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Política Segunda-feira, 11 de Setembro de 2017, 00:00 - A | A

11 de Setembro de 2017, 00h:00 - A | A

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Filho de Silval diz que entregou carros de luxo como propina a deputados



Celly Silva, repórter do GD

 

O filho do ex-governador Silval Barbosa (PMDB), Rodrigo Barbosa, contou em sua delação premiada que no final de 2015, no período em que seu pai já estava preso e se aproximava o julgamento das contas de gestão referente a 2014, pagou propina a deputados estaduais que eram membros da comissão que julgou as contas na Assembleia Legislativa. Ele, inclusive, afirma que entregou 3 carros de luxo como caução, antes de entregar valores em dinheiro vivo.

Naquela época, Rodrigo conta que foi procurado por um homem identificado como Antônio Gois, conhecido como Gois, que pertenceria ao grupo político do deputado estadual Silvano Amaral (PMDB), que foi até seu escritório e marcou uma reunião entre Rodrigo e Silvano para aquele mesmo dia.

No encontro, que aconteceu a noite, Silvano Amaral teria reclamado a Rodrigo que Silval Barbosa não o havia ajudado durante a campanha eleitoral de 2014 e pedido a quantia de R$ 200 mil para conceder voto favorável na comissão que iria julgar as contas do ex-governador.

Rodrigo Barbosa teria dito ao deputado que precisava pensar e não deu resposta imediata, ficando Gois como intermediador das conversas. No dia seguinte, Rodrigo falou para o assessor parlamentar que queria conversar com Silvano e os demais membros da comissão, os deputados, em especial Wagner Ramos (PSD), que era o relator.

Ambos teriam se encontrado em uma padaria em Cuiabá. O deputado teria chegado dirigindo um Corolla prata e Rodrigo entrou no carro, onde ambos conversaram. Segundo Rodrigo, Wagner Ramos teria exigido a quantia de R$ 400 mil para emitir parecer favorável à aprovação das contas da gestão de Silval Barbosa em 2014. Rodrigo, por sua vez, teria oferecido como contraproposta o valor de R$ 250 mil, mas o deputado não aceitou.

Conforme a delação, no dia seguinte, o deputado estadual Romoaldo Júnior (PMDB) teria entrado em contato com Rodrigo e dito que queria conversar sobre o voto de Wagner Ramos. Naquele período, Silvano Amaral estaria pressionando dizendo que pediria vistas do processo, com o objetivo de adiar e tumultuar o caso, “no intuito de receber a propina exigida”

Encontro no estacionamento

Depois da conversa com Romoaldo Júnior, Rodrigo Barbosa e seu tio Antônio Barbosa teriam ido até o estacionamento da Assembleia Legislativa, onde se encontraram com Romoaldo Júnior, que teria relatado que estava organizando tudo dentro da Casa e que Rodrigo deveria “acertar” apenas com Wagner Ramos.

No entanto, Rodrigo destacou que “não era bem assim” porque estava sendo cobrado por Silvano Amaral e por Zé Domingos Fraga. Na ocasião, Romoaldo Júnior teria chamado seu então assessor Francivaldo Mendes Pacheco, conhecido como Dico, chamasse Wagner Ramos.

Ramos atendeu ao pedido e foi até o estacionamento, onde entrou no carro de Rodrigo Barbosa. Romoaldo Júnior teria dito para ambos acertarem o valor e as datas. Wagner Ramos teria dito que já tinha três meses que estavam naquela negociação sem nada resolver.

Diante do impasse, Rodrigo Barbosa relata que Romoaldo Júnior teria sugerido que Rodrigo Barbosa “levantasse dinheiro em algum lugar ou emitisse cheque”, mas o filho de Silval teria dito que somente faria o pagamento depois do parecer favorável na comissão de julgamento de contas.
Wagner Ramos teria dito que estava tudo acertado e cobrado a quantia de R$ 250 mil para si, R$ 200 mil para Silvano Amaral e outros R$ 200 mil para José Domingos Fraga.

No dia da votação, Rodrigo Barbosa relata que mesmo nunca tendo conversado com Fraga sobre o tema, este se afastou porque não queria se indispor com o atual governo, uma vez que estava pressionando para que a comissão reprovasse as contas de Silval e que no lugar dele, entrou o deputado Baiano Filho (PSDB).

No final, as contas de Silval foram aprovadas por três votos favoráveis contra dois votos contrários às contas de gestão de 2014. Os três votos favoráveis teriam partido de Wagner Ramos, Silvano Amaral e Baiano Filho e os dois desfavoráveis foram dos deputados Eduardo Botelho e José Carlos do Pátio.

Conversa gravada

Conforme a delação de Rodrigo Barbosa, a conversa que ocorreu dentro de seu carro no estacionamento da AL com a presença dele, seu tio, Wagner Ramos e Romoaldo Júnior foi gravada por meio de um aplicativo no celular de Antônio Barbosa.

Após a aprovação das contas de gestão, o assunto foi para votação no Plenário da Assembleia e Rodrigo passou a acompanhar o cumprimento do acordo. Em janeiro de 2016, ele relata que efetuou os pagamentos a Wagner Ramos, Silvano Amaral e José Domingos Fraga com dinheiro que seu tio conseguiu durante uma viagem a Matupá, no montante de R$ 650 mil.

Inicialmente, Rodrigo teria repassado três automóveis para os parlamentares: uma L200 Triton, uma Toyota Hillux SW4 e um Audi Q3. Cópias dos documentos dos veículos foram entregues pela de Rodrigo Barbosa ao Ministério Público Federal.

Os automóveis teriam sido entregues pessoalmente por Rodrigo a Gois, na residência deste, em datas diferentes. Ele não sabe dizer como se deu a divisão dos veículos entre os parlamentares.

Após algum tempo, os deputados teriam devolvido os carros e recebido as propinas em dinheiro, que foi repassada de Antônio Barbosa a Rodrigo Barbosa, que por sua vez, repassou os valores em espécie para Gois.

Outro lado

 

o deputado Romoaldo Júnior disse negou ter recebido qualquer vantagem indevida em troca de apoio na votação das contas de Silval Barbosa. Ele destacou que era líder do antigo governo no Parlamento e admitiu que organizou um movimento para aprovação das contas de gestão por achar injusto a rejeição das contas, uma vez que o parecer do Tribunal de Contas do Estado (TCE) era favorável. “Achei injusto rejeitar as contas dele até porque o parecer do TCE era favorável. Ele já tinha problemas demais àquela altura. Nunca pedi nada em troca”, disse. 

m relação à propina, Romoaldo afirma que em nenhum momento foi citado como beneficiário na delação de Rodrigo Barbosa, mas apenas como intermediados das conversas com Wagner Ramos, que era o relator. “Ele [Rodrigo] pediu pra conversar com o Wagner Ramos. E eu pedi pro Wagner atende-lo”.

O deputado Silvano Amaral negou ter tido qualquer conversa relacionada à aprovação de contas de gestão com Rodrigo Barbosa. “Nunca ouve discussão, burburinho, nem fuxico sobre isso. Nunca fugi da imprensa, nunca fugi das discussões, estou à disposição. Eu estou sabendo a maior parte dessas delações através da imprensa. Não tenho conhecimento de todo o processo”, disse.

O parlamentar afirma que a única vez que conversou com Rodrigo Barbosa foi sobre uma venda de imóvel em Sinop. “Nunca fui no apartamento do Rodrigo, nunca estive com ele. Eu estive tratando com ele e também com o Toninho em relação àqueles terrenos que ele tinha em Sinop. Ele falou pra mim que queria vender, mas eu tinha uma proposta que uma empresa de Sorriso fez pra ele. Eu tenho todo esse documento que mostra que a relação que eu tive com o Rodrigo e com o Toninho foi pra tratar do assunto dessa venda dos imóveis que ele tinha em Sinop, perto do aeroporto de Sinop que ele tinha pra vender”, explicou

A reportagem tentou contato com o deputado José Domingos Fraga, mas sem sucesso. O deputado Wagner Ramos disse que está em viagem e não podia falar até o fechamento desta matéria. 

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