Por Geraldo Bessa - TV Press
Laila Garin sempre coloca sua intensidade a serviço de suas personagens. É por isso que histórias de alto teor dramático costumam ser as preferidas da atriz.
Laila não só empresta sua densidade como também é atingida pelas complexidades do papel, onde se joga sem rede de proteção para viver a batalhadora Norma
“Norma me fez pensar no esquema antigo dos casamentos, na criação dessa imagem de família de comercial de margarina, com todo mundo sorridente e feliz apenas por fora. Ao se livrar de uma união difícil, ela também sofre com o preconceito de não ser mais uma mulher casada, como se não tivesse mais validade. Ela precisa ser muito forte para encarar isso de frente”, avalia.
Laila Garin sempre coloca sua intensidade a serviço de suas personagens. É por isso que histórias de alto teor dramático costumam ser as preferidas da atriz.
Em “Fim”, a elogiada série baseada no livro homônimo de Fernanda Torres que chegou recentemente ao Globoplay, Laila não só empresta sua densidade como também é atingida pelas complexidades do papel, onde se joga sem rede de proteção para viver a batalhadora Norma, uma mulher comum dos anos 1970 que se descobre à frente do seu tempo ao ter que enfrentar a opressão social por ser desquitada.
“Norma me fez pensar no esquema antigo dos casamentos, na criação dessa imagem de família de comercial de margarina, com todo mundo sorridente e feliz apenas por fora. Ao se livrar de uma união difícil, ela também sofre com o preconceito de não ser mais uma mulher casada, como se não tivesse mais validade. Ela precisa ser muito forte para encarar isso de frente”, avalia.
Na trama, a personagem viu no pedido de casamento do hedonista Silvio, papel de Bruno Mazzeo, a chance de deixar o interior de São Paulo e viver no Rio de Janeiro. Prestativa e amigável, ela até tenta ajudar o marido a enxergar um pouco mais da vida e ir além de uma rotina pesada de vícios e inconsequências, mas acaba concluindo que a missão é impossível. “Toda família tem pessoas parecidas com o Silvio. A série discute a questão do machismo de forma muito interessante, mostrando um período da história onde atitudes absurdas eram vistas como normais e sem chances de qualquer mudança. O texto mostra o que ficou para trás e causa espanto”, avalia.
A tragicomédia acompanha a jornada de nove protagonistas, um grupo de amigos do Rio de Janeiro que faz parte de uma geração que acreditava na utopia da felicidade eterna e foi atropelada pela revolução de costumes das últimas décadas. A trama atravessa o período entre 1968 e 2012 e é dividida em quatro fases que abrangem a juventude, o início da vida adulta, a maturidade e a velhice dos personagens. Ao longo das décadas, eles compartilham amores, traições, mágoas, alegrias, manias, loucuras e frustrações.
“A passagem do tempo é algo muito determinante neste trabalho. A cada nova fase de caracterização e figurinos, os personagens ganhavam outros contornos e posturas. A maturidade vai deixando Norma cada vez mais moderna, por exemplo”, explica.
Sob a direção de Andrucha Waddington e Daniela Thomas, o rejuvenescimento e envelhecimento dos protagonistas foi alvo de muito cuidado nos bastidores. Tudo para evitar exageros e uso de efeitos visuais nas sequências. Com uma intensa rotina de maquiagem e o auxílio de fios para esticar ou envelhecer o rosto, o resultado estético era sempre motivo de surpresa e inspiração para Laila.
“Estou acostumada a esses processos, mas o cuidado que envolvia a concepção das cenas nesta série foi realmente diferente. Mesmo com todos os problemas por conta das pausas nas gravações, esse apuro se manteve”, conta.
Com um longo período de ensaios e preparação no segundo semestre de 2019, as gravações de “Fim” acabaram sendo atropeladas pela pandemia logo no início de 2020. Nos anos seguintes, a equipe se manteve unida a cada retomada do trabalho. Apesar de confuso, o processo fortaleceu a amizade entre o elenco principal – formado por nomes como Fábio Assunção, Marjorie Estiano, David Júnior e Heloísa Jorge, entre outros –, e adicionou nuances aos sentidos de vida e morte que permeiam o roteiro. “Foi um trabalho de muita delicadeza. Os personagens têm seus defeitos e contradições. Só mesmo o tempo e a finitude conseguem dimensionar o impacto dessa convivência na trajetória de cada um. O mosaico desses casais principais é fundamental na identificação do público com a história”, acredita.
Baiana de Salvador e formada em Artes Cênicas, Laila morou muitos anos em Paris e São Paulo até fixar residência no Rio de Janeiro. Sempre pautando sua vida pelo teatro, ela chamou a atenção ao viver a cantora Elis Regina em “Elis – A Musical”.
Apesar do foco nos palcos, a visibilidade acabou abrindo portas na tevê. Sem se prender a uma emissora, canal ou serviço de streaming, ela já esteve em novelas como “Babilônia” e “Rock Story”, da Globo, viveu as fortes emoções de “Dom”, do Prime Video, e também se aventurou pela futurista “3%”, da Netflix.
“Sou muito curiosa e cheia de desejos. Ainda tenho muitos papéis para viver, além de autores e diretores com quem quero trabalhar”, destaca. Cantora inspirada, Laila lançou recentemente um álbum em dupla com o cantor e compositor Chico César e, no momento, celebra o retorno de “Elis – A Musical” para uma turnê comemorativa de 10 anos. “A cabeça não descansa nunca. A gente vai planejando, fazendo e vivendo”, detalha, entre risos.
“Fim” – Globoplay – episódios inéditos às quartas.