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Variedades Sexta-feira, 20 de Janeiro de 2017, 00:00 - A | A

20 de Janeiro de 2017, 00h:00 - A | A

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Antonio Calloni volta ao universo árabe na pele do resignado Halim de "Dois Irmãos"



Geraldo Bessa
TV Press

Palavras em árabe surgem na boca de Antonio Calloni de forma natural. Também pudera. Na pele do libanês Halim, de "Dois Irmãos", o ator vive seu terceiro personagem ligado à cultura muçulmana. "Deve ser o nariz, o olhar, o porte. Nunca questionei as escalações porque me apaixonei completamente pelos projetos. Só sei que é sempre um mergulho diferente. A cultura árabe tem inúmeras variações", conta ele, que também viveu o marroquino Mohamed no sucesso "O Clone", de 2001, e, anos mais tarde, o Turco Mustafá na controversa "Salve Jorge". "A grande diferença do Halim em relação aos outros é a densidade. É um personagem refém de uma tragédia familiar", ressalta.
Paulistano radicado no Rio de Janeiro, aos 55 anos, Calloni é um inquieto nato. Com o coração dividido entre a literatura e a atuação, ele se empolga ao falar de sua trajetória na tevê, iniciada com um pequeno papel em "Hipertensão", de 1986. Com breves passagens por emissoras como SBT e Manchete, foi na Globo que desenvolveu seus personagens de maior destaque, especialmente, em obras assinadas por autores como Lauro César Muniz, Maria Adelaide Amaral e Glória Perez. "Meus personagens foram ganhando mais força ao longo dos anos. De maneira geral, os autores sempre foram muito generosos comigo", acredita o ator, que já grava "A Força do Querer", próxima trama das nove, seu quinto trabalho sob a assinatura de Perez. "Será diferente de tudo que já fiz", despista.
P - Em "Dois Irmãos", você volta a interpretar um personagem de origem árabe assim como fez em "O Clone" e "Salve Jorge". Deu para aproveitar alguma coisa dos outros trabalhos na construção do Halim?
R -
Foi muito diferente. A distância e falta de interesse na cultura alheia fazem a gente achar que árabe é tudo igual. É um choque quando a gente descobre o abismo que existe entre povos árabes do Líbano, da Turquia ou do Marrocos, por exemplo. Mas é claro que algumas lembranças me foram úteis. A preparação para "O Clone" foi tão intensa que lembro até hoje da primeira "surata", ou capítulo, do Alcorão. O tom dos trabalhos são completamente diferentes. Para "Dois Irmãos", tive de aprender poesias, fiz muitas aulas de dança. Mohamed e Mustafá tinham suas complexidades, mas não eram tão densos.
P - Personagens de composições muito fortes são recorrentes na sua carreira. É uma preferência sua?
R -
Eles caem nas minhas mãos (risos). E eu aproveito as oportunidades para cometer algumas ousadias. A televisão tem ficado cada vez mais naturalista. Esses trabalhos me levam para uma atuação mais artística, mais livre. É claro que existe apego à realidade. Para buscar o tom exato do papel, é preciso "mergulho" e equilíbrio. Então, é quando posso me utilizar de um figurino mais elaborado, uma caracterização mais detalhada.
P - O que mais o encantou no Halim?
R -
Halim vai da violência brutal ao amor extremo. Adorei o fato de ele não ser um personagem linear. Ao ler o texto, me emocionei profundamente com o amor que ele sente pela esposa, assim como a carência afetiva que o acompanha depois que o casal tem filhos.
P - Você protagoniza cenas de forte apelo sensual ao lado da Juliana Paes, intérprete da Zana na fase adulta. Como foi a concepção dessas sequências?
R -
Conheço a Juliana há muito tempo. Nos cruzamos nos bastidores de trabalhos como "O Clone", "Caminho das Índias" e "O Astro". As cenas de sexo de "Dois Irmãos" não são sutis como as de uma novela. Elas estão inseridas na densidade que marca todo o texto. Ator não pode ter qualquer tabu com isso e Juliana foi uma companheira de cena fantástica. Foi tudo muito fácil, prazeroso e feliz. Acho que o bom entrosamento profissional fica muito evidente na exibição. Aliás, o elenco todo teve uma forte sintonia. Acho que isso tem a ver com a preparação feita com todo mundo junto no Galpão do Luiz (Fernando Carvalho, diretor).
P - Esse processo também foi importante para facilitar a divisão do mesmo personagem com outros atores?
R -
Sim. Nossa missão era encontrar o ponto em comum do Halim em diferentes fases. A troca artística com o (Antônio) Fagundes foi muito positiva. Ele tem uma assinatura muito própria sobre os personagens, e foi de uma generosidade maravilhosa. E aprendi muitas coisas com o Bruno (Anacleto), que faz o Halim na juventude. Ele ficou com a origem do papel, deu o tom para os atores que vieram depois. Então, minha referência foi o desempenho dele. Acho ótimo chegar nessa etapa da carreira e ver que tenho muito a aprender com essa novíssima geração.

"Dois Irmãos" - Globo - De segunda a sexta, às 23h.

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