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Variedades Quarta-feira, 11 de Setembro de 2019, 00:00 - A | A

11 de Setembro de 2019, 00h:00 - A | A

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Setembro Amarelo | Psicóloga fala da importância da prevenção e conscientização do suicídio



Reportagem
Mato Grosso do Norte

Mato Grosso do Norte entrevistou a Psicóloga Fernanda Ferreira de Sá, Especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental, que fala sobre a importância da campanha Setembro Amarelo [de prevenção e prevenção do suicídio] e o diálogo sobre o tema, principalmente entre os jovens. 

MTN - No mês de setembro é realizado a campanha nacional “Setembro Amarelo”, que visa a prevenção do suicídio. Qual a importância desta campanha? 
F -Mesmo com tantos casos, ainda existe o tabu, uma barreira para falar sobre o problema, então a campanha do Setembro Amarelo foi criada com o intuito de levar informações para todos as pessoas sobre o suicídio, o que é uma prática normalmente motivada pela depressão, principalmente pelos adolescentes e adultos jovens. A importância desta campanha é a conscientização sobre a prevenção do suicídio, alertando a população e a melhor forma é através de diálogos e discussões que abordam o problema.
MTN - Falar sobre o suicídio, principalmente para jovens, ainda é um tabu. O que deve ser feito para mudar esse quadro? 
F - A melhor forma de mudar esse quadro é através de diálogos e discussões sobre o assunto, no mês de setembro são realizadas ações a fim de sensibilizar a população e também os profissionais da área, fazendo-os entender que isso também é uma questão de saúde pública. Infelizmente para muitos, o suicídio ainda não é visto como um problema de saúde, mas sim uma espécie de fraqueza de conduta ou personalidade.
MTN - As famílias que notarem algum comportamento diferente nos filhos, a quem elas devem procurar e o que elas podem fazer? 
F - Os pais devem sempre ter diálogo com seus filhos. Identificando qualquer ideação suicida, eles precisam buscar profissionais como psicólogo e psiquiatra, os acompanhamentos médicos e psicológicos são as maneiras mais eficazes de tratamento. Enquanto pais, eles podem ouvir, demonstrar empatia, ficar calmo, ser afetuoso, dar o apoio necessário, levar a situação a sério e verificar o grau de risco, explorar outras saídas para além do suicídio, identificando outras formas de apoio emocional, remover os meios para o suicídio, permanecer ao lado da pessoa, procurar entender os seus sentimentos sem diminuir a importância deles, demonstrar preocupação e cuidado constantes.
MTN - No ambiente escolar, é importante que os professores fiquem atentos ao comportamento dos alunos. Neste quesito, tem algum treinamento ou orientação para a esses profissionais da educação? Você acredita ser importante que eles também possam atuar na prevenção ao suicídio? 
F - Sim, eu acredito. É muito importante que esses profissionais atuem na prevenção. Segundo a Organização Mundial de Saúde, 90% dos casos de suicídio entre os adolescentes podem ser evitados através de ações de prevenção. A escola é o espaço no qual crianças e adolescentes vivem grande parte de suas vidas, é essencial que se fale sobre suicídio e outros potenciais desencadeadores, como bullying, depressão, abuso de drogas e violência doméstica, de maneira constante para que se desmitifique o tabu que ronda a temática. O trabalho pedagógico deve envolver os pais, levar em conta o contexto de vida de cada aluno e se concentrar em atividades que promovam a interação, o acolhimento socioemocional e a criação de uma cultura da paz. 
MTN - O suicídio é mais comum entre jovens, porque acontece mais nesta faixa etária? 
F - As estatísticas do Sistema Único de Saúde (SUS) mostram que os casos subiram 12% em cinco anos no Brasil. Entre os adolescentes de 10 a 19 anos, o aumento foi de 18%. Nessa idade, eles estão enfrentando as primeiras frustrações. O problema é normalmente associado a fatores como depressão, abuso de drogas e álcool, além das chamadas questões interpessoais - violência sexual, abusos, violência doméstica e bullying.
MTN - O suicídio atinge todas as classes sociais, por este motivo, pode se dizer que é um problema de saúde pública? 
F - O suicídio deve ser tratado como questão de saúde pública sim, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o ato está entre as dez causas de morte mais frequentes em muitos países do mundo. No Brasil, são registradas 10 mil mortes por ano, com uma taxa de 4,8 a cada 100 mil habitantes.
MTN - Existe alguma maneira de se prevenir, principalmente entre os familiares, sobre o suicídio? 
F - A grande maioria das mortes por suicídios entre os adolescentes podem ser evitadas e a atenção e o diálogo sobre o assunto são a melhor maneira de se prevenir. 
MTN - Como identificar que uma pessoa tem tendência suicida? 
F - A pessoa que apresenta tristeza excessiva e falta de vontade para estar com outras pessoas; alteração repentina do comportamento como o uso de roupa muito diferente do habitual, por exemplo; tratar de vários assuntos pendentes ou fazer um testamento; demonstrar calma ou despreocupação depois de um período de grande tristeza ou depressão e fazer ameaças frequentes de cometer o suicídio. Esses sinais não podem ser considerados isoladamente, não tem uma “receita” para detectar, mas seguramente uma pessoa em sofrimento pode dar certos sinais, que devem chamar a atenção de seus familiares e amigos próximos, ainda mais se muitos desses sinais se manifestam ao mesmo tempo.
MTN - Em Alta Floresta existe algum grupo ou pessoas que atendem as famílias?
F - Na cidade contamos com o CAPS (Centro de Atenção Psicossocial), CEM (Centro de Especialidades Médicas) onde há atendimentos psicológicos e psiquiátricos, CRAS (Centro de Referência de Assistência Social).
MTN - Na sua opinião, qual o trabalho que deve ser feito para mudar os índices de suicídio? 
F - O suicídio é uma ocorrência multifatorial e, por isso, deve ser combatido de diversas formas. Na minha opinião deve ser trabalhado a conscientização em relação ao problema, é importantíssimo o combate ao preconceito das doenças psíquicas, a doença mental sempre foi cercada de estigma, pelas mais diversas razões. A mídia tem um papel fundamental na questão do suicídio, promovendo a divulgação de informações corretas, científicas, de maneira acessível, clara e objetiva. Divulgando campanhas de conscientização e de enfrentamento do preconceito das doenças mentais. Falar da forma correta sobre suicídio não provoca suicídio.

Psicóloga Fernanda Ferreira de Sá
Especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental
Atualmente atende no Hospital Geral, Escola Presbiteriana e o CEM
CRP/MT 18/00764

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