por Geraldo Bessa
TV Press
Stepan Nercessian conta que vai vivendo, sem planejar muito. Em alguns momentos, se surpreende com a plenitude de um protagonista, como no filme, musical, especial e microssérie onde deu vida ao velho-guerreiro Chacrinha. Em outros, fica sete meses sem convites de trabalho. No ar em “Éramos Seis”, onde vive o delegado Gusmões, Stepan se mostra feliz por estar na ativa, mesmo que seja com um personagem aquém de seu extenso currículo. “Não tem muito segredo em viver um delegado. Apenas ajudo a contar a história e me divirto por estar entre amigos queridos”, conta, entre risos.
Natural da pequena cidade goiana de Cristalina, Stepan chegou ao Rio de Janeiro no final dos anos 1960 disposto a ser um astro do cinema. Com filmes clássicos como “Marcelo Zona Sul”, “A Rainha Diaba” e “Xica da Silva” nas costas, ele também conquistou a tevê. Só na Globo, onde desenvolveu a maior parte da sua carreira, participou de ao menos um grande sucesso em cada uma das cinco décadas de carreira, em títulos como “Bandeira 2” - sua estreia, de 1971 -, “Vale Tudo”, “Mulheres de Areia” e “Cobras & Lagartos”. Mais recentemente, paralelamente aos compromissos com Chacrinha, se dedicou a séries como “Magnífica 70”, da HBO, e a incensada “Sob Pressão”, série global derivada do filme homônimo de Andrucha Waddington. “Já fiz de tudo um pouco na tevê. Fico feliz de ter voltado a fazer novelas e agora a ideia é emendar umas três. Vamos ver o que vai acontecer. Quero comemorar porque é o ano em que completo 50 anos no vídeo”, avisa, com a risada rouca que lhe é peculiar.
P - “Éramos Seis” marca sua volta às novelas 13 anos depois de “Cobras & Lagartos”. Estava cansado do formato?
R - Pior que não (risos). Sabe quando as coisas vão acontecendo e de repente o tempo passa? Foi exatamente por aí. Eu funciono por convites. Durante esses anos, fiz séries na HBO, GNT, Multishow, Canal Brasil, além de trabalhos na própria Globo também. No meio do caminho, o papel do Chacrinha caiu no meu colo e rendeu musical, enredo de Carnaval, filme, especial e série. Estava longe das novelas, mas trabalhando muito.
P - Você, inclusive, pediu para sair de “Sob Pressão” para reviver o “Cassino do Chacrinha” na Band, mas o projeto acabou cancelado. O que aconteceu?
R - Eu fiquei muito feliz com esse projeto. Daria uma sobrevida ao personagem e ainda teria meu programa solo na tevê aberta. Entretanto, a Band montou tudo, mas não tinham o direito de imagem do Chacrinha. Desfizemos o contrato amigavelmente para ninguém sair perdendo.
P - Se arrepende de ter saído de uma série tão elogiada?
R - Eu amava fazer “Sob Pressão”. Aliás, adoro fazer tudo o que o Andrucha (Waddington) me confia. São coisas da vida. Fiquei sete meses sem emprego, já estava ficando meio mal e surgiu o convite para “Éramos Seis”. É uma novela de época linda e muito bem-feita. Fiquei feliz por lembrarem de mim para viver o delegado Gusmões.
P - Como foi o retorno?
R - Bem tranquilo. Decoro meu texto e vou gravar. Como meu personagem é um delegado, ele não tem muita história, apenas ajuda a contar o enredo. Estou na tevê há 50 anos e novela é assim mesmo: uma hora aparece um personagem cheio de nuances e conflitos, mas também é preciso lidar com papéis com menos destaque. Quero emendar umas três agora (risos).
P - Aos 66 anos, como avalia a qualidade dos personagens para os atores mais experientes?
R - Acho que estão bons. Venho de dois trabalhos ótimos. Já passei por todas as fases da carreira. Fiz mocinhos e vilões, depois passei para o herói maduro e o tiozão gaiato. Agora é hora de fazer os avôs e farei com toda dedicação. Amo o que faço, já cansei algumas vezes, investi na vida política, fui sindicalista, comandei escola de samba, mas ser ator é a minha base. É pra onde eu sempre volto.
“Éramos Seis” - Globo - de segunda a sábado, às 18h20.