Dionéia Martins/Mato Grosso do Norte
Por alguns segundos, tudo fica em silêncio. O foguete aponta para o céu, a base treme, o vinagre encontra o bicarbonato — e a mistura que, normalmente, só lembraria um experimento de escola primária, ganha proporções de ciência, tecnologia e esperança. Em poucos instantes, o foguete sobe, corta o ar e, no retorno à terra, libera milhares de sementes sobre a área degradada da Saracura II, no Bairro Jardim Europa.
O cenário poderia ser de um laboratório avançado ou de uma competição aeroespacial, mas acontece no coração de Alta Floresta, conduzido por três jovens do 3º ano da Escola Estadual Militar Dom Pedro II: Maria Eduarda Korzekwa, Kethlin Cristina Antonioli e Angelo Pilger. Eles comandam, ao lado da professora Alcione Lidiane Alberguini e do coordenador Rafael, o projeto Reverdecendo o Céu — uma iniciativa que une física, floresta e uma vontade enorme de fazer diferente.
A ação é realizada em parceria com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente, dentro do Programa Adote uma Nascente, e tem apoio financeiro da Fapemat. O objetivo é ousado: usar foguetes como ferramenta para restaurar uma das áreas mais sensíveis do município, a região da nascente Saracura II.
Enquanto muitos países investem milhões em foguetes que buscam novos planetas, os estudantes de Alta Floresta usam garrafas retornáveis, tubos de doces infantis e muita criatividade para algo que é urgente: reflorestar o que já existe. “Esses meninos já competem com foguetes há quatro anos. Foram duas vezes para o Rio de Janeiro, representando a escola. Mas agora eles perceberam que a tecnologia que dominam também pode servir ao bem social”, conta orgulhosa e acrescenta “eles são muito disciplinados e responsáveis”.
O projeto começou há pouco mais de quatro meses. Desde então, a equipe já desenvolveu diferentes modelos de foguetes, testou bases, estudou resistência de materiais e ajustou o mecanismo de dispersão. O foco não era mais apenas alcançar altura — mas lançar vida. Hoje, a área da Saracura II já apresenta as primeiras mudas germinando a partir das sementes lançadas. Pequenos brotos que confirmam: a ideia funciona.
Para os estudantes, o projeto não é apenas um experimento escolar — é uma transformação pessoal. Kethlin, apaixonada declarada por física, fala com o brilho de quem encontrou um propósito. “A gente sempre foi muito dedicado.
Desde o primeiro contato, foi paixão na certa. Ver o foguete subir, fazer tudo funcionar e depois voltar e encontrar as plantas nascendo... é uma gratificação enorme. É um processo delicado, demorado, mas quando dá certo, é uma satisfação que nós três divinos”.
Os estudantes compartilham a mesma visão: o foguete, que antes era só esporte e competição, ganhou um novo significado. Agora ele é instrumento de impacto ambiental — e também de futuro.
Com a formatura chegando, o trio se despede do ensino médio, mas não do projeto. Uma nova geração de alunos já começa a ser treinada para dar continuidade às próximas etapas, também orientada pela professora Alcione com a missão de criar foguetes biodegradáveis.
foto/ reprodução
Foguetes que plantam e uma escola que inspira
A Escola Militar de Alta Floresta já coleciona títulos em competições de foguetes, mas, desta vez, a conquista tem outro peso. Não é medalha, pódio ou certificado.
É a possibilidade real de recuperar áreas degradadas, proteger nascentes e mostrar aos estudantes que ciência não está distante da vida — ela pode transformar o lugar onde se vive. Reverdecendo o Céu é um nome literal: o que sobe como um foguete, desce como floresta. E os céus de Alta Floresta, aos poucos, vão aprendendo a devolver vida ao chão.









