Nos últimos dias, o mercado pecuário tem se deparado com altas consecutivas dos preços do boi gordo, acima da casa de 2% por dia no mês de novembro. A produção de boiada entrou no pico da entressafra, o que diminui a oferta de animais prontos para abate, naturalmente, elevando a cotação.
Paralelamente a isso, a China aumentou em cerca de 40% a importação de carne bovina brasileira em 2019, em virtude dos casos de peste suína que já dizimou um terço do rebanho. A carne suína é a principal proteína consumida no país asiático.
O que antes não passava de mera especulação tornou-se realidade e a cotação da arroba do boi gordo já bate os R$ 200 em São Paulo, que é referência para os demais estados. O entusiasmo toma conta da pecuária, que há tempos não via tamanha valorização, mas a grande dúvida é se ela se manterá firme em 2020.
Alguns dos fatores apontam para manutenção: a recuperação da economia, mesmo que ainda lenta, com a previsão de uma redução histórica da taxa Selic para 4,5%, além do crescimento do PIB projetado em 0,9% para 2019 e 2% em 2020, segundo o Relatório Focus, elaborado pelo Banco Central.
O consumo doméstico de carne bovina também está em recuperação, com grande tendência de continuidade. O indicador de intenção de Consumo das Famílias, da Confederação Nacional do Comércio, subiu 0,2% em outubro e, 7,7% na comparação anual.
Em relação às importações de carne bovina pela China, indicadores do USDA (Departamento de Agricultura dos EUA) apontam que o país asiático deve encerrar 2019 com um aumento de 63,6% e outro de 20% é esperado em 2020. Ainda podem subir.
Como ocorre normalmente, a cotação da arroba do boi gordo costuma arrefecer no Brasil apenas no período de safra, quando há maior a disponibilidade de animais criados a pasto. Entretanto, gado a pasto no Brasil, geralmente, não tem os 30 meses que o boi-china exige, apontam consultores especializados.
Com baixa oferta de machos jovens terminados, a demanda por novilhas vai aumentar, inflacionando a cotação do boi gordo. Para os confinadores, a expectativa é de milho e reposição mais caros, embora, não necessariamente com relação de troca ruim.
Esta relação inflaciona o mercado como um todo, inclusive o do boi gordo. A intensa disputa por bovinos jovens no mercado físico deve favorecer os preços futuros do boi gordo, algo que já é visto no decorrer de 2019.
Outro fator que pode colaborar para sustentação dos preços do boi gordo no ano que vem é o mercado da Arábia Saudita. Os árabes habilitaram oito plantas brasileiras, ou seja, logo elas começaram a exportar, assim como pode ocorrer em breve com a Indónésia , o maior país muçulmano no mundo. (Com informações da Carta Boi da Scot Consultoria)