Carta Z
por Geraldo Bessa
TV Press
O realismo fantástico de “O Sétimo Guardião” deu um grande “nó” na cabeça de José Loreto. Reservado para a novela desde o início de 2018, o ator recebeu os primeiros textos da trama e assume que demorou a entender a proposta de Aguinaldo Silva. “As novelas hoje em dia refletem as ruas, o cotidiano. Então, quando li sobre uma cidade sem telefonia celular, com uma fonte milagrosa e um gato onipresente, realmente achei tudo muito estranho”, explica, aos risos, o intérprete do mimado Júnior. Ao se aprofundar na leitura, entretanto, Loreto começou a perceber o subtexto que se desenvolve no enredo cheio de mistérios e segredos, que marca a volta do autor ao gênero que o fez famoso a partir de clássicos como “Pedra Sobre Pedra” e “A Indomada”. “Na infância, vivia na rua e não prestava atenção às novelas. Corri para ver os vídeos no Youtube e refrescar a memória. São novelas que conseguem divertir e fazer o público refletir. Os problemas do dia a dia estão todos ali, mas com uma cobertura mais sofisticada”, analisa.
O ator consegue enxergar de forma muito clara a função de seu personagem dentro do contexto mais analítico da atual trama das nove. Filho do prefeito Eurico e da dondoca Marilda, personagens de Dan Stulbach e Letícia Spiller, Júnior é o típico rapaz abastado do interior que nunca recebeu um “não” na vida. Cheio de si, nutre um amor platônico e quase doentio, por Luz, protagonista de Marina Ruy Barbosa. E é a partir dessa relação não-correspondida que o personagem insere a temática do machismo em “O Sétimo Guardião”. “Júnior acha que a Luz é propriedade dele, que ela está apenas fazendo 'jogo-duro', mas que vão terminar juntos. Então, rola perseguição, assédio e outras táticas absurdas para que ele sempre tenha algum domínio sobre ela”, ressalta. Para Loreto, o personagem é um grande “recado” sobre como o público masculino não deve se portar com suas possíveis pretendentes. “Não existe essa de uma pessoa ser dona de outra”, destaca, colocando em prática os seis anos que se dedicou ao programa “Amor e Sexo”.
De topete, calça justa, jaqueta de couro e passeando a bordo de uma Mercedes conversível “vinta-ge” pelas ruas da fictícia e interiorana cidade de Serro Azul, Júnior é o típico personagem de composição que Loreto tanto gosta. “É bacana quando a gente pode buscar e viajar nas referências. Com a ajuda da dire-ção e das equipes técnicas, fui montado um verdadeiro mosaico para o papel”, explica o ator, que se inspi-rou em filmes americanos produzidos ou ambientados na década de 1950, em especial na postura de James Dean no clássico “Juventude Transviada”, de Nicholas Ray, e na energia de John Travolta no musical “Grease - Nos tempos da Brilhantina”, de Randal Kleiser. “Essas informações deixam o personagem com mais estofo. Os filmes me ajudaram muito a encontrar o equilíbrio entre as feições e os olhares. Tenho muita liberdade, mas não quis deixá-lo tão caricato”, detalha. Apesar das atitudes de “bad boy”, Loreto descarta que Júnior siga pelo caminho da total vilania em “O Sétimo Guardião”. “Ele só é meio perdido mesmo”, despista.
Natural de Niterói, região metropolitana do Rio de Janeiro, Loreto tinha 20 anos quando passou no teste para viver o Marcão na temporada de 2005 de “Malhação”. Depois de passar dois anos na produção, o ator pensou que logo encontraria um novo personagem na Globo, mas acabou sem contrato com a emis-sora. Por conta disso, assinou com a Record, onde atuou na “trash” e bem-sucedida saga de “Os Mutantes - Caminhos do Coração”. Em 2009, de volta à Globo com vínculo por obra, fez pequenas participações em séries como “Força-Tarefa” e “Macho Man”, até que entrou para o elenco fixo do sucesso “Avenida Bra-sil”. Na pele do descolado Darkson, teve seu grande encontro com o público e com Débora Nascimento, sua esposa até hoje. “Essa novela mudou a vida de muita gente. Foi depois dela que as portas se abriram para mim. E foi onde comecei a namorar com a mulher da minha vida”, entrega o ator, que é pai da pequena Bella, de apenas 9 meses.
“O Sétimo Guardião” - Globo - de segunda a sábado, às 21h.
Frente de trabalho
Sem querer perder o prestígio conquistado a partir de “Avenida Brasil”, José Loreto investiu em es-tudos e não desperdiçou nenhuma oportunidade nos últimos seis anos. Fazendo valer seu contrato de prazo longo, topou interpretar o complexo Candinho de “Flor do Caribe”, se jogou na era da discoteca em “Boo-gie Oogie” e mostrou seu lado vilão em “Haja Coração”, contabilizando cerca de 13 trabalhos no período. “Fui fazendo várias coisas sem pensar muito. Tinha de ter mais repertório. Trabalhei com equipes maravi-lhosas e fui ganhando mais segurança”, conta.
Um dos trabalhos mais inusitados do período foi integrar o elenco fixo do programa “Amor e Se-xo”, apresentado por Fernanda Lima. Desde 2012 convivendo com o estilista Dudu Bertholini, a sexóloga Regina Navarro Lins e de outros membros da produção, Loreto não apenas se conheceu melhor como con-seguir se despir de preconceitos bobos que estavam enraizados. “Sou heterossexual e de família tradicional. O programa me levou a uma desconstrução muito positiva. Sei de todos os meus privilégios e minha luta está em apoiar minorias que ainda estão segregadas. A importância de se ter um programa deste tipo no horário nobre é imensa”, valoriza.
Instantâneas
# José Loreto é formado em Cinema pela Casa das Artes de Laranjeiras, prestigiada curso localizada na Zona Sul do Rio de Janeiro.
# Aos 14 anos, o ator foi diagnosticado com Diabetes Tipo 1.
# Em 2012, o namoro entre Loreto e Débora Nascimento foi revelado ao vivo direto do “Domingão do Faustão”.
# Assim que “O Sétimo Guardião” terminar, o ator vai se preparar para viver o ex-jogador e comentarista esportivo Carlos Casagrande no cinema. O longa terá direção de Rogério Gomes.