GERALDO BESSA
TV PRESS
Débora Bloch está acostumada aos mais variados tipos de emoções que acompanham a vida de uma atriz e suas personagens. Mas, em "Justiça", ela confessa que se surpreendeu. Na pele de Elisa, a zelosa mãe de Isabela, de Marina Ruy Barbosa, que vê a filha ser assassinada a sangue frio pelo namorado, Vicente, de Jesuíta Barbosa, a atriz garante que se sentiu tocada pela história triste e trágica assinada por Manuela Dias. "Como mãe, saber que essas coisas realmente acontecem mexe muito comigo. Pesquisar para a personagem e estudar as cenas me deixaram bem à flor da pele. Toda mãe tem medo de viver essa tragédia. É uma dor inimaginável", explica. Sete anos após o crime, o atirador se torna uma verdadeira obsessão para Elisa que, ao longo do tempo, tirou porte de arma e aprendeu a atirar, tudo para esperar a saída de Vicente do presídio. "Não defendo, mas entendo a Elisa. A série fala sobre quando as leis não são o suficiente para se fazer justiça. A vida dessa personagem é movida por injustiça e sede por vingança", explica.
Aos 52 anos, a atriz mineira mantém sua curiosidade artística intacta. Filha do ator Jonas Bloch e na tevê há mais de 30 anos, Débora logo driblou o posto de mocinha de tramas como "Jogo da Vida" e "Sol de Verão" ao ser reconhecida por sua forte verve cômica em trabalhos como "Cambalacho" e no humorístico "TV Pirata". No início dos anos 1990, empolgada com a reestruturação do setor de teledramaturgia do SBT, saiu da Globo para protagonizar "As Pupilas do Senhor Reitor". Na volta à emissora onde desenvolveu a maior parte de sua carreira, procurou por projetos mais diversificados e se destacou em produções como "Salsa e Merengue", "A Invenção do Brasil", "Cordel Encantado" e "Avenida Brasil". "Quando a gente faz o que gosta, tudo é diferente. Mantenho uma relação sadia e produtiva com a Globo e ótimos trabalhos estão surgindo. Não posso reclamar de nada", ressalta.
P – O realismo de "Justiça" impressiona. O que mais chamou sua atenção na personagem?
R – O incômodo que eu sentia pela história. Sempre que tenho uma nova personagem pela frente, faço o exercício de me colocar no lugar dela e das situações. No caso da Elisa, não gosto nem de imaginar. Sou mãe de uma jovem também e perder uma filha é a grande tragédia na vida de qualquer mãe. É um dos trabalhos mais pesados que já fiz. E a série carrega uma realidade enorme mesmo. Ao menor sinal de excesso, a gente recomeçava do zero. São emoções bem pontuais. Isso exige muita concentração e confiança no trabalho da direção. É até engraçado gravar cenas seguidas, mas em uma a Elisa aparece antes do crime, e em seguida já preciso ter a dor do assassinato cravada na personagem.
P – Essa falta de cronologia nas gravações atrapalha?
R – Não chega a tanto. Faz parte do trabalho de atriz. Estamos acostumadas a guardar ou liberar emoções de acordo com o roteiro. Sempre tenho em mente que é preciso pensar a personagem como um todo. Elisa não era tão leve antes da morte da filha, mas é claro que ela ganha alguma densidade a mais. Só que não tem nada muito drástico entre o antes e depois. Acho que ela fica mais focada e pragmática. Pois tudo o que quer é que o Vicente pague pelo crime da forma que ela acha justa.
P – A personagem aprende a atirar com o intuito de matar o algoz da filha. Como foi manusear um revólver?
R – Eu nunca tinha pegado em uma arma, nenhuma personagem tinha exigido isso ainda. Fiz algumas aulas de tiro. Foram poucas, mas interessantes. E o mais impressionante é que é bem mais simples que eu imaginava. A sensação de atirar é estranha, me senti mais insegura do que fazendo qualquer outra coisa. Foi importante para concluir a preparação que estava sendo desenvolvida.
P – É mais complexo se encontrar na personagem quando ela exige uma composição mais naturalista?
R – É mais fácil errar. Pois, em cena, não tem nada além de você e o do texto. Não tem aquele cabelo ou o figurino que podem dar um amparo ou algum outro exagero qualquer. De cara, recebemos a indicação de alguns documentários para assistir e depois uma preparação bem voltada para a realidade feita pelo Chico Accioly. O resto foi acontecendo junto com as gravações em Recife, que foi outro ponto alto deste trabalho.
P – Por quê?
R – Porque tira todo mundo da zona de conforto. Recife é uma cidade cheia de vida, colorida, onde tudo acontece ao mesmo tempo, com uma periferia vivaz e um grande conflito de classes. Está tudo nas cenas de "Justiça", a cidade ajuda a contar a história. Foram cinco semanas de gravação que unificaram o elenco, os sotaques e deram mais verdade ao que estava sendo retratado.
"Justiça" – Globo – Segundas, terças, quintas e sextas, às 23 h.