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Caderno B Sexta-feira, 13 de Agosto de 2021, 00:00 - A | A

13 de Agosto de 2021, 00h:00 - A | A

Caderno B /

PERFIL: Referência de origem



por Caroline Borges

TV Press

   Inicialmente, interpretar um médico na ficção abre a possibilidade de uma infinita gama de referências e inspirações. David Junior, no entanto, encontrou o ambiente oposto ao se preparar para viver o neurocirurgião Mauro na nova temporada de “Sob Pressão”, da Globo. Enquanto pesquisava detalhes para a série dirigida por Andrucha Waddington, o ator de 35 anos teve dificuldades para encontrar exemplos de profissionais negros dentro da área médica. Por isso, ao lado da direção e do autor Lucas Paraizo, ele começou sua criação praticamente do zero. “Como eu iria fazer, por exemplo, o cabelo de um neurocirurgião negro? Como eu não achava nada, falei com o Andrucha para criar a minha própria referência. Fiquei muito feliz com isso. No nosso país, que tem uma enorme população negra, não temos esse tipo de representatividade em lugares de poder, fora do estado de subserviência. Ao mesmo tempo, fiquei grato por representar essa parcela da população de forma empática e voltada para o ser humano. É um personagem que cuida de vidas. Não é um papel que tira vidas, que é algo bem comum na dramaturgia”, afirma.

                Apesar das poucas referências médicas, David chegou a conversar com o neurocirurgião Ivan Santana, um dos médicos mais conhecidos do hospital municipal Miguel Couto, na Zona Sul do Rio de Janeiro. O encontro foi viabilizado através do cirurgião torácico Marcio Maranhão, que atua como consultor da série, tanto da equipe de roteiristas quanto da produção. “Troquei uma ideia de como foi a vida dele como médico e a trajetória dele para chegar nesse lugar”, explica David, que se surpreendeu, como paciente, ao perceber que também tinha poucas relações com médicos negros ao longo de sua vida. “Tive uma relação com apenas um médico negro durante minha vida inteira e foi como paciente. Sofri um acidente, abri a perna e precisei de uma sutura. Quando o médico chegou, eu, na minha ignorância, achei que fosse enfermeiro. Quando ele disse que era médico, o choque foi imediato. E é absurdo eu, como pessoa negra, não conseguir codificar que outro pode ser um médico. É uma profissão quase inatingível para quem vem de periferia”, completa.

                O neurocirurgião Mauro não é novidade na trama de “Sob Pressão”. O personagem esteve nos dois episódios especiais da série sobre a pandemia de Covid-19, que foi ao ar no ano passado, e agora volta como parte do elenco fixo da nova temporada. Na produção, Mauro é chamado por Décio, interpretado por Bruno Garcia, para assumir o posto de chefe da Emergência do fictício Hospital Edith de Magalhães. Integrante recente da equipe, o neurocirurgião fala pouco, mas não tem receio de entrar em embates quando precisa. É metódico e está sempre atento para evitar erros médicos, resultado da culpa que sente por ter feito uma escolha errada no passado durante a cirurgia de uma paciente bailarina, que ficou impedida de dançar. De origem humilde, foi o primeiro de sua família a cursar uma faculdade. “O Mauro, como neurocirurgião, é muito ligado nos detalhes. Então, esse erro do passado faz com que ele fique ainda mais atento. Ele busca se redimir desse erro médico a cada paciente. Cada paciente que ele salva traz paz interior”, aponta.

      Além de assumir a emergência do hospital, Mauro se depara ainda com a possibilidade de um novo amor ao se aproximar da médica Vera, papel de Drica Moraes. “Os caminhos se cruzam e esse interesse mútuo vai crescendo conforme os dois vão se conhecendo melhor. Mauro e Vera são duas pessoas fechadas que, pelos acasos da vida e identificação, acabam despertando um interesse mútuo e legítimo, muito bonito de ser ver”, adianta. Desde sua chegada na série, David apenas se deparou com a dramaturgia médica inserida na pandemia de Covid-19. Apesar de não abordar casos do novo coronavírus, a doença ainda será pano de fundo da nova temporada. “É interessante ver como o Sistema Único de Saúde funciona por dentro como médico e não como paciente. Isso traz uma empatia muito grande como pessoa. Mesmo com todas as dificuldades e deficiências, o SUS é importantíssimo. As pessoas não fazem ideia do que é ser médico ou paciente dentro do Sistema Único de Saúde”, defende.

“Pega-Pega” – de segunda a sábado, às 19h30, na Globo.

Sob Pressão” – Quinta, às 22h35, na Globo.

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