Quinta-feira, 21 de Agosto de 2025

Atualidades Quinta-feira, 21 de Agosto de 2025, 17:10 - A | A

21 de Agosto de 2025, 17h:10 - A | A

Atualidades / conscientização

Peça "Re-Cortes" emociona e provoca reflexão em Alta Floresta no Agosto Lilás

Baseada em uma história real, peça comove plateia e reforça a importância da denúncia, do acolhimento e da educação no combate à violência contra a mulher.



Dionéia Martins/Mato Grosso do Norte

Em um mês marcado pela luta contra a violência de gênero, o palco do Teatro Agostinho Bizinoto se transformou em espaço de denúncia, emoção e esperança. Na última quinta-feira (21), a peça "Re-Cortes", da companhia cuiabana Cia Vostraz, foi apresentada em três sessões para estudantes de escolas públicas municipais e estaduais. Mais do que um espetáculo, a encenação trouxe à tona o grito sufocado de tantas mulheres vítimas de violência doméstica.

A iniciativa integra as ações do Agosto Lilás, mês dedicado à conscientização pelo fim da violência contra a mulher, e foi viabilizada com do recursos Conselho Municipal de Segurança Pública de Alta Floresta (COMSEP/AF) em parceria com do Promotoria Pública, o Conselho Municipal dos Direitos da Mulher, Prefeitura Municipal e outras instituições locais. O objetivo: formar multiplicadores do diálogo, capazes de levar a discussão para dentro de suas casas, suas escolas e seus círculos sociais.

A arte que transforma
Dirigida e protagonizada por Fernanda Costa, que também é produtora da peça, "Re-Cortes" é mais que teatro — é autobiografia. No palco, ela interpreta Marina, uma mulher marcada pela dor da violência, mas também pela força de reconstruir sua vida.

"Eu nunca imaginei que teria a oportunidade de contar a minha história para outras pessoas", compartilhou a atriz ao final da apresentação. "O que eu faço hoje com essa peça é mostrar que sim, existe um futuro. Hoje pode não fazer sentido, mas amanhã faz. É preciso não desistir."

A emoção da plateia, composta majoritariamente por jovens, era visível. Muitos se emocionaram, choraram e refletiram. "É uma peça que toca, que provoca. E é isso que a gente precisa: provocar a reflexão", disse a vereadora Elisa Gomes, responsável por articular a vinda da peça a Alta Floresta. “Enquanto nós não mudarmos essa realidade, essa é uma pauta de resistência”, completou.

 Números que preocupam
O promotor de Justiça Guilherme da Costa destacou a gravidade do problema no município: 37% dos processos criminais em Alta Floresta estão relacionados à violência doméstica ou contra a mulher.

"É um número muito alto, e isso mostra que o agressor não afeta apenas a vítima. Ele compromete todo o sistema de segurança pública", afirmou. O promotor também ressaltou que a violência doméstica retira o efetivo das ruas, porque policiais precisam acompanhar e proteger mulheres ameaçadas — o que evidencia o impacto coletivo do problema.


 

Por outro lado, ele celebrou avanços recentes, como a obrigatoriedade da participação de agressores em palestras educativas sobre medidas

promotor de Justiça Guilherme da Costa, Defensor Público Vinicius Ferrarin Hernandez euiz criminal Tibério de Lucena Batista

 

protetivas. "No primeiro semestre, 65 participaram. Apenas um voltou a descumprir a medida. Isso mostra que ações educativas têm um impacto direto na prevenção", avaliou.

Justiça e sensibilização
Também presente no evento, o juiz criminal Tibério de Lucena Batista ressaltou o papel da Justiça nesse cenário. "Infelizmente, a violência chega até nós quando tudo já aconteceu. E então, precisamos agir, mesmo que não queiramos. Alguém tem que assumir a responsabilidade", disse. Para ele, iniciativas como a peça são essenciais para interromper o ciclo antes que ele chegue ao Judiciário.

A atriz Fernanda Costa reforçou essa ideia com força e emoção. Sobrevivente da violência, ela lembrou a importância da rede de apoio e de pequenas atitudes de atenção no cotidiano. "Não é só uma briguinha de casal. Às vezes, você está vendo uma discussão e acha que é coisa deles... e no dia seguinte, pode ter acontecido uma tragédia", alertou.

Fernanda compartilhou que o que a salvou foi seu filho. “Foi ele quem me motivou a continuar, me encorajou a viver. Quando a gente está nesse lugar de dor, precisa de alguém para lembrar que vale a pena”.
Formação de multiplicadores

A presença dos estudantes foi uma escolha estratégica. Segundo a vereadora Elisa, ao assistir à peça, esses jovens se tornam agentes de transformação. "É fundamental que esse debate chegue às escolas, às rodas de conversa, às famílias. É assim que vamos construir lares mais estruturados no futuro", disse.

Ela concluiu emocionada: “Chorei três vezes hoje. E vi que muitos jovens também choraram. Isso mostra que tocou, que mexeu. E como eu disse, eu quero viver para ver o dia em que possamos olhar para trás e dizer: ‘um dia existiu violência contra a mulher’. Porque isso não é justo com as mulheres, não é justo com as famílias”.

Uma pauta de todos nós

Peça Re cortes

 

O espetáculo "Re-Cortes" não foi apenas uma atividade do Agosto Lilás em Alta Floresta. Foi um chamado. Um convite para olhar de frente uma realidade dolorosa — mas que pode ser transformada com empatia, diálogo e coragem.

Enquanto houver silêncio, haverá violência. Mas quando a arte ocupa o palco, a consciência encontra voz. E, como disse Fernanda Costa, "hoje pode não fazer sentido, mas amanhã faz".

 

Comente esta notícia

Rua Ivandelina Rosa Nazário (H-6), 97 - Setor Industrial - Centro - Alta Floresta - 78.580-000 - MT

(66) 3521-6406

[email protected]