POR CAROLINE BORGES
TV PRESS
A liberdade sempre pautou a trajetória de Marcella Muniz. Até mesmo quando transitar entre uma emissora e outra era visto como prejudicial para a carreira – até bem pouco tempo, a Globo dificilmente recontratava profissionais que aparecessem em produções das concorrentes, por exemplo. Mesmo assim, a atriz exercia sua autonomia com convicção, fato que a fez acumular trabalhos na Band, Manchete e SBT. Desde 2017 na Record, a atriz resolveu não renovar com a casa e se jogar nas novas possibilidades do mercado audiovisual. Um convite carinhoso, entretanto, acabou fazendo com que ela retornasse aos Estúdios Globo para viver a elegante Cândida de “Além da Ilusão”. “Fui muito feliz na Record e tive personagens incríveis. Chegou um momento, entretanto, onde comecei a me sentir meio acomodada. Resolvi ficar sem contrato e logo o produtor de elenco Fábio Zambroni me ligou falando sobre a Cândida. Amei a proposta da novela e topei na hora”, conta.
Na trama de Alessandra Poggi, Cândida é uma famosa modista responsável por vestir as damas da alta sociedade. É no seu atelier que Dora, protagonista de Larissa Manoela, dá os primeiros passos como estilista. “Cândida enxerga o talento de Isadora para a moda. Minha personagem acaba incentivando e dando oportunidade para que essa jovem tão promissora possa ter uma guinada profissional”, explica. Em cena, Marcella se mostra encantada com os figurinos da atual trama das seis, trabalho inspirador realizado por Paula Carneiro. Embora tenha diversas experiências em tramas de época, é a primeira vez da atriz em uma novela ambientada nos anos 1940. “Apesar dos anos de guerra, é um momento marcado por grande efervescência cultural e o nascimento de novos costumes e comportamentos. O texto foca bastante na luta das mulheres por mais igualdade”, analisa.
Pouco antes de começar a gravar, Marcella resolveu assistir aos primeiros capítulos da trama e ler um pouco mais sobre as tendências da moda naquele período histórico. Ao chegar nos Estúdios Globo, ficou feliz ao ser recebida por uma “velha” companheira de trabalho: Larissa Manoela. Em 2016, elas se encontraram no set de “Cúmplices de um Resgate”, novela exibida pelo SBT e hoje um dos grandes sucessos da Netflix. “Lala é uma menina muito querida e talentosa. Fomos muito felizes trabalhando juntas em uma produção que até hoje conquista gerações de crianças e jovens. Gosto de contracenar com atores mais novos que são comprometidos com a profissão”, elogia a atriz, que não esconde a empolgação em ver as produções culturais voltando ao ritmo normal depois do setor audiovisual praticamente parar nos primeiros meses da pandemia. “O mercado está aquecido e cheio de novas produções a caminho. Fiquei meses parada em casa e foi desesperador. O destrato com a cultura é algo que me envergonha nesse país. Mas somos resistentes e sabemos que a arte salva, humaniza, distrai, ensina e emprega. É essencial para a sociedade”, ressalta.
Natural do Rio de Janeiro, Marcella tinha apenas 15 anos quando pisou pela primeira vez em um estúdio de tevê na pele da Maninha de “Os Imigrantes”, trama épica de Benedito Ruy Barbosa exibida pela Band em 1981. Na mesma década, assinou com a Globo, onde teve papéis de destaque em folhetins como “Pão-Pão, Beijo-Beijo”, “Sassaricando” e “O Salvador da Pátria”. “Era para eu ter feito mais novelas nos anos 1980. Mas acabei engravidando entre um trabalho e outro e tive de parar um pouco para viver meu melhor papel, o de mãe”, entrega, sem ressentimentos, a atriz que ainda esteve em sucessos como “Uga-Uga”, de 2000, e o “remake” de “O Astro”, de 2011.
Com pouco mais de quatro décadas dedicadas às Artes Cênicas, Marcella volta ao básico ao tentar explicar sua paixão pelo ofício. “Amo atuar, construir personagens, viver histórias e defender meus papéis com unhas e dentes”. destaca. Além da atual novela das seis, Marcella tem aparecido bastante na reprise de “Pão-Pão, Beijo-Beijo”, trama de 1983, onde viveu a típica adolescente Regina. Apesar de adorar o saudosismo e os resgates feitos pelo canal pago, ela assume uma certa resistência em rever trabalhos antigos. “Acho tudo meu muito cru. Me critico demais e me dá saudade de muita gente que se foi. O lado bom de rever esses trabalhos é só ter a certeza de que amadureci”, compara.