Reportagem
Mato Grosso do Norte
A Gerência de Combate aos Crimes de Alta Tecnologia (Gecat), da Polícia Judiciária Civil, auxiliará as Delegacias de Polícia nas investigações que apuram pretensos delitos decorrentes do desafio virtual, denominado “Baleia Azul”.
A Gecat ficará encarregada pela elaboração de relatórios técnicos que possam auxiliar na identificação da autoria da pessoa, que está por trás do jogo, monitorando os desafios, e também das representações cautelares, visando à quebra de sigilo telemático e afins.
Uma força-tarefa, entre as células de inteligência de todas as forças de segurança, foi criada pela Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp), para troca de informações entre os núcleos de inteligência.
Conforme noticiado na imprensa, curadores do jogo estão se utilizando da rede mundial de computadores para influenciar adolescentes e crianças ao cometimento de suicídio, sendo certo que as vítimas seriam escolhidas a partir de seus perfis mais frágeis à pressão psicológica realizada pelos curadores durante os desafios realizados.
O delegado coordenador da Gecat, Eduardo Augusto de Paula Botelho, explicou que a conduta do curador do jogo está sujeita à punição prevista no artigo 122 do Código Penal, caso o jogador cumpra o desafio final com êxito ou se da tentativa de suicídio resulte lesão corporal de natureza grave.
O delegado esclarece ainda que se a vítima desistir e efetivamente sofrer ameaças, o autor comete o crime previsto no artigo 147, também do Código Penal, que estabelece: “Ameaçar alguém, por palavra, escrito ou gesto, ou qualquer outro meio simbólico, de causar-lhe mal injusto e grave”, cuja pena é de detenção de um a seis meses ou multa.
Chamado “Desafio da Baleia Azul”, o jogo funciona da seguinte forma: “o curador” (pessoa que controla o jogo) envia diariamente, por 50 dias, um desafio, sempre às 4h20 da madrugada, para um grupo de pessoas, sob a pena de serem expostas na rede.
O jogo termina no desafio 50, quando o participante tira a própria vida. Em Mato Grosso, a "brincadeira" já fez uma vítima fatal.
Casos - O único caso de morte em Mato Grosso, relacionada ao jogo virtual, Baleia Azul, confirmado até o momento pela Polícia Judiciária Civil, se refere ao suicídio de uma adolescente em Vila Rica.
Um inquérito policial foi instaurado para apurar as circunstâncias da morte da jovem Maria de Fátima da Silva Oliveira, 16 anos, encontrada sem vida em uma represa do bairro Inconfidentes, no dia 11 de abril.
Em Tapurah, a Polícia Civil apura um caso suspeito de estar ligado ao jogo virtual. Na última quarta-feira, 19, a mãe de uma criança de 10 anos foi orientada pelo Conselho Tutelar a procurar a Polícia para comunicar que a filha de 10 anos estava com os braços lesionado, nervosa e desorientada. A mãe também relatou que fez buscas no celular e constatou que a menina tinha apagado as mensagens de conversas no aplicativo WhatsApp.
Orientação- As orientações da PJC são voltadas aos pais, que devem estar atentos aos filhos enquanto estão nas redes sociais. Os responsáveis precisam monitorar o que os filhos fazem e saber com quem falam, principalmente, na madrugada.
Para a psicóloga e especialista em abordagem sistêmica familiar, Laura de Oliveira Gonçalves, de 32 anos, a disposição de jovens e adolescentes para participar do desafio pode se dar por diversos motivos, que vão da depressão à carência.
De acordo com a especialista, o que está faltando em muitos pais é a conversa franca com as crianças e principalmente os adolescentes.
A psicóloga chama atenção para os novos padrões que os pais permitem que os filhos vivam. De acordo com ela, as crianças hoje permanecem 90% do tempo em um mundo virtual, não saem mais para brincar. O que, para ela, facilita com que eles entrem em games suicidas. Laura faz um alerta em relação à internet.
“Os pais apresentam a internet para as crianças muito cedo. Na verdade, hoje tudo é muito precoce para a criança. Você pode perceber que o namoro está vindo mais cedo, os pais estão liberando os filhos para irem no cinema sozinhos. Então eu creio que o que falta é voltar para os padrões de antigamente. A atenção aos filhos, principalmente agora, é imprescindível. ”, disse.
Quanto ao jogo que se diz novo no Brasil, a psicóloga garante que o desafio já era conhecido entre os menores. Apenas foi descoberto pela sociedade após acontecer a primeira morte. “Há muita gente que tem depressão e não sabe que tem. Há muita gente que tem ansiedade generalizada e não sabe”, explica.