Quarta-feira, 08 de Outubro de 2025

Opinião Quarta-feira, 08 de Outubro de 2025, 10:15 - A | A

08 de Outubro de 2025, 10h:15 - A | A

Opinião /

Dia Internacional das Meninas

É preciso reafirmar que a luta feminista não é opcional



Rosana Leite Antunes de Barros 

O Dia Internacional das Meninas, celebrado em 11 de outubro, não é apenas uma data simbólica. É um lembrete urgente das desigualdades estruturais que ainda marcam a vida de milhões de meninas no Brasil e em todo o mundo.  

       Instituído pela Organização das Nações Unidas em 2011, a data surge como uma resposta global às desigualdades históricas que atravessam a vida de meninas em diferentes contextos sociais e culturais. Mais do que uma celebração, trata-se de uma data que evidencia a necessidade de refletir sobre os desafios que limitam o pleno exercício da cidadania feminina desde a infância. Se perfaz em um marco de denúncia e de luta contra o patriarcado, o racismo e a desigualdade de classe que estruturam as opressões vividas por meninas em todo o mundo.     

Enquanto crescem os discursos por igualdade, a realidade mostra um enorme abismo, pois as meninas crescem envoltas a inúmeras violências de gênero. Elas enfrentam: violência doméstica, exploração sexual, casamentos e uniões precoces, evasão escolar causada pela pobreza menstrual e pela divisão desigual das tarefas domésticas. O patriarcado ainda tem naturalizado os papéis sociais, e impõe limites à autonomia feminina desde a infância.       

      No Brasil, dados do IBGE (2022) e do UNICEF revelam que meninas negras e indígenas estão entre as que mais sofrem com a evasão escolar, os casamentos e as gestações precoces. Além disso, enfrentam maiores índices de violência doméstica e exploração sexual. Esses elementos confirmam que a desigualdade de gênero não pode ser analisada de forma isolada, mas em diálogo com os marcadores sociais da diferença As mulheres não são cuidadoras por natureza.

O patriarcado ainda tem naturalizado os papéis sociais, e impõe limites à autonomia feminina desde a infância

Entretanto, elas são educadas para obedecer, servir e cuidar. Já os meninos são educados para liderar, ocupar e conquistar espaços. Essa educação desigual repercute em toda a trajetória de vida das meninas, limitando oportunidades profissionais, políticas e sociais. Ao mesmo tempo, são elas as primeiras a serem responsabilizadas pelo cumprimento das tarefas domésticas.        

     É preciso reafirmar que a luta feminista não é opcional no Dia Internacional das Meninas. Ela é condição para que essa data não se torne apenas mais um item no calendário. Garantir direitos a meninas significa investir em políticas públicas que assegurem acesso universal à educação, à saúde reprodutiva, ao combate à violência de gênero e à igualdade de oportunidades.          

   As condições de vida de uma menina branca, de classe média, diferem profundamente daquelas enfrentadas por meninas negras, indígenas ou em situação de pobreza. A noção de interseccionalidade é fundamental para compreender como diferentes formas de opressão se entrelaçam, tornando meninas racializadas e periféricas ainda mais vulneráveis a violações de direitos.   

          No Brasil, as estatísticas são alarmantes. Segundo dados recentes do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, em 2024 o Brasil registrou 87.545 vítimas de estupro de vulnerável, e que é equivalente a uma pessoa estuprada a cada seis minutos.  

O perfil das vítimas de estupros, segundo o estudo, revelou que 76,8% dos estupros foi contra vítimas menores de 14 anos. É de se ressaltar que 61,3% das vítimas totais tinha até 13 anos de idade, com faixa etária de 10 a 13 anos em maior concentração dos casos.             Celebrar o Dia Internacional das Meninas é resistir para que nenhuma menina tenha seu destino traçado pela opressão de gênero, pela pobreza ou pelo racismo. É preciso transformar a data em mobilização pela vida, pela voz e pelo futuro das meninas. Garantir a liberdade delas é construir um mundo justo e igualitário.  

      A paquistanesa Malala Yousafzai, conhecida por defender a educação para meninas foi precisa: “Educação não melhora apenas a vida individual dessas meninas, mas também o país todo – a democracia, a economia, a estabilidade”.    

Rosana Leite Antunes de Barros é defensora pública estadual, mestra em Sociologia pela UFMT  

Comente esta notícia

Rua Ivandelina Rosa Nazário (H-6), 97 - Setor Industrial - Centro - Alta Floresta - 78.580-000 - MT

(66) 3521-6406

[email protected]