Protagonista de "Alto Astral", Sérgio Guizé se mostra mais à vontade com o esquema industrial da tevê.
Os olhos atentos e o jeito agitado de Sérgio Guizé ganham certa calmaria ao falar de "Alto Astral". Na pele do sensível e atormentado médium Caíque, o ator evidencia que, mesmo com a enorme quantidade de trabalho que envolve o posto de protagonista, está cada vez mais à vontade com as engrenagens da televisão. "Fiquei meio surpreso com essa oportunidade. Mas já está tudo sob controle. O personagem é lindo, a história é envolvente e o tom de comédia romântica deixa tudo muito gostoso. Estou acostumado a trabalhos densos. E, apesar da complexidade do papel, o Caíque é leve", conceitua.
Natural de Santo André, região do ABC Paulista, Guizé chega ao posto de protagonista depois de uma década se dividindo entre a carreira de cantor da banda Tio Che, ator e artista plástico nas horas vagas. "A ideia é continuar fazendo tudo. Só que agora a banda vai ter de respeitar uma agenda um pouco mais apertada", ressalta ele, que estreou na televisão com uma pequena participação em "Da Cor do Pecado", de 2004. Após outros trabalhos menores, o nome de Guizé se destacou a partir de sua atuação contundente em "Sessão de Terapia", de 2012. Seu desempenho na pele do atirador de elite Breno chamou a atenção de diretores e autores da Globo, o que acarretou em sua escalação para "Saramandaia". "Uma coisa vai levando à outra. Isso é muito bacana na tevê. Acho que, a partir de agora, novas possibilidades vão surgir. Espero estar pronto para responder à altura", avisa.
P – Você estava escalado para "Geração Brasil", mas foi reservado para ser protagonista de "Alto Astral". A possibilidade de "carregar" uma trama estava entre os seus objetivos?
R – Aconteceu de forma muito repentina. Eu nunca pensei em protagonizar novela. Mas é melhor ser do que não ser (risos). Meu objetivo de vida era me manter fazendo o que eu gosto, que é produzir arte, seja na música, seja na atuação. Mas vejo essa possibilidade com muito entusiasmo. Até porque Caíque é um prato cheio para qualquer ator.
P – Muitos intérpretes reclamam da figura monocromática dos mocinhos. O que seu personagem tem de diferente?
R – Caíque é difícil, ele não é aquele herói tradicional, sempre a postos para salvar a mocinha. Ele é um cara sensível, complexo, que sempre sofreu por ser médium. A questão do sobrenatural na novela também é muito forte e influencia ainda mais não só no modo em que eu me porto em cena, mas no compromisso de manter um bom ritmo de trabalho. Gravar com muitos efeitos especiais é bem complicado. E ainda faço muitas sequências completamente sozinho e depois é que a edição vai inserir os outros elementos.
P – Você se sente meio ridículo ao ter de conversar e gesticular para o "nada"?
R – (risos) Sim. Mas é um ridículo bom. Até porque ser ator é optar por ser ridículo, aí está a delícia da profissão. Você pode passar por tantas versões de si mesmo, inventar outros mundos. É um trabalho direto para perder o medo e se lançar no ridículo.
P – Você teve alguma preparação especial para um texto tão sobrenatural?
R – Me preocupo mais com o gestual e a postura do personagem, pois a essência do tipo está mesmo no texto. Sempre que me envolvo em um projeto, procuro referências que me aproximem do que eu acho importante para o papel. Em "Sessão de Terapia", fiquei até meio deprimido ao conversar com policiais de elite e conhecer a rotina deles. Para "Saramandaia", mergulhei na obra do próprio Dias Gomes e de autores como Gabriel García Marquez. Agora, estou meio que me concentrando nos trabalhos e na vida do Chaplin, que é um cara de vida sofrida, mas que abordava a felicidade a partir da tragédia.
P – Protagonistas enfrentam uma árdua rotina de gravações e estudo do texto. Como você encara esse lado mais "braçal" do posto?
R – É muito cansativo. Muito além do personagem, é preciso conhecer e gostar da equipe que está nos bastidores. São muitas horas juntos. Estou totalmente envolvido nesse trabalho há alguns meses e nunca achei que uma obra televisiva pudesse ter tanta intensidade profissional. Quando aceitei a proposta do Silvio de Abreu e do Jorge Fernando, botei na minha cabeça que precisava ir além da atuação e me concentrar na disciplina. Estou "casado" com "Alto Astral".