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Caderno B Sexta-feira, 28 de Outubro de 2022, 09:42 - A | A

28 de Outubro de 2022, 09h:42 - A | A

Caderno B / CINCO PERGUNTAS

Longo alcance

Autora de “Travessia”, Glória Perez retorna ao horário nobre disposta a antecipar o debate sobre os prós e contras da tecnologia



POR GERALDO BESSA
TV PRESS

Pela assinatura forte e inconfundível, a Globo e o público sabem bem o que esperar de uma novela de Glória Perez. Sempre apostando em temas de vanguarda, elenco numeroso e culturas diferentes, Glória segue pelo caminho da inovação em “Travessia”, seu décimo terceiro folhetim. “Abordei o início da internet em meados dos anos 1990 na trama de ‘Explode Coração’. Tantos anos depois, a internet mudou o jogo da vida. Agora, faço uma reflexão sobre os conflitos contemporâneos que essa revolução criou”, analisa Glória, do alto de seus 74 anos.

Natural de Rio Branco, no Acre, Glória é historiadora formada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. No final dos anos 1970, trabalhou de forma esporádica na tevê como pesquisadora. A estreia de verdade no vídeo foi sob a batuta de Janete Clair. Em 1983, a experiente autora já estava doente e, pela primeira vez, decidiu contar com a ajuda de uma colaboradora para o texto de “Eu Prometo”. Com o falecimento de Janete durante a exibição do folhetim, Glória acabou tendo de levar a história até o fim. Após uma passagem bem-sucedida pela Manchete, foi na Globo que Glória acabou por construir uma sólida e premiada carreira, que conta com títulos como “O Clone”, “Caminho das Índias” e “A Força do Querer” no currículo. “Minhas novelas são todas feitas a partir da observação da rua. Gosto de ter gente por perto e conversar. É por isso que as pessoas se identificam com grande parte das coisas que crio. Essa conexão com o povo é essencial para qualquer novelista”, avalia.

P – Suas novelas sempre levantam questões e assuntos que ainda não foram abordados na teledramaturgia, como inseminação artificial, os primeiros passos da internet, clonagem, entre outros. O que a levou a abordar as “fake news” em “Travessia”?

R - Em um âmbito geral, minhas novelas são histórias escritas com o intuito de emocionar, envolver as pessoas, divertir e fazer pensar, refletir sobre alguns assuntos. Sempre tenho a preocupação de trazer temas relevantes e que gerem debates e reflexões. O ponto de partida dessa nova história é uma “deepfake” que acaba por transformar radicalmente, em efeito dominó, a vida de algumas pessoas. Falei sobre uma internet embrionária em “Explode Coração” (1995) e agora vou debater os reflexos dessa explosão tecnológica.

P - Como assim?

R - A novela vai tratar de como a internet introduz, no nosso cotidiano, dramas novos, conflitos que as gerações anteriores não viveram e que dão um formato muito novo àqueles crimes que conhecemos desde sempre como a calúnia, a extorsão, o assédio, a chantagem, e tantos outros mais.

P - A trama traz algum ponto positivo sobre o tema também?

R - Com certeza. Embora todas essas questões tenham seus ônus e bônus. Vamos falar da inteligência artificial trazendo grandes benefícios e, ao mesmo tempo, deixando pessoas desempregadas. Também de como as redes sociais, que dão voz a todos e possibilitam encontros inviáveis na vida real, também funcionam como um perigoso mecanismo de controle e abrem portas para novas modalidades de crimes. A internet inaugurou outras maneiras de viver as amizades, os romances e o sexo.

P - Em “Travessia” você retoma sua tática de viajar com suas novelas para o exterior. Como foi a escolha de Portugal?

R - Introduzi Portugal de forma bem diferente do que já fiz em outras novelas. Portugal é a referência de um brasileiro que sai do Brasil para fazer sua vida em outro país, algo que está acontecendo muito. Não vou mostrar a cultura portuguesa dessa vez. O que faz sentido para essa história é que esse personagem, Moretti (Rodrigo Lombardi), que tinha de sair do país, vá trabalhar em outro lugar.

P - “Travessia” é sua primeira novela sob a direção do Mauro Mendonça Filho, com quem você já havia trabalhado apenas na minissérie “Dupla Identidade” (2014). Como está se desenvolvendo essa parceria em um projeto de longa duração?

R - Somos dois loucos acelerados. A pré-produção foi intensa porque ele gosta de trabalhar tanto quanto eu. Adorei a estética que ele deu para o meu texto na série. Quase voltamos a trabalhar juntos depois, mas as agendas não bateram. Agora o trabalho é muito mais extenso e profundo. Estamos os dois muito focados, entregues e felizes com o que estamos criando.

“Travessia” - Globo - de segunda a sábado, às 21h.

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