoristas, motoqueiros, pessoal administrativo. Televisão é trabalho de equipe, e tive a sorte de participar de algumas das melhores.
Foi um privilégio ter sido repórter, na linha de frente da profissão, durante o riquíssimo período criativo dessas quatro décadas.
Pude contar grandes, belas e importantes histórias ao lado de gente competentíssima.
Ainda há muitas por contar. As novas tecnologias multiplicaram as telas. E acredito ainda ter muito a oferecer como jornalista, ofício que me dá enorme orgulho. Parafraseando um velho slogan, a gente se vê por aí.