Rosana Leite Antunes de Barros
O Dia Internacional das Meninas, celebrado em 11 de outubro, não é apenas uma data simbólica. É um lembrete urgente das desigualdades estruturais que ainda marcam a vida de milhões de meninas no Brasil e em todo o mundo.
Instituído pela Organização das Nações Unidas em 2011, a data surge como uma resposta global às desigualdades históricas que atravessam a vida de meninas em diferentes contextos sociais e culturais. Mais do que uma celebração, trata-se de uma data que evidencia a necessidade de refletir sobre os desafios que limitam o pleno exercício da cidadania feminina desde a infância. Se perfaz em um marco de denúncia e de luta contra o patriarcado, o racismo e a desigualdade de classe que estruturam as opressões vividas por meninas em todo o mundo.
Enquanto crescem os discursos por igualdade, a realidade mostra um enorme abismo, pois as meninas crescem envoltas a inúmeras violências de gênero. Elas enfrentam: violência doméstica, exploração sexual, casamentos e uniões precoces, evasão escolar causada pela pobreza menstrual e pela divisão desigual das tarefas domésticas. O patriarcado ainda tem naturalizado os papéis sociais, e impõe limites à autonomia feminina desde a infância.
No Brasil, dados do IBGE (2022) e do UNICEF revelam que meninas negras e indígenas estão entre as que mais sofrem com a evasão escolar, os casamentos e as gestações precoces. Além disso, enfrentam maiores índices de violência doméstica e exploração sexual. Esses elementos confirmam que a desigualdade de gênero não pode ser analisada de forma isolada, mas em diálogo com os marcadores sociais da diferença As mulheres não são cuidadoras por natureza.
O patriarcado ainda tem naturalizado os papéis sociais, e impõe limites à autonomia feminina desde a infância
Entretanto, elas são educadas para obedecer, servir e cuidar. Já os meninos são educados para liderar, ocupar e conquistar espaços. Essa educação desigual repercute em toda a trajetória de vida das meninas, limitando oportunidades profissionais, políticas e sociais. Ao mesmo tempo, são elas as primeiras a serem responsabilizadas pelo cumprimento das tarefas domésticas.
É preciso reafirmar que a luta feminista não é opcional no Dia Internacional das Meninas. Ela é condição para que essa data não se torne apenas mais um item no calendário. Garantir direitos a meninas significa investir em políticas públicas que assegurem acesso universal à educação, à saúde reprodutiva, ao combate à violência de gênero e à igualdade de oportunidades.
As condições de vida de uma menina branca, de classe média, diferem profundamente daquelas enfrentadas por meninas negras, indígenas ou em situação de pobreza. A noção de interseccionalidade é fundamental para compreender como diferentes formas de opressão se entrelaçam, tornando meninas racializadas e periféricas ainda mais vulneráveis a violações de direitos.
No Brasil, as estatísticas são alarmantes. Segundo dados recentes do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, em 2024 o Brasil registrou 87.545 vítimas de estupro de vulnerável, e que é equivalente a uma pessoa estuprada a cada seis minutos.
O perfil das vítimas de estupros, segundo o estudo, revelou que 76,8% dos estupros foi contra vítimas menores de 14 anos. É de se ressaltar que 61,3% das vítimas totais tinha até 13 anos de idade, com faixa etária de 10 a 13 anos em maior concentração dos casos. Celebrar o Dia Internacional das Meninas é resistir para que nenhuma menina tenha seu destino traçado pela opressão de gênero, pela pobreza ou pelo racismo. É preciso transformar a data em mobilização pela vida, pela voz e pelo futuro das meninas. Garantir a liberdade delas é construir um mundo justo e igualitário.
A paquistanesa Malala Yousafzai, conhecida por defender a educação para meninas foi precisa: “Educação não melhora apenas a vida individual dessas meninas, mas também o país todo – a democracia, a economia, a estabilidade”.
Rosana Leite Antunes de Barros é defensora pública estadual, mestra em Sociologia pela UFMT