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"Infelizmente eu tive vários contatos com a violência sexual, no total quatro vezes. A primeira vez eu tinha sete anos. Com a minha família na sala, um primo de 19 anos recém-saído do Exército me pediu para ver meu quarto novo. Chegando lá, ele me empurrou sobre a cama, me segurou, baixou minha calcinha e me chupou. Eu não tinha ideia do que estava acontecendo, a sensação horrorosa de que tinha algo muito errado, ele tapando minha boca, eu imobilizada. De ponta cabeça, minha boneca preferida me encarava, e tudo que eu conhecia do mundo mudava radicalmente naqueles minutos. Minha irmã percebeu que estávamos demorando para voltar e subiu, me salvando do que poderia acontecer ainda", declarou a atriz.
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Atualmente com 40 anos, casada e com dois filhos, Rachel conta que ainda guarda marcas da violência que sofreu. "A quarta vez foi com 21 anos. Foi no fim da tarde, eu estava patinando no Parque da Aclimação, em São Paulo. Eu vestia calça de moletom, camiseta e usava um rabo de cavalo. Um homem trombou em mim e nós dois caímos no chão. Parei para socorrê-lo. Ele me pegou pelo pescoço, me arrastou até a uma árvore. Tinha uma faca e esperou anoitecer para me estuprar. Lutei muito. Ele me asfixiava, eu desmaiava, ele esperava eu acordar para continuar. Foram quatro horas de luta. Ele fazia tanta força na minha boca para ficar fechada que depois tive que costurar minha língua, fiquei toda machucada. Teve um momento que eu não aguentava mais lutar. Depois que ele acabou, me levou ao lago para me lavar e me ajudou a pular o muro".
Depois de Letícia Sabatella e Rachel Ripani fazerem relatos corajosos sobre abusos sexuais sofridos na infância, outras personalidades aderiram à campanha para incentivar mulheres a compartilharem o problema dando seu testemunho. O movimento teve início após a repercussão do caso da participante do "MasterChef Júnior" de 12 anos que foi vítima de comentários pedófilos nas redes sociais (ver galeria abaixo).
Paola Carosella, 43 anos, chef e jurada do "MasterChef"
"Tinha 11 ou 12 anos e estava num ônibus na Argentina indo para a escola. Um homem colou em mim e começou a se masturbar. Tentei achar um espaço para fugir, mas ele bloqueava todos os meus movimentos com o corpo. Lembro do medo de que as pessoas olhassem para mim como se a culpa fosse minha. Quando consegui força e coragem, empurrei ele e desci do ônibus. Não conseguia andar. Minhas pernas tremiam. Nunca contei isso a ninguém, pois a sensação era de vergonha, como se a culpa fosse minha."
Betty Gofman, 50, atriz
Tinha 16 anos e fazia ginástica muito cedo na academia. Era sempre só eu e o professor. Um dia, ele me chamou para uma salinha e me encurralou. Me agarrou e encoxou. Travei. Ele percebeu e parou. Não contei a ninguém porque era conhecido da família. Hoje faria tudo diferente.
Elke Maravilha, 70 anos, atriz
Tinha uns dez anos, morava na roça e ía para a escola de bicicleta. Parei para tomar água. Apareceu um cara e mostrou o pênis. Virei as costas e fui embora. Quando acontece algo assim, não se trata de sexo, mas de poder. Mais velha, um cara tentou me estuprar. Tireia roupa e disse: vem! Ele brochou.
Ana Estela Haddad, primeira-dama de São Paulo
"Eu tinha 12 anos. Havia visto um filme romântico no cinema com uma prima minha. Gostei do filme e resolvi assistir de novo, mas não tinha ninguém para me fazer companhia. Fui numa sessão de tarde, havia poucas pessoas. Um senhor bem mais velho sentou do meu lado, com um intervalo de uma cadeira. Durante a sessão, ele começou a se masturbar. Eu não entendi direito o que ele estava fazendo... Aquilo me perturbou demais. Eu não estava preparada para aquela situação. Saí um pouco antes de terminar a sessão. Tinha apagado essa memória da minha mente. Comecei a ler um pouco sobre o assunto [do primeiro assédio] e a lembrança foi vindo."
Depois de Rachel Ripani, Letícia Sabatella entrou na campanha #PrimeiroAssédio, que bombou as redes sociais com relatos de mulheres contando a primeira vez em que sofreram assédio sexual. Na manhã desta quarta-feira (28), a atriz escreveu um depoimento no Facebook, contando que já foi abusada na infância. A seguir, leia o desabafo de Letícia na íntegra:
"Eu devia ter 12 anos. Voltava de ônibus da aula de Ballet, no Teatro Guaíra. Descia na rua da minha casa, umas duas grandes quadras antes, acostumada a esse caminho.
A rua deserta e larga , de calçadas largas, casas com jardins e portões distantes da rua, eu pela calçada, passarinhos e silêncio.
Um carro, um corcel vermelho, vinha pela rua ampla, reta e longa, parou à minha altura, eu na larga calçada mais próxima aos jardins das casas do que da rua, perguntou-me:
Qual o nome dessa rua?
- Raphael Papa.
- Hein? Não consigo ouvir.
Eu falei mais alto e, de algum modo ele fez com que eu me aproximasse do carro para que ele conseguisse "ouvir e entender" direito .
Foi então que percebi seus olhos verdes avermelhados e estatelados, um pau gigantesco em suas mãos, o olhar doente e pessimamente intencionado!
A rua deserta, ainda uma longa distância até minha casa.
Olhando fixamente em seus olhos, dei passos precisos, sem pressa, pra trás, peguei, sem tirar os olhos dos dele, um tijolo de um montinho de construção, atrás de mim e fiquei parada, pronta para o que viesse.
Ele ainda exitou, antes de partir lentamente , seus olhos em mim, eu o vi descer a rua ao longe , virar o carro e ainda voltar na minha direção, passando novamente pelo ponto onde eu o ameaçava com meu olhar fixo em seus movimentos, o tijolo na mão.
Quando o vi desaparecer da minha vista, corri até minha casa, coração a mil, um nojo daquilo, a minha forma de medo.
A gratidão pelo tijolo da construção".