*Eliane Souza
O brasileiro está comendo menos arroz com feijão, para espanto dos estudiosos sobre essa combinação que um dia já foi a preferida da gastronomia nacional e inspirou até mesmo letra de música.
Quem não se lembra da música O preto que satisfaz, sucesso na voz das Frenéticas? Pesquisa recente da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) mostrou que o consumo médio de arroz por pessoa foi de 34 kg, quase 15 kg a menos do que o registrado em 1997, em dados da própria empresa, que foi considerado o pico do consumo médio do arroz. Já o de feijão foi registrado o consumo médio de 13, 56 kg, quando a máxima um dia já foi de 26,57 kg, alcançada em 1967.
A queda no consumo do arroz com feijão acende um alerta: o que está acontecendo? Esta mudança está relacionada ao menor tamanho das famílias, com menos filhos hoje em dia, ou há outros motivos impulsionando a tendência? A vida é cada vez mais corrida, e a rotina mais intensa, deixando cada vez menos tempo para cozinhar. Uma solução tem sido os alimentos práticos e rápidos.
Em vez de passar pelo processo de fazer arroz e feijão, mais pessoas estão recorrendo a alimentos processados e refeições rápidas. Faz todo sentido para a mente moderna, programada para conveniência e rapidez. Pegue, por exemplo, as refeições pré-embaladas e congeladas: esse alimento conveniente não é apenas menos nutritivo do que sua contraparte caseira, mas também substitui pratos tradicionais. A crescente preocupação com a saúde também desempenha um papel importante nesse contexto.
Dietas como a low carb, por exemplo, se tornaram populares e incentivam a redução da ingestão de carboidratos, como o arroz e o feijão. Ao mesmo tempo, pessoas com maior poder financeiro buscam por alternativas alimentares consideradas mais "modernas", como utilizar alimentos diferenciados, como quinoa, grão-de-bico e até produtos de maior valor agregado, afastando-se dos alimentos tradicionais. No aspecto econômico, a troca do feijão e arroz por outros alimentos também é um contrassenso.
Arroz e feijão são o raro encontro entre saúde, tradição e custo-benefício
O arroz e feijão continuam sendo uma das combinações mais baratas e nutritivas disponíveis, com excelente rendimento para as famílias. Poucos alimentos entregam tanto por tão pouco. Apesar da queda no consumo de arroz e feijão, eles ainda têm um papel cultural e nutricional importante no Brasil. São fontes de proteína vegetal e carboidratos essenciais, especialmente em uma dieta equilibrada.
O que essa queda diz sobre o futuro do nosso sistema alimentar? Que estamos numa encruzilhada. Se continuarmos terceirizando o fogão para a indústria, a tendência é um cardápio cada vez mais individual, embalado e prático, porém pobre em nutrientes e rico em aditivos.
Não precisamos viver no fogão, nem virar chef. Precisamos de atalhos inteligentes que mantenham o que importa. Arroz e feijão são o raro encontro entre saúde, tradição e custo-benefício. Se a vida ficou corrida, tudo bem, só não deixe a pressa decidir o seu prato. Cozinhe um pouco hoje, congele para amanhã e devolva ao seu dia a energia que vem do básico bem-feito.
O cenário é preocupante, mas a inovação no setor de alimentos será essencial para que os alimentos tradicionais continuem presentes na mesa brasileira. A queda no consumo de arroz e feijão também abre portas para a reinvenção desses grãos.
O futuro da alimentação no Brasil será marcado por uma combinação de inovação, praticidade, saúde e sustentabilidade, sem perder o vínculo com as tradições alimentares que fazem parte da nossa cultura.









