Dionéia Martins
Mato Grosso do Norte
No dia 21 de setembro comemorou-se o dia da Árvore. Alta Floresta nasceu em meio à Floresta Amazônica e, desde sua fundação, já carregava no DNA o compromisso de plantar árvores. Esse traço urbanístico se consolidou em 2009, quando a gestão municipal aprovou a Lei nº 1.788/2009, que instituiu o Código de Arborização Urbana, tornando-se referência nacional.
A legislação orienta moradores sobre o plantio adequado, proíbe espécies inadequadas e estabelece que todas as residências devem ter ao menos uma árvore e, de fato, é difícil encontrar uma casa na cidade sem sombra no quintal ou na calçada.
Esse cuidado se reflete nas ruas. As principais avenidas de Alta Floresta são margeadas por árvores de ponta a ponta, formando corredores verdes que refrescam o ambiente e oferecem abrigo à biodiversidade.
“Se fôssemos reflorestar essas áreas do zero, gastaríamos milhões e levaríamos décadas para ter de volta a mesma qualidade ambiental que já temos hoje. Esse patrimônio verde é um diferencial de Alta Floresta”, afirma o diretor de Desenvolvimento Sustentável, José Alesando Rodrigues.
Além da arborização planejada, a cidade abriga árvores que se transformaram em cartões-postais. No Setor G, uma figueira gigante impressiona moradores e turistas pela imponência em meio ao perímetro urbano. Já na zona rural, a Samaúma (Ceiba pentandra), localizada no Sítio Ecológico da Paineira, foi reconhecida em 2022 como a maior árvore da América Latina pelo concurso internacional “Colosos de la Tierra”.
A Samaúma alcança 61 metros de altura — o equivalente a um prédio de 20 andares — e é reverenciada em diversas culturas como “mãe da floresta”. Localizada a 28 km do centro, em uma área de 87 hectares de mata nativa, ela já foi cenário de produções audiovisuais, como o curta Vestígio do Tempo (2009) e a série O Hóspede Americano (2021).
“Mais do que o tamanho, o que impressiona é a simbologia dessa árvore. Ela representa força, proteção e ancestralidade. É um lembrete de que nosso futuro depende da forma como tratamos nossas raízes”, ressalta o engenheiro florestal Rubens Rondon, que integrou a equipe de medição para o concurso.
Apesar da abundância verde, estudos acadêmicos indicam que ainda há pontos a melhorar. Pesquisas realizadas nos bairros Cidade Alta e Setor G identificaram excesso de oitis (espécie dominante em mais de 60% dos levantamentos), além de conflitos entre árvores, rede elétrica e placas de trânsito.
A própria Lei nº 1.788/2009 busca corrigir essas falhas ao orientar sobre a escolha correta das espécies e o manejo adequado. Para a pesquisadora Lucinéia da Mata, autora de uma dissertação sobre a arborização local, a legislação é uma conquista rara no Brasil: “O código é um marco porque une técnica e participação popular, garantindo que a cidade cresça sem perder sua essência verde”.
Seja na imponência da Samaúma, na sombra das avenidas arborizadas ou na vitalidade das árvores plantadas nos quintais, Alta Floresta se orgulha de ser uma cidade onde cada árvore conta uma história.
“Se a floresta gera chuva que irriga a agricultura, se uma palmeira libera mil litros de água na atmosfera em um único dia, está claro que sem árvores não há futuro. Nosso desafio é cuidar desse patrimônio para as próximas gerações”, conclui José Alesando.
No coração da Amazônia mato-grossense, Alta Floresta mostra que a árvore, mais do que símbolo do calendário ambiental, é parte da identidade de um povo: raiz, sombra e esperança de um amanhã possível.