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Variedades Sexta-feira, 17 de Agosto de 2018, 00:00 - A | A

17 de Agosto de 2018, 00h:00 - A | A

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Diferença vivida

Carta Z



por Anna Bittencourt
TV Press

Já faz 13 anos que Fabrício Boliveira deixou Salvador rumo ao Rio de Janeiro. Depois de trabalhar muito com publicidade e fazer algumas peças de teatro, o intérprete do Roberval de “Segundo Sol” se juntou à fina flor da geração de novos talentos baianos, que incluía nomes como Vladimir Brichta, Wagner Moura e Lázaro Ramos. Juntos, eles fizeram “A Máquina”, de 2005, que abriu as portas para a teledramaturgia. No ano seguinte, Boliveira já era assunto por dar vida ao escravo Bastião, de “Sinhá Moça”. De lá para cá, esteve em quase dez produções da Globo. Apesar disso, ele é frequentemente confundido nas ruas. “Chamam de Lázaro, de Seu Jorge, de Jonathan (Azevedo), Flávio (Bauraqui)...”, conta. Apesar de jurar que, na maioria das vezes, leva na brincadeira, ele considera um grave sintoma no que diz respeito à representatividade de atores negros na tevê. “Isso faz com que as pessoas vejam um e ache que é o que viu anteriormente. Elas sequer registram. E somos pessoas muito diferentes, inclusive, fisicamente”, afirma.
A novela de João Emanuel Carneiro, aliás, foi sabatinada antes mesmo de estrear. Toda retratada em Salvador, “Segundo Sol” tem poucos atores negros em seu elenco. Por isso, o folhetim foi amplamente criticado pelo público e até pelos profissionais envolvidos na produção. Boliveira faz coro. “É um sinal dos tempos. A novela pintou a Bahia de uma forma e a população notou que não condizia com a realidade. É uma questão de identidade. O movimento negro está mais preparado para conduzir essa discussão e as pessoas precisam estar abertas ao diálogo”, explica. Apesar dos mal-entendidos, ele garante que a repercussão de Roberval tem sido, até agora, a maior de sua carreira. “Tenho sido abordado nas ruas e acho gostosa a sensação de estar virando outra pessoa”, diverte-se.
Acostumado a ver novelas desde pequeno e acompanhar o maniqueísmo que costuma envolver esse tipo de produção, Boliveira não esconde a alegria de poder trabalhar em um texto de João Emanuel Carneiro. “Não é sobre ser bom ou ser mau, até porque ninguém é só isso. É uma história sobre pessoas, passando por momentos fáceis ou difíceis, e como elas lidam com isso”, revela. Na história, Roberval é filho de uma relação extra-conjugal do patrão, Severo, interpretado por Odilon Wagner, com a empregada, Zefa, de Cláudia di Moura. “Toda a condição dele, desde o pai que o abandonou, até a mãe, que escolheu o irmão branco para viver no conforto e o deixou naquela posição servil, incitam essa discussão. E eu acho muito importante que se fale sobre isso”, opina. Apesar disso, ele não é o tipo de ator que defende seu personagem até as últimas consequências. Para Boliveira, o espírito de vingança de Roberval passou dos limites. “Até entendo as motivações dele, mas não acho que nada justifique”, explica.
Pelo caráter dúbio de Roberval, o ator precisou fazer um mergulho profundo para dar vida ao personagem. Para ter um discurso mais apropriado sobre as diferenças sociais, se dedicou a textos de sociólogos como Jessé de Souza e viu filmes que marcavam a diferença entre negros e brancos. Além disso, precisou emagrecer, já que tinha ganhado peso para um personagem do cinema. “Fiz um trabalho pesado de musculação. E fiquei o Carnaval inteiro sem beber cerveja. Foi dureza”, ri. O resto, segundo ele, foi fácil. “Resgatei minhas origens. Tanto na fala, como na forma de andar e no linguajar. Comi muito acarajé e dendê”, diverte-se.

Sem parar

O cinema é uma das grandes paixões de Fabrício Boliveira. Apesar de ter trabalhado muito no teatro e na tevê, ele acredita que foi o longa “Faroeste Caboclo”, de 2013, que abriu portas para personagens maiores. No filme de Renê Simões, o ator interpretou João de Santo Cristo, da icônica música da banda de Renato Russo, Legião Urbana. “Foi um trabalho lindo, que me deu muito orgulho. A parceria com a Isis (Valverde) também rendeu muito bem”, relembra, citando a atriz que interpretou Maria Lúcia. 
A dobradinha entre os atores voltou a se repetir no cinema. Boliveira tem, para os próximos meses, cinco filmes para estrear. Um deles é “Simonal”, no qual interpreta o protagonista Wilson Simonal - Isis será Tereza, mulher do cantor falecido em 2000. Mais do que bons trabalhos, ele prioriza boas parcerias. Inclusive, “Segundo Sol” atende a um pedido do ator feito há dois anos para a Globo. “Pedi para fazer um par romântico com a Fabiula Nascimento. Demorou, mas consegui”, comemora.

 

Instantâneas

# Nascido em uma família de classe média de Salvador, Fabrício tem 36 anos.
# Seu primeiro trabalho artístico profissional foi na montagem de “Capitães de Areia” para o teatro, em 2002.
# Na Globo, sua primeira aparição foi em uma participação em “Cidade dos Homens”.
# Antes disso, ele havia apresentado por dois anos o “Tô Chegando”, programa do governo da Bahia.

 

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