Sexta-feira, 26 de Dezembro de 2025

Caderno B Sexta-feira, 26 de Dezembro de 2025, 10:04 - A | A

26 de Dezembro de 2025, 10h:04 - A | A

Caderno B / PERFIL

Confiança engrenada

Carla Marins constrói a Xênica de “Três Graças” entre a lealdade, a maternidade e a sobrevivência



 MÁRCIO MAIO/ TV PRESS


    Em “Três Graças”, Carla Marins ocupa um espaço estratégico na engrenagem moral da trama. Na atual novela das 21h da Globo, escrita por Aguinaldo Silva. Xênica não é vilã e tampouco heroína: trata-se de uma mulher que acredita nas pessoas, confia nas estruturas ao seu redor e, a julgar pelos capítulos já exibidos, tentará se manter de pé em um sistema que se revela progressivamente corrompido.

Funcionária da Fundação Ferette, seu núcleo circula entre a elite de São Paulo e a realidade dura da comunidade da Chacrinha, conectando dois mundos que a novela confronta. “Por mais que esteja lá, na alta roda, Xênica é uma trabalhadora, que busca o espaço de sobrevivência, de atuação”, defende a atriz.
    Essa ambiguidade se manifesta também no comportamento exuberante. A personagem, como define Marins, “é toda trabalhada no dourado e no animal print”.

Xênica gosta de aparecer, mas parece não entender os jogos de poder que a cercam. É funcionária da fundação comandada por Santiago Ferette, vilão interpretado por Murilo Benício. Ele é um homem visto como benfeitor, mas que lidera um esquema criminoso de falsificação de medicamentos. Inicialmente alheia ao golpe, a relações públicas veste a camisa da instituição e se orgulha do próprio lugar ali, mas saberá a verdade em breve.

 “Ela realmente acredita que é uma empresa idônea, que existe há muito tempo”, afirma Carla, ao explicar a ingenuidade inicial da personagem.

A confiança, no entanto, já começou a ruir com os boatos sobre os remédios falsos.
    A tensão se intensifica porque Xênica é mãe de José Maria, papel de Túlio Starling, jovem médico que atua como voluntário na Chacrinha, justamente onde os medicamentos distribuídos pela fundação fazem vítimas. Orgulhosa do filho, carrega a contradição de apoiar uma instituição que pode colocar em risco justamente quem ela mais ama. “Xênica é mãe solo, provavelmente se dedicou muito para essa formação do filho”, valoriza.
    Embora a novela misture drama, tragédia e humor, Carla trata a leveza da personagem com cautela. “Ainda não tive muitas oportunidades de brincar, porque o assunto é sério, mas acho que consigo colocar uns pontinhos de humor. Tem de ter. E esse nome promete”, diz, sinalizando uma comicidade discreta, quase defensiva, que pode ajudar Xênica a atravessar ambientes hostis.

A tensão se intensifica porque Xênica é mãe de José Maria, papel de Túlio Starling, jovem médico que atua como voluntário


    A maternidade solo, aliás, conecta Xênica às protagonistas da trama: Gerluce, Lígia e Joélly, vividas por Sophie Charlotte, Dira Paes e Alana Cabral. Em “Três Graças”, o abandono parental atravessa classes sociais distintas e expõe um retrato estrutural do país. “São 40 milhões de lares hoje comandados por mães solo no Brasil. Nada mais atual do que esse tema”, ressalta Carla, destacando a dimensão social da novela.
    Aos 57 anos, Carla ostenta um corpo de causar inveja em mulheres de qualquer idade. E é claro que a questão estética tem importância, mas a atriz aproveita qualquer elogia para alertar as pessoas sobre a importância de se manter uma pessoa ativa em qualquer idade. “Para mim, músculo é patrimônio. As pessoas já sabem que eu tenho essa pegada fitness mesmo. Meu marido é personal trainer há 18 anos. Mas essa coisa do trabalho físico, ele é importante para nossa saúde, para ter disposição, para ter garra. E para a cabeça também, porque é uma santa terapia”, diz ela, que é casada com Hugo Baltazar, criador do método Treino com Ciência, divulgado nas redes sociais dele.

“Três Graças” – Globo – Segunda a sábado, na faixa das 21h.

foto/ Divulgação

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Memória permanente


    O momento vivido por Carla Marins na televisão atualmente é de êxito não só por conta de “Três Graças”. A atriz estreou nas novelas em “Hipertensão”, exibida originalmente pela Globo em 1986 e agora em reprise no canal pago Globoplay Novelas. “Foi, de cara, uma grande escola. Trabalhei com feras como Paulo Gracindo e Ary Fontoura. Só me deixou lembrança boa”, recorda.
    Além disso, recentemente, a atriz ganhou destaque em mais uma reprise de “História de Amor”, sucesso de Manoel Carlos exibido entre 1995 e 1996, na qual interpretou a impaciente Joyce, uma jovem mãe solo envolvida em uma relação para lá de tóxica com o invocado Caio, interpretado por Ângelo Paes Leme.

Três décadas depois e bem mais experiente do que quando deu vida à adolescente, ela observa o papel sob outra perspectiva. “Nós, mulheres, precisamos entender: esse sonho da maternidade, que é vendido como o grande momento da princesa que se casa, é só um sonho. Hoje, eu diria para a Joyce: vá estudar, buscar sua realização profissional, sua independência financeira. E aí, sim, se abra para algum alecrim dourado, depois que você tiver mais gerência sobre a sua própria vida”, afirma, ampliando o debate para além da ficção.


Instantâneas

# Carla Marins nasceu em Campos dos Goytacazes, no Norte Fluminense.
# Na adolescência, fez curso de interpretação com o diretor Wolf Maya. “Ele me chamou para fazer minha primeira novela na Globo, ‘Hipertensão’. Eu era uma adolescente, tinha 17 anos”, lembra.
# Depois de ficar mais de 20 anos trabalhando apenas na Globo, Carla passou por outras emissoras, atuando em novelas do SBT e da Record.
# Antes de “Três Graças”, a última novela de Carla Marins tinha sido “Gênesis”, na Record, no período da pandemia, em 2021.

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