Jornal Mato Grosso do Norte
Natural de Toledo (PR), o professor Ozias Pego, 43 anos, é diretor da Escola Municipal Vicente Francisco da Silva e ganhou notoriedade quando foi cogitado que a escola que ele administra, seria desativada para dar espaço ao funcionamento da escola militar em Alta Floresta.
Ele esteve à frente da discussão da sociedade, mostrando para a comunidade escolar que quem teria que decidir se a escola deixaria de existir para dar lugar ao novo projeto educacional, seria a própria população.
Prevaleceu a vontade da população e a Escola Vicente Francisco da Silva, uma das melhores escolas em estrutura e qualidade de ensino do município, irá continuar funcionando e atendendo mais de 370 alunos desde a Educação Infantil ao 9º ano.
Ozias, que é formado em Letras e está estudando Pedagogia, mora em Alta Floresta desde 2003. Antes, residia em Carlinda. Ele concedeu a seguinte entrevista a coluna Sem Censura de Mato Grosso do Norte:
Mato Grosso do Norte- Como o senhor vê o sistema de Educação pública em Alta Floresta?
Ozias- Tudo que se diz que é público há uma certa rejeição. Mas temos alunos nossos que fizeram o seletivos do IFMT e passaram e que passaram no Enem. Temos professores que começaram no pré e permaneceram até ao 9º aqui da escola, fizeram faculdades e voltaram para serem professores e são ótimos professores. Por isso, não concordo com essa concepção de público e privado, que um é bom e o outro não. A qualidade depende de cada pessoa. Recebemos alunos em nossa escola que vieram de escolas particulares e vimos que não é bem assim. O colégio é o método influi na qualidade, mas o paralelo está em cada pessoa.
Mato Grosso do Norte- O senhor acha que o ensino das escolas públicas vão bem no município?
Ozias- Creio que vai bem. O IDEB-Índice de Desenvolvimento da Educação Básica- de nossa escola está acima do IDEB do Brasil. Estamos na frente de vários Estados. Portanto, não é porque uma escola é pública que o seu IDEB tem que ser baixo.
Mato Grosso do Norte- Quando foi cogitado que a Escola Vicente Francisco seria fechada para dar espaço à Escola Militar, o senhor avalia que a comunidade e a direção da escola foram desrespeitadas?
Ozias- Com certeza. Não houve diálogo. Na escola existe um conselho representado pelos profissionais da escola e os pais dos alunos. E faltou chegarem em nós e dizer qual era a proposta. Mas isto não aconteceu. Foram resolvendo sem falar com a direção. Esta escola tem uma história de 25 anos e sempre batalhamos para conseguir as melhorias na estrutura e parte pedagógica. Da maneira como foi posto a questão passou o entendimento que chegaria alguém aqui para nos avisar que a partir de agora a escola seria estadual, os alunos serão remanejados, assim como os professores. E quem não aceitou esta imposição não foi a direção da escola. Trabalho aqui desde 2010, mas moro em outro bairro. Quem não aceitou foi a comunidade, que se posicionou contra. Se a comunidade quisesse a escola militar aqui, teríamos aceitado. Como diretor, em nenhum momento fui contra. Acho que uma escola militar seria um ganho para o município. O que se tratou foi da maneira como as coisas foram conduzidas. Prevaleceu a posição da comunidade escolar.
Mato Grosso do Norte- O senhor acha que os professores do município são bem remunerados?
Ozias- Há uma diferença enorme entre a tabela do Estado e do município. Um professor pedagogo no Estado ganha R$ 800,00 a mais do que um do município com o mesmo total de horas. O salário não é equiparado. Deve melhorar a remuneração do professor, oferecer mais formação e capacitação até para poder exigir mais do professor. Mas os professores também tem que procurar melhorar, fazer uma pós graduação, doutorado e mestrado. Muitos professores não tem mestrado e doutorado, bem poucos tem. Portanto, deve melhorar a formação e, pelo menos, equiparar o salário com o Estado.
Mato Grosso do Norte- Existe futuro sem Educação?
Ozias- Se formos fazer uma comparação com outros países que se desenvolveram, veremos que o investimento maior foi na Educação. No Brasil, investe muito dinheiro em outros setores, como esporte, Carnaval e Cultura e muito pouco na Educação. E deve levar-se em conta que a melhoria de um país parte da Educação.