Orlando Morais Jr.
masculino de agir, e com isso se tornou uma caricatura de uma força que não lhe pertence. Vive cansada, rígida, desconectada da fonte espiritual que lhe daria leveza e alegria. Ao invés de atrair, torna-se fonte de repulsa. Ou, o que é pior, sendo ela repulsiva, atrai apenas o que há de mais repulsivo no mundo e no outro. Fala-se hoje em empoderamento, mas raramente em elevação.
Exalta-se a mulher que conquista, mas ignora-se a que transforma. Louva-se a que enfrenta o mundo, mas despreza-se a que o cura. Contudo, a verdadeira grandeza feminina não está na imposição, mas na doação.
A mulher não nasceu para competir com o homem, mas para completar o que nele é incompleto — e para recordá-lo, em meio às batalhas, que há algo mais alto que o poder. Na ordem espiritual, como ensinam os filhos de Olavo de Carvalho, Tales e Luiz Gonzaga, a bondade é uma das quatro grandes potências divinas — junto da Força, da Beleza e da Majestade.
É o movimento amoroso de Deus em direção às criaturas. Quando Cristo toca o leproso, perdoa a mulher adúltera ou chora diante da morte de Lázaro, é a Bondade que se manifesta: não como sentimentalismo, mas como poder de regenerar o que estava perdido. A mulher é o espelho terreno dessa potência.
Quando ama, ela cura; quando acolhe, ela ordena; quando perdoa, ela vence. A professora que vê no aluno rebelde uma dor e o chama pelo nome com ternura, a enfermeira que limpa as feridas de um doente sem repulsa, a esposa que, diante da fraqueza do marido, responde com oração silenciosa em vez de desprezo — todas participam, sem o saber, da mesma virtude que sustenta o mundo. A mulher verdadeiramente boa não é passiva nem ingênua.
A mulher é o espelho terreno dessa potência. É firme e mansa ao mesmo tempo
É firme e mansa ao mesmo tempo. Sabe perdoar sem perder a justiça e servir sem abdicar da dignidade. Sua presença ordena, ilumina e dá sentido. Onde há uma mulher boa, há sempre um núcleo de paz. Na tradição cristã, Maria é o arquétipo da mulher plenamente realizada. Sua força não está em dominar, mas em consentir:
“Faça-se em mim segundo a tua vontade.” Nela, a Bondade se fez carne e tornou-se caminho de salvação. Em todas as tradições, o princípio feminino é o que reconcilia, cura e reordena o mundo: Deméter, que devolve a fertilidade à terra; Ísis, que recompõe o corpo de Osíris; Sofia, que reflete a Sabedoria divina.
O mistério é sempre o mesmo — o poder de restaurar o que foi rompido. A beleza da mulher não está na aparência, mas no modo como ela faz existir o que ama. A bondade é a beleza em ato — a transparência de uma alma que nada deseja senão o bem do outro. Uma mulher verdadeiramente boa ilumina o que é feio, pacifica o que é hostil e dá sentido até ao sofrimento.
A mulher só se realiza na bondade porque é nela que se torna inteira, fecunda e luminosa. Toda vez que é boa, ela volta a ser o que era no princípio: reflexo da Bondade que tudo criou. *Orlando Morais Jr é filósofo e jornalista









