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Atualidades Segunda-feira, 05 de Dezembro de 2022, 15:50 - A | A

05 de Dezembro de 2022, 15h:50 - A | A

Atualidades / José Humberto e Guarantã

Duas histórias que se entrelaçam

José Humberto como executor do INCRA fez a implantação de Guarantã nos anos 80, após esse processo, se elegeu prefeito por dois mandatos



Por Eugênio Cafone  

Quem está completando mais um ano de vida neste dia 04 de dezembro é meu irmão, amigo, compadre e conselheiro, José Humberto Macêdo. A ele minhas Felicitações, minha gratidão, meu eterno respeito e os votos de muitos anos de vida com muita saúde e as mais ricas Bençãos de Deus...   Há uns 8 anos atrás escrevi o texto a seguir referente a pessoa de José Humberto. Vale a pena partilhar de novo a história deste desbravador que liderou a construção de uma base sólida para Guarantã do Norte ser o que é hoje... José Humberto Macêdo ator fundamental do Projeto de Colonização e Desenvolvimento.  

Nascido na cidade de Aurora- Ceará, em 04 de dezembro de 1951 José Humberto Macêdo conheceu a área onde futuramente seria a cidade de Guarantã do Norte em novembro de 1.979. Em 02 de fevereiro de 1980 vem para a região como executor do INCRA. Sua moradia na época foi um barraco de lona no Km 714 às margens da BR. 163.

A primeira de suas ações foi a construção de um barracão onde seria aberta a estrada que chegaria ao início do Projeto de Colonização originando o Bairro Cotrel. No momento a situação era crítica, muita chuva, inundações e serviços de aberturas de estradas em atraso e medidas enérgicas tiveram que ser tomadas.

Foto/ Rerpdução

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Empresas foram substituídas e os serviços começaram a fluir. A primeira estrada a ser aberta ligava a BR 163 ao local onde se optou pelo início do projeto (Bairro Cotrel) atual AV. Guarantã e MT 419. A missão era grande as estradas precisavam ser abertas na intensa selva, os lotes precisavam ser demarcados, pois, logo começariam a chegar as famílias do sul do país para colonizarem a região. A abertura da estrada até a Cotrel propiciou o início dos trabalhos onde foi montada uma serraria, escritório, alojamento e algumas casas de moradia. A pequena infraestrutura montada era apenas o ponto de partida. Tudo estava por fazer, estradas para serem abertas, demarcação dos lotes e a mão de obra praticamente não existia.

José Humberto procurou socorro junto aos moradores que habitavam as margens da BR e muitos prestaram serviços alguns viraram funcionários de carreira do INCRA como Neno e Polaco. Logo a COTREL também enviou homens do RS para trabalharem no Projeto. Na madrugada do dia 01 de dezembro de 1980 o executor José Humberto recebe as primeiras 7 famílias vindas do Rio Grande do Sul para colonizar o norte de Mato Grosso.

Em maio de 1981 José Humberto recebe as irmãs dominicanas e em julho do mesmo ano começa a receber as famílias dos brasiguaios. Famílias estas que foram chegando sem nenhuma infraestrutura.

Estas iam ocupando seus lotes e começando as derrubadas para efetuarem a plantação, consequentemente começaram também os acidentes e doenças como tuberculose e hepatite, porém a malária foi o pesadelo pior. O caos se implantou em um lugar onde não havia um único médico.

O executor José Humberto trabalhava de 16 a 18 horas por dia para atender as funções burocráticas do INCRA e para socorrer os doentes ou acidentados levando os mesmos inicialmente para Itaúba e posteriormente para Peixoto de Azevedo. Essa árdua missão proporcionou muitos momentos de alegria com a recuperação das pessoas, mas também muitos foram os momentos de apresentar às famílias notícias de perdas de filhos, ou do pai, ou a mãe.

Houve casos em que os filhos ficaram órfãos de pai e mãe. Além dos desafios na saúde, a falta de estrutura, a extrema pobreza da maioria das famílias, a falta de alimentos, até mesmo para comprar comida, e a falta de medicamentos transformaram os primeiros meses deste projeto de colonização num enorme caos, inclusive com dezenas de óbitos.

No final do ano de 1981, José Humberto deu ordem de serviço para que fosse aberta a primeira rua da cidade de Guarantã do Norte, hoje Avenida Jatobá, dando início a construção das primeiras casas pelo INCRA e logo em seguida outros pioneiros como, Soto Minetto, Alcides Capeline e Domingos Salomão também iniciaram suas construções.

A chegada das centenas de famílias fazia os problemas aumentar a cada dia que passava. Logo apareceu também entre os assentados, a ideia de comercializar os lotes e o executor teve que agir com pulso firme para impedir que isso viesse a acontecer.

O forte desenvolvimento da região fez também surgir a tentativa de grilagem das terras devolutas, também nestes casos José Humberto agiu com determinação para impedir que a região de Guarantã do Norte, Novo Mundo, Carlinda e parte de Matupá se transformassem em meia dúzia de latifúndios. Neste sentido para manter a ordem Zé Humberto requisitou inúmeras intervenções da Polícia Federal o que resultou também em inúmeras ameaças de morte ao executor.

Mesmo no perímetro urbano foi necessária a intervenção da Policia Federal para impedir a grilagem e manter a ordem.  Enquanto desempenhou sua função como executor do escritório regional do INCRA José Humberto foi determinado, mantendo a ordem, impedindo a grilagem e mantendo intactas as áreas de preservação, Reservas Florestais destinadas a suprir as áreas de reserva legal dos assentados na época, bem como as áreas verdes do perímetro urbano.

José Humberto encantou-se desde o primeiro momento com o trabalho das Irmãs Dominicanas que lideraram a vinda dos brasiguaios do MS. Ele considera que a organização, a dedicação e a responsabilidade com que as irmãs se envolveram no projeto desde o primeiro momento, foram fundamentais para o desenvolvimento e a consolidação do Projeto de Colonização de Guarantã do Norte e da região.

A integração e a reciprocidade nas ações foram mútuas, as irmãs participaram ativamente nas ações sociais e administrativas, ajudando na criação de comunidades, organização de professores, criando as primeiras escolas, organizando os assentados e ajudando a criar a cooperativa, entre outras ações. Por outro lado, José Humberto se envolvia nas questões religiosas tornando-se o primeiro presidente da Comunidade Nossa Senhora do Rosário de Guarantã do Norte.

Como executor do INCRA e presidente da comunidade, José Humberto também realizou um forte trabalho em parceria com os padres Silvério e Luiz Pozzebom. José Humberto trabalhou junto com a comunidade e construíram o histórico salão paroquial que mais tarde deu lugar ao ginásio de esportes São José. A mobilização era para transformar a comunidade em paróquia. José Humberto recebeu um desafio do saudoso bispo D. Henrique.

Quando a comunidade construísse uma casa para o padre, ele criaria a paróquia e mandaria um padre para Guarantã do Norte.  Na época José Humberto era proprietário de uma chácara na cidade de Itaúba. Ele doou a chácara para a igreja, PE. Silvério vendeu a chácara e construiu a primeira casa paroquial de Guarantã que se transformou em paróquia em fevereiro de 1984.

Atendendo a solicitação do PE. Silvério que justificou a necessidade de uma área para as atividades da igreja, José Humberto viabilizou a doação da área urbana onde hoje está instalada a igreja matriz e seus complexos. O executor se dedicava a ver o desenvolvimento da cidade e apoiava todas as boas iniciativas, desta forma viabilizou terreno para construção da Igreja Assembleia de Deus tendo em vista que na época as famílias iam congregar em Peixoto de Azevedo.

O executor viabilizou o primeiro terreno na Travessa das Figueiras esquina com AV. Alcides Moreno Capeline e posteriormente doou os terrenos onde hoje é a sede da Igreja Assembleia de Deus. Como gestor José Humberto sempre respeitou e procurou incentivar e motivar as ações dos líderes religiosos no desempenho e nas ações em favor da sociedade.

Foto/ Reprodução

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Sempre participou e realizou parcerias com as diversas denominações priorizando ações de cunho social e fortalecendo as iniciativas para revigorar nas pessoas os princípios éticos, morais, religiosos e despertar o senso de Justiça. José Humberto dirigiu o escritório regional do INCRA de 1980 a 1984. Gerenciou o assentamento de 600 famílias brasiguaias, dezenas de famílias mato- grossenses e das famílias dos colonos trazidos pela Cotrel.

Gerenciou a abertura de centenas de Km de estradas, centenas de pontes, desenvolveu a demarcação topográfica dos lotes rurais e urbanos, construiu escolas, postos de saúde. Sua gestão frente ao INCRA também ficou profundamente marcada pelo intenso trabalho social, em especial junto as famílias brasiguaias que eram as que mais careciam de amparo na época. A realização dessas ações contou com fortes parcerias da COTREL, das irmãs dominicanas, das empresas EBEC e TRIUNFO, dos padres e do Bispo D. Henrique, das famílias dos posseiros que habitavam as margens da BR 163, o trabalho voluntário de Maria Lucia e a solidariedade de algumas pessoas com melhores condições financeiras.

Aquele foi um tempo de muita luta, muita dor, mas também de grandes vitórias e conquistas que contribuíram para impulsionar o crescimento e o desenvolvimento da região e a formação de cidades como Novo Mundo, Carlinda e Guarantã do Norte. Em 08 de fevereiro de 1982 pela Portaria 02/82 do Juiz Diretor da Comarca de Cuiabá Dr. Elion Carvalho foi publicada a homologação do Cartório de Registro Civil de Guarantã do Norte. José Humberto Macêdo foi nomeado escrivão. O cartório iniciou as atividades na Av. Jatobá, onde está estabelecido até hoje.  

José Humberto Prefeito   Em 1989 José Humberto assumiu a administração de um município com apenas 2 anos de emancipação político- administrativa onde tudo estava por fazer, inflação estratosférica, conflito sangrento no sul do Pará envolvendo famílias guarantaenses, área territorial imensa onde Novo Mundo era distrito e a divisa do município ia até o Rio Tele Pires.

A situação ficou desesperadora quando uma ação do presidente Collor acabou com o garimpo na região, pois esta era a principal fonte de renda da maioria das famílias e o que sustentava a economia da região. Famílias que até então estavam economicamente estáveis do dia pra noite ficaram a “ver navio”. O patrimônio que possuíam (dragas, motores, moinhos) não valiam mais nada, ninguém se interessava mais por isso. O ouro que alguns tinham guardado perdera drasticamente seu valor.

Pra piorar ainda mais a situação muitos estavam com malária, hepatite e outras moléstias num momento em que o SUS nem havia ainda sido implantado no Brasil. Era o caos social e econômico implantado nas cidades desta região. Os problemas supramencionados, somados a imensidão de problemas e necessidades de um município recém-criado, foram os desafios de José Humberto em sua primeira gestão como prefeito de Guarantã do Norte.

Determinado e com muita responsabilidade com o dinheiro público, José Humberto montou uma equipe de trabalho comprometida com o desenvolvimento e com a pessoa humana. Dentre os componentes de sua equipe de governo houve novamente a importante participação das Irmãs Dominicanas especialmente nos setores de saúde e educação.

Apesar dos poucos recursos José Humberto fez história implantando uma administração dinâmica com fortes realizações na educação onde construiu as creches Arco Iris e Gente Miuda, implantou e construiu cerca de 60 salas de aula na zonas rula e urbana com destaque para zona urbana onde criou e construiu os primeiros prédios das escolas 13 de Maio, Beija Flor. Construiu a sede da Escola Estrelinha do Norte, o NEP (Núcleo de Educação Permanente) atual sede da UAB e a Biblioteca Municipal na Praça da Cultura. Entre suas realizações do primeiro mandato destacam-se a Praça da Cultura, Praça das mangueiras, Ginásio 13 de Maio, 16 escolas rurais, sede da APAE e implantação do sistema de telefonia.

Em 1º de janeiro de 2005 José Humberto assume pela segunda vez o comando da Prefeitura. Novamente seu mandato é marcado por grave crise econômica onde a operação Curupira praticamente dizimou o setor madeireiro, principal fonte de renda, emprego e tributos na região. Novamente os desafios são enormes mas José Humberto consegue vencer os obstáculos e novamente deixou sua marca tanto na infraestrutura como na educação e saúde.

Na infra estrutura pavimentou aproximadamente 180 mil m², viabilizou convênios para pontes de concreto e casas populares , na educação informatizou todas as escolas municipais, construiu a Escola Sueli Olmira Pereira, implantou a UAB (Universidade Aberta do Brasil) na área da saúde comprou o Hospital Guarantã, que passou a se chamar Hospital Nossa Senhora do Rosário, construiu PSFs nos Bairros 13 de Maio, Bairro Cidade Nova, Bairro Aeroporto e Bairro Jardim Araguaia. Implantou o CEO (Centro Especializado Odontológico) e Viabilizou o NASF (Núcleo de Apoio a Saúde da Família).

Relembrando estes 35 anos de história José Humberto Macêdo se regozija ao perceber que foi um dos atores principais na construção e desenvolvimento da cidade mais pujante do extremo norte Mato-Grossense.  

Eugênio Cafone e pioneiro e secretário municipal em Guarantã do Norte

 

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