Josana Salles
Fonte: Fundação Ecológica Cristalino
Mesmo depois de décadas de colonização, a cidade de Alta Floresta, situada na Amazônia Legal ainda possui muitos fragmentos de mata amazônica na zona urbana e rural. As áreas verdes ainda abrigam grande número de espécies da fauna, muitas delas endêmicas. No entanto, a cidade tem enfrentado um problema diário em suas vias públicas e estradas vicinais: o atropelamento de animais silvestres.
Os registros aumentam a cada dia, não só de atropelamentos como também de animais perambulando pelas ruas. Preocupados com essa realidade instituições públicas e não-governamentais se uniram com o propósito de encontrar soluções para reduzir os acidentes. No próximo dia 25 de outubro, a Prefeitura Municipal de Alta Floresta, a Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT) e a Fundação Ecológica Cristalino (FEC) e parceiros realizam evento aberto à comunidade no Museu de História Natural de Alta Floresta às 19 horas.
Serão ministradas duas palestras sobre o assunto. O professor da UNEMAT, Mahal Massavi Evangelista apresentará dados sobre a mortandade de animais silvestres nas principais vias de acesso de Alta Floresta com o título: “A fauna de Alta Floresta pede passagem”.
Mahal é membro do Laboratório de Zoologia e da Coleção Zoológica da UNEMAT - Campus Alta Floresta que recebe voluntariamente doações de carcaças de animais que tenham morrido em acidentes no perímetro urbano de Alta Floresta. Os animais atropelados são utilizados em atividades didáticas de ensino, pesquisa e extensão. Entre os meses de março de 2022 a setembro de 2023, foram doados ao laboratório 65 animais silvestres atropelados.
A segunda palestra será proferida pela bióloga Fernanda Abra. Mestre em Ecologia de Ecossistemas Terrestres e Doutora em Ecologia aplicada pela USP e, atualmente é pesquisadora posdoc associada ao Centro de Conservação e Sustentabilidade do Smithsonian em Washington DC, Estados Unidos.
É sócia-diretora da ViaFAUNA e desde 2014 já coordenou mais de 50 projetos de mitigação de atropelamento de fauna em rodovias e ferrovias no Brasil.
Durante sua palestra “Atropelamentos da Fauna Silvestre de Alta Floresta” a bióloga apresentará dados sobre os graves acidentes nas estradas envolvendo motoristas e animais da fauna silvestre
e medidas mitigadoras implantadas em vários lugares do Brasil. “A prevenção de colisões com a fauna é uma forma de proteger animais e pessoas. O trânsito e as estradas precisam ser seguras para todos”, alerta.
“Com certeza podemos dizer que o atropelamento de animais silvestres é a principal causa de perda crônica de fauna no Brasil, junto com a caça ilegal e o tráfico de animais”, diz Fernanda Abra, vencedora do Prêmio Future for Nature Awards 2019, um dos mais importantes do mundo para iniciativas voltadas à proteção de animais silvestres.
Abra explica que essa retirada em grande quantidade de animais da natureza tem impacto ainda maior em espécies em risco de extinção, de reprodução lenta – que não aguentam fortes pressões do meio externo – e aquelas consideradas topo de cadeia, das quais muitas outras dependem para sobreviver.
Entidades se unem para encontrar soluções
O grupo criado para discutir os problemas em relação a fauna silvestre de Alta Floresta e soluções é uma iniciativa colaborativa entre diferentes instituições, tais como: 7ª Companhia Independente Bombeiros Militar - 7ª CIBM - Alta Floresta, Diretoria Regional de Alta Floresta - SEMA/MT, Unidade Técnica do IBAMA de Alta Floresta, Aeroporto de Alta Floresta/COA, UFMT – Campus Sinop, Instituto Ecótono, UNEMAT/AFL, Via Brasil, Fazenda Anacã, vereadora Ilmarli Teixeira, Conselho Municipal de Meio Ambiente - COMDEMA e Defensoria Publica do Estado de Mato Grosso.
Objetivo inicial é desenvolver ações de sensibilização da população e outras ações como a instalação de redutores de velocidade, placas educativas, passagens inferiores em forma de túneis, e superiores de fauna que possibilitem a travessia segura de animais e a reconexão de áreas verdes.
O que se sabe é que a maioria dos atropelamentos de fauna em todo o Brasil acontece à noite, por causa de hábitos noturnos de muitas espécies e a falta de visibilidade do motorista.
A secretária municipal de Meio Ambiente, Gercilene Meira lembra que Alta Floresta foi construída dentro da floresta amazônica e “ainda existem vários fragmentos de mata nativa dentro do município. São corredores verdes onde muitos animais trafegam entre eles”, disse. Gercilene ressalta que a proposta é fazer um esforço conjunto para conscientização da população.
“Sabemos que acidentes acontecem. Mas é importante entender que podemos diminuir, e muito, as colisões veiculares e nossa fauna. Até porque os motoristas correm risco de vida quando os acidentes envolvem a fauna em geral” disse a secretária municipal de Meio Ambiente, Gercilene Meira.
As instituições e a proteção da fauna silvestre
Atualmente, a 7ª Companhia Independente Bombeiros Militar - 7ª CIBM - Alta Floresta tem como atribuição fazer o resgate da fauna urbana e rural. Os chamados são feitos via 193 e por demais instituições e a média de solicitações é de 1 atendimento por dia. Os resgates mais comuns são de: aves, cobras, macacos e outros mamíferos.
A Diretoria Regional de Alta Floresta - SEMA/MT, recebe uma média de 5 animais silvestres por mês, na maioria aves. São encaminhados por pessoas na maioria da zona rural. Os animais machucados são encaminhados para o Hospital Veterinário da UFMT de Sinop. Os demais, (aves) passam por médico veterinário e depois encaminhados para reintrodução.
A Unidade Técnica do Ibama de Alta Floresta MT que também tem a atribuição de proteger a fauna silvestre é acionada em média uma vez por semana para atender casos de animais silvestres no meio urbano.
No caso de Mato Grosso, falta estrutura para receber animais e é um dos poucos estados do Brasil que não possui um Centro de Triagem de Animais Silvestres - CETAS.
“Negar a necessidade de implementação de medidas eficazes de redução de colisões veiculares com fauna, é assumir que vamos perder onças, tamanduás, antas, papagaios, e muitos outros representantes da nossa biodiversidade”, diz o coordenador da Fundação Ecológica Cristalino – Fec, Lucas Eduardo Araújo Silva.