Por Luciano Vacari
Os produtos com Indicação Geográfica (IG) brasileira têm a região produtora reconhecida como um diferencial de origem, qualidade e identidade cultural, e temos aqui vários bons exemplos como o vinho, o café, a cachaça e o queijo. Mas apesar do sucesso, continuamos a desperdiçar uma oportunidade enorme de mostrar ao mundo os mais diversos produtos feitos no Brasil. A indicação geográfica é um instrumento internacional utilizado para agregar valor a um produto, proteger a região e os produtores e atestar aos consumidores a origem e a qualidade do que estão comprando.
Outro importante instrumento à disposição dos produtores e consumidores é o selo de identificação artesanal, que apesar de ter sido criado em 1950, somente em 2022 teve sua regulamentação pelo governo brasileiro. Os produtos artesanais são elaborados com matéria-prima de origem animal, de produção própria, fabricados com a utilização de técnicas predominantemente manuais por indivíduo que detenha o domínio integral do processo produtivo e utilize receita preferencialmente tradicional respeitando as características regionais e costumes.
Na pecuária, por exemplo, não existe um modelo produtivo mais verde e integrado ao meio ambiente do que a criação de gado nos campos brasileiros
No Brasil, alguns produtos usufruem desta ferramenta, como é o caso do queijo da Canastra. Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro pelo Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o queijo da Canastra é reconhecido internacionalmente. Assim como a cachaça brasileira, que também possui IG da região de Salinas, em Minas Gerais. Mas quando analisamos estes produtos certificados, observamos que eles possuem muitas coisas em comum, principalmente o fator cultural, afinal o selo artesanal ou a identidade geográfica são ferramentas para perpetuar os costumes e atividades de regiões e comunidades que possuem importante papel histórico, econômico, social e ambiental no Brasil.
As regiões Sul, Sudeste e Nordeste estão bastante avançadas neste processo de reconhecimento da originalidade de seus produtos, porém há poucos registros nas regiões Centro-Oeste e Norte. Será que estamos tão carentes assim de originalidade? As riquezas do interior do Brasil têm grande potencial, mas ainda faltam iniciativas coletivas, associativistas e que valorizem o conhecimento passado de geração em geração. Na pecuária, por exemplo, não existe um modelo produtivo mais verde e integrado ao meio ambiente do que a criação de gado nos campos brasileiros.
A atividade é realizada em harmonia com os ecossistemas, garante o sustento das famílias e ainda tem como diferencial a carne com sabor específico dos bois criados a pasto. Identificar e certificar rebanho do Pantanal, do Guaporé e do Araguaia pode ser uma forma para criar identidade aos produtos, assim como fizeram os produtores dos Pampas Gaúchos que possuem a Identificação Geográfica do gado da região.
E podemos ir além, por que não certificar a procedência da carne brasileira? A pecuária nacional é a atividade que está presente em todos os municípios do país, foi importante instrumento de ocupação do território, para produção de alimentos e desenvolvimento social. Sem falar que a carne brasileira tem características próprias que a tornam uma iguaria singular. Mostrar de onde veio pode ser o diferencial para a valorizar os produtos originais do Brasil, gerando renda para o campo e garantindo qualidade na mesa do consumidor.
*Luciano Vacari é gestor de agronegócios e diretor da Neo Agro Consultoria