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Artigo Sexta-feira, 08 de Novembro de 2019, 00:00 - A | A

08 de Novembro de 2019, 00h:00 - A | A

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Uma facada bem dada



Heródoto Barbeiro 

Bispo leva uma faca estilo punhal bem escondida a fim de matar uma autoridade. Ela é um político que corre risco de vida. Afinal, seus adversários governaram o Brasil por dois mandatos e não queriam abandonar o poder. Julgam-se os melhores para decidir os destinos nacionais. Contudo, a eleição pende para o adversário nascido em São Paulo mas que, devido às atividades políticas, mora no Rio de Janeiro. Tem o apoio dos liberais e conservadores que não querem uma intervenção estatal na economia.
Afinal, uma tentativa recente de industrialização e conteúdo nacional deu errado. Os que acreditaram na ideia nacionalista perdem dinheiro e provavelmente não vão recuperar nunca o capital que investiram. Mas, ainda assim, a oposição é favorável um estado forte, com tentáculos em todas as atividades nacionais, inclusive nos bancos e na indústria. Nem mesmo a recente quebradeira do sistema bancário e a distribuição de verbas inexistentes para os estados arrefecem o ânimo daqueles que querem a continuidade dos governos anteriores.
O melhor momento para Bispo desferir uma facada na vítima é o burburinho em volta dela. Ninguém presta atenção em um homem com um punhal escondido na roupa. Ele espera uma oportunidade, um momento em que o aglomerado permita que ele chegue perto para desferir um golpe mortal. Ninguém suspeita que, no meio da euforia, festa e a presença de tanta gente convidada o assassino se mistura e se aproxima vítima. O quadro político está conturbado com partidos irritados, uns por terem sido alijados do poder, outros porque não veem possibilidade de chegar na presidência da República do Brasil. Diante desse quadro tudo é possível, um golpe militar, um levante popular, uma coluna bancada pela burguesia nacional ou um atentado que motive uma nova eleição presidencial com novos postulantes e uma reviravolta na situação política. Era isto o que mais anima o assassino, uma única pessoa, sem a ajuda de quem quer que seja é capaz de mudar os destinos do Brasil. Basta dar uma facada no abdômen e dificilmente ele escapa da hemorragia que vai se suceder.
As Forças Armadas estão perfiladas no cais do porto para dar boas-vindas aos batalhões que chegam da missão no Nordeste. O próprio ministro da Guerra está presente para receber os soldados. O presidente também comparece, afinal a vitória acontece durante o seu período de governo. Bispo se aproxima e dá uma facada com toda a sua força. Ela é endereçada a Prudente de Morais, o primeiro civil a ocupar a presidência da República desde o golpe que implantou o regime militar. O ministro Carlos Machado Bittencourt observa o movimento, se atraca com o agressor e recebe várias punhaladas. O segurança do presidente, coronel Mendes de Morais, consegue imobilizar Bispo que é levado para uma dependência do quartel. Bittencourt não resiste à facada e morre nos primeiros socorros. Mendes de Morais é atendido no hospital militar com alguns ferimentos.

Bispo, ou Marcelino Bispo de Miranda, era um soldado do batalhão de infantaria e, segundo depoimentos dos jornais, era contra a política liberal do governo. Poucos meses depois foi encontrado morto em uma cela onde aguardava julgamento pela morte do seu superior. Há uma comoção nacional, mas não impede que Prudente volte para São Paulo e passe o governo para o sucessor Campos Sales.

Heródoto Barbeiro é editor chefe e âncora do Jornal da Record News em multiplataforma

 

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