por Geraldo Bessa TV Press
Luis Melo é um ator de princípios. Mesmo com saudade de fazer tevê – está longe das novelas desde 2018 –, o ator dificilmente voltaria a enfrentar a ponte-aérea entre sua casa, no Paraná, e os estúdios da Globo, no Rio de Janeiro. Não por um personagem qualquer. Convidado para viver o experiente Bartolomeu em “Vale Tudo”, aos 67 anos, Melo se empolgou com a possibilidade de falar sobre etarismo e o amor em tempos de maturidade. “É um assunto muito importante e que atinge todas as áreas. A verdade é que as pessoas estão vivendo mais e precisam produzir, terem seu espaço no mercado de trabalho e serem respeitadas por suas histórias”, avalia.
Paranaense de Curitiba, Melo se descobriu na atuação ainda adolescente. Nos anos 1980, morando em São Paulo e sob a batuta do diretor Antunes Filho, se tornou o nome principal dos prestigiados Grupo Macunaíma e Centro de Pesquisa Teatral. O tom mais alternativo de sua formação não o atrapalhou na hora de ir para a televisão. E mesmo a contragosto de seus parceiros teatrais, encarou um dos papéis centrais de “Cara & Coroa”, sob a direção de Wolf Maya. “Eu tive total apoio da direção e de toda a equipe técnica para este trabalho. Não sabia nem para onde olhar”, diverte-se o ator, que se tornou um dos nomes mais requisitados de sua geração e enveredou por trabalhos de sucesso como “O Cravo e a Rosa”, “A Casa das Sete Mulheres” e “O Auto da Compadecida”. Nos últimos anos, ele vem se dedicando de forma intensa ao Campo das Artes, empreendimento cultural voltado para realizações artísticas das mais diversas expressões. “É o grande projeto da minha vida. Venho construindo esse espaço desde 2008. É um ato de amor e resistência ao que eu acredito como artista”, valoriza.
P – Você ficou sete anos distante dos folhetins. Como encara esse retorno em “Vale Tudo”?
R – Com muita felicidade. Estava com saudades dos estúdios e recebi esse chamado muito carinhoso do Paulo (Silvestrini, diretor) e da Manuela (Dias, autora) para fazer o Bartolomeu. Tenho acompanhado os trabalhos da Manuela na tevê e vi nesse convite uma excelente oportunidade de trabalhar um texto dela e falar sobre algo muito real e urgente, o etarismo.
P – Como o tema se desenvolve?
R – O Bartolomeu é um jornalista reconhecido, com uma carreira legal e que acaba sendo demitido em uma reformulação da empresa onde trabalhava. Não só ele é mandando embora, mas todos os colegas de geração. Esse tipo de movimento acontece em todos os lugares e é muito nocivo. Até porque, a expectativa de vida aumentou, pessoas maduras precisam e têm total capacidade de trabalhar.
P – Como você enxerga o etarismo na tevê?
R – A verdade é que a televisão se preocupa tanto com os núcleos mais jovens das tramas que esquece de fazer personagens interessantes para os atores com mais de 60 anos. Quando tem, é um ou dois papéis e pronto. Fico feliz em ver meus amigos mais experientes brilhando no vídeo e acredito de verdade na mistura entre novos e antigos talentos para que as produções realmente sejam bem sucedidas.
P – “Vale Tudo” também aborda o amor na maturidade na relação do seu personagem com a Eunice (Edvana Carvalho). Como é essa parceria?
R – Incrível. Eu conhecia e admirava a Edvana do teatro e do cinema. Nossa interação tem sido muito bonita, ambos comprometidos com a mensagem importante que esse casal carrega, onde ambos precisam se reinventar individualmente e ainda assim manter o equilíbrio a dois.
P – Você chegou a ver a primeira versão de “Vale Tudo”?
R – Sou um grande fã do Cláudio Corrêa e Castro, que interpretou o personagem originalmente. Mas na época da novela, eu estava totalmente mergulhado no teatro, nos estudos e projetos do Centro de Pesquisa Teatral, o CPT, do Antunes (Filho). Busquei algumas coisas agora e me deu muita saudade do Cláudio, que é uma figura fundamental para a minha formação como ator.
“Vale Tudo” – Globo – de segunda a sábado, às 21h.