José Vieira
Mato Grosso do Norte
Passaram-se 47 anos desde a fundação de Alta Floresta pelo colonizador Ariosto da Riva, considerado o último bandeirantes do século “20”. No entanto, ainda restam alguns desbravadores, verdadeiros heróis que enfrentaram aquele período inóspito, de desafios, riscos e perigos iminentes, como as doenças [malária] e animais como cobras e onças.
Seu Salvador da Silva, morador da comunidade Guadalupe, que chegou em Alta Floresta em 1º de agosto de 1977, é um desses heróis que teve a coragem de sair de sua cidade de origem, Altônia (PR) e vir com a família tentar a sorte em Alta Floresta.
Aos 75 anos, pai de 9 filhos, sendo 8 homens e uma mulher, seu Salvador é casado há mais de 50 anos com dona Célia Alves da Silva e mora em sua propriedade rural na comunidade Guadalupe. Ao aportar na nova terra, ele tinha 6 filhos. Os demais, três homens, nasceram em Alta Floresta.
Religioso, Seu Salvador estava presente na primeira missa celebrada pelo padre Geraldo na comunidade Guadalupe embaixo de um barraco de lona.
Seu Ariosto da Riva alertou os colonos que havia minérios nas florestas da região e orientou para que fizessem a abertura das propriedades
E relembra os anos difíceis que ficaram para traz, mas diz que Alta Floresta é “sua terra prometida”, e que superou as dificuldades e escreveu sua história com muito trabalho e perseverança.
“Alguns companheiros que chegaram comigo, quando viram que só tinha mata, me chamaram para voltar para traz. Eu respondi que vim para cá para criar a família e não iria voltar”, conta.
Quando chegou à Alta Floresta, Seu Salvador, para sustentar a família e ganhar a vida, se transformou em empreiteiro. Pegava grandes derrubadas, de muitos alqueires, contratava a peãozada e seguia para a floresta. Enormes árvores eram postas ao chão.
Ele relembra que, nesta época, Seu Ariosto da Riva alertou os colonos que havia minérios nas florestas da região e orientou para que fizessem a abertura das propriedades.
“Procurem derrubar pelo menos um pouco! Castanha, deixa em pé, nas proximidades das águas, deixa a mata de pé e onde tiver serra também não é para derrubar. E plantem café, Cacau, arroz, feijão e milho. Tem que cuidar da propriedade porque aqui tem minério e o garimpeiro invade”, disse, segundo ele, Seu Ariosto.
E como havia dito o colonizador, em um certo dia, amanheceram 20 mil garimpeiros dentro de Alta Floresta e a cidade que era tranquila até então, se transformou em um tumulto. Ele conta que por todos os lugares e nas varandas das casas, o que se via eram as redes armadas dos garimpeiros, até que os mesmos foram para as florestas, na aventura em busca do ouro.
A cidade seguiu o seu curso. Porém, Salvador destaca que o Padre Geraldo foi uma importante personalidade, que marcou o início da colonização de Alta Floresta. “Se não fosse ele, muitas famílias teriam voltado. Quando as famílias chegavam começavam a ser picada pelos mosquitos. Era desesperador. E o padre Geraldo chegava e trazia uma mensagem de esperança para as pessoas, fazia uma oração e foi a fonte de segurança para os pioneiros. Da mesma forma, o Seu Ariosto que dava muita assistência para as famílias”, relembra.
Bioenergético - Com o passar dos anos Salvador enfatiza que descobriu que na floresta poderia estar os remédios para as muitas doenças que acometiam a população, especialmente os mais pobres, que, gastavam tudo o que possuíam nos hospitais da cidade, quando ficavam enfermos.
Orientado pelo Padre Geraldo, ele e sua esposa fizeram um curso para atender a população com o método do Bioenergético, famoso araminho [tratamento que usa chás com plantas naturais para tratar às doenças].
“Comecei a entender que estava fazendo tudo errado em cada árvore que eu derrubava. O grande incentivador e quem começou este trabalho com o ‘Araminho’ aqui foi padre Geraldo. Foi ele que me incentivou a fazer o curso com um Padre chamado Renato, que veio para ensinar as pessoas a fazer o atendimento em Alta Floresta, Carlinda e região”, conta.
Apesar da resistência dos médicos, que eram contra este sistema de tratamento, com o apoio dos padres, o araminho se popularizou e a procura começou a ser muito grande por parte das pessoas de várias regiões como alternativa de atendimento no tratamento das doenças.
Hoje, passados 30 anos, Alta Floresta vive um novo momento histórico. E Salvador segue atendendo a uma grande quantidade de pessoas que o procuram semanalmente.