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Atualidades / Exemplo de dedicação e amor

Avó abre mão da própria vida para criar quatro netos

Dona Maria de Lurdes em um exemplo de dedicação e amor, teve que abdicar de seus planos de vida para cuidar, sozinha, de 4 netos



José Vieira/ Mato Grosso do Norte

Abrir mão de tudo que havia planejado para sua vida para se dedicar exclusivamente a criação de 4 netos. Essa é a história de dona Maria de Lurdes Gomes, de 56 anos, moradora do bairro Boa Esperança em Alta Floresta. Diante da responsabilidade imposta pelos laços consanguíneos, a pesada missão se transformou em doação e amor.
Na quinta-feira, 18, ela recebeu a reportagem de Mato Grosso do Norte, para uma entrevista. Contou a história de sua vida e os obstáculos de seu cotidiano.
Natural da cidade de Amambai, Mato Grosso do Sul, ela veio para a região com os pais ainda criança em 1978, para morar, inicialmente em Paranaíta, depois a família veio para Alta Floresta.
Período em que se casou. Seu casamento durou 12 anos e teve dois filhos. Um faleceu vítima de um acidente de trânsito. E outro é pai dos 4 netos, cuja criação está sob sua responsabilidade.
O filho é alcoólatra, se separou da mulher [que tem deficiência mental] sobrou para dona Maria a criação dos netos. O mais velho tem 10 anos, outro 8, uma menina de 4 e um menino de 3. O mais velho já morava com ela em Matupá, para onde se transferiu após o término de seu casamento.
Há 4 anos dona Maria foi obrigada a tomar a decisão que mudaria sua vida. Com a separação de seu filho, sendo ele alcoólatra e a mãe das crianças impossibilitada pela doença, sem alternativa, se viu obrigada a retornar para Alta Floresta para cuidar dos 4 netos.
Segundo ela, seu filho e a mulher não cuidavam das crianças. Dois foram retirados pelo Conselho Tutelar e encaminhados para a Casa Lar. Quando o casal decidiu se separar, o menino mais novo era recém-nascido e também seria levado pelo Conselho Tutelar.

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Nesta época, menina e o menino de 8 anos já estava na Família Acolhedora. O mais novo nasceu no dia 8 e no dia 9 ela deixou tudo em Matupá e veio para Alta Floresta. “Eu falei: não vou deixar mais um ir, daí vim para cá para cuidar deles. Se eu não tivesse vindo sairia do hospital e já seria recolhido pelo Conselho também. É sangue, né? E mesmo sem poder, eu optei para vir. Pensei: vou pedir força para Deus e vou cuidar. E estou cuidando conforme Deus permite. Levo na escola certinho, levo no posto de saúde e as vacinas todas estão em dia. A gente faz o que pode. Amo demais, gosto muito das minhas crianças”, revela.
Os pais das crianças não ajudam Dona Maria no cuidado com as crianças. Ela tem que arcar com todas as despesas.
“É tudo eu, eles não dão nada, não pagam pensão e toda a responsabilidade com as crianças é minha e do avô paterno, meu ex-marido. É a gente que é responsável pelas crianças, por tudo. Não dão nem um pacote de fralda”, enfatiza.

Nem sempre é possível comprar uma mistura. Falta uma bolacha, pão, coisas para as crianças. Agora, alimentação, tipo arroz, feijão, macarrão, essas coisas ainda não chegaram a faltar


Ela mora em uma casa muito humilde com as crianças. O aluguel é incluído no Auxílio Social e pago pela prefeitura de Alta Floresta. Sua renda mensal é de cerca de R$ 1 mil, proveniente do Programa Bolsa Família e Vale Gás.
“Tenho também aquele cartão Ser Família, que ajuda a gente com R$ 150 por mês. E a minha renda é essa”, relata.
Dona Maria observa que como as crianças são pequenas, não tem como trabalhar fora. Mesmo assim, ela conta que sempre que é possível, faz diárias de serviços domésticos.
O dinheiro nem sempre é suficiente e nestas ocasiões, conta com a ajuda do avô. Mas assegura que a alimentação básica nunca faltou.
“Nem sempre é possível comprar uma mistura. Falta uma bolacha, pão, coisas para as crianças. Agora, alimentação, tipo arroz, feijão, macarrão, essas coisas ainda não chegaram a faltar, graças a Deus. E sempre contamos também com a ajuda das pessoas. Deus é maravilhoso. A gente ganha cesta básica e o mais importante é que as crianças sempre estão junto com a gente”, disse.
O Natal de Dona Maria não haverá Ceia Farta. Mas diz que o mais importante é que suas crianças estejam com saúde e felizes. “Para mim é o que importa. Festa, a gente não vai ter, mas o presente que eu quero é ver as minhas crianças bem, felizes e com saúde. Não é fácil, mas Deus dá força para a gente continuar a lutar”, externa.
No começo, as dificuldades eram tamanhas que ela confessa que chegou a pensar em desistir. No entanto, foi somente um pensamento fugaz que passou por sua cabeça. “No mesmo instante, pensei: não vou desistir de minhas crianças”.
Ela conta que não há como as crianças ter qualquer tipo de regalias. E em datas como o Natal, cobram presentes, mas o dinheiro da família não é suficiente para comprar. “Eles entendem. Já são grandinhos, mas é triste. Eu falo: meus filhos, a vó não pode comprar agora. E ele respondem: Então está bom vó”, emociona-se.

Críticas- Em que pese sua dedicação e de ter transformado o dever em amor, Dona Maria de Lurdes não é vista como heroína por muitas pessoas. É uma mulher que apesar dos desafios diários procura manter a autoestima e equilibrar a vaidade. Gosta de se arrumar e de manter os cabelos bem cuidados. E às vezes é criticada por isto.
Uma de sua apoiadora, Sueli Rosana de Oliveira, Coordenadora do projeto Associação Cuida Bem de Mim, que participou da entrevista, conta que sempre acolheu os netos de dona Maria. Observa que o objetivo do projeto é cuidar de crianças para as mães que trabalham fora. Mas acolheu os dois meninos até que completaram 6 anos e a menina ainda está lá. Ela elogia as crianças que são todas muito educadas.
“A gente não pode ter uma criança de uma mãe que não trabalha fora. Mas entendemos o caso dela. Eu sei da luta dela, de ter que ir buscar as crianças na escola em horários diferentes, de cuidar, dar remédios. A história dela é muito além do que ela conta”, diz Sueli.
Sueli diz que quando algumas pessoas veem Dona Maria arrumada e com o cabelo pintado, lhes criticam por ajudá-la. “Eu sempre respondo: só assim ela é feliz. Se ela não cuidar dos cabelos, não ter autoestima, não pensasse nela alguns segundos, morreria”, diz Sueli.

Eu falo: meus filhos, a vó não pode comprar agora. E ele respondem: Então está bom vó

A luta da avó, segundo Sueli, é uma pesada cruz. Ela aponta que a menina de 5 anos enfrenta constantes problemas de saúde e tem que ser internada. Como o avô trabalha em uma empresa de concessão pública, tem Plano de Saúde, a criança é beneficiária e é internada em um hospital particular.
“As pessoas criticam por que a menina vai no hospital particular, mas não sabem da história. Ela vai para lá por que o avô tem o Plano de Saúde na empresa onde trabalha. A menina nasceu com problemas de bronquite”, diz emocionada Sueli.

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