por Geraldo Bessa
TV Press
A pandemia de coronavírus transformou completamente a vida de Caco Barcellos. Acostumado com as ruas e o “calor humano” de suas pautas, aos 71 anos, ele teve de recuar e se manter em casa. “Em cinco décadas de carreira, nunca tive de lidar com esse nível de isolamento. Sou do tipo de repórter que dá muito valor ao presencial, ao contato mais direto com os entrevistados. Perder essa possibilidade foi horrível, mas me abri para o novo e para outras formas de produzir conteúdo. Foi uma adaptação e um grande aprendizado”, conta Caco, que permanece no comando da temporada 2021 do premiado “Profissão Repórter”, programa documental que vai ao ar nas madrugadas de terça da Globo. “Nossa equipe inteira trabalhou sem parar na cobertura jornalística da pandemia. Essa experiência, sobretudo dos repórteres nos hospitais e cemitérios, é a base da temporada. Eu coordeno tudo de forma remota, minha casa virou um verdadeiro estúdio”, explica.
Gaúcho de Porto Alegre, Caco passou por redações de revistas como “Veja” e “Istoé” antes de investir na tevê e se fixar na Globo. Na emissora desde 1982, foi correspondente internacional na França e na Inglaterra e garantiu espaço para suas reportagens nos principais jornalísticos da casa. Em 2006, já de volta ao Brasil de modo permanente, viu uma de suas ideias mais frutíferas, o documental “Profissão Repórter”, deixar de ser quadro do “Fantástico” para ganhar vida própria na grade de programação. Em 15 anos, orgulha-se da história da produção, que se mantém relevante ao investir em novos talentos e nos diferentes lados da mesma notícia. “Renovação é fundamental. Pela primeira vez, contratamos novos repórteres sem eu ter conversado pessoalmente com eles. Tivemos longas conversas de forma virtual e os encontros pessoais foram com a editora-chefe do programa, Janaína Pirola. É um novo jeito de se trabalhar”, celebra.
P - Por conta da pandemia, o “Profissão Repórter” ficou de fora da grade da Globo em 2020. O que muda no programa para a temporada 2021?
R - Infelizmente, a maior novidade será a minha ausência involuntária das ruas. Foi uma regra muito coerente da emissora. Em isolamento social por causa da idade, farei participações virtuais sem sair da minha casa. Nossas equipes das áreas de Arte e de Tecnologia transformaram meu quarto de hóspedes em um miniestúdio do “Profissão Repórter”. Por meio de duas grandes telas, faço a apresentação do programa, as entrevistas, as reuniões e as conversas virtuais com os editores na nossa redação e com os repórteres nas ruas.
P - Como encara essa “pausa forçada” das ruas?
R - No início foi difícil, mas sabia que tudo era uma questão de adaptação. Em 49 anos de reportagem, nunca havia saído das ruas. Com a pandemia, tive de aprender a conversar com as pessoas à distância, sem a possibilidade do “olho no olho”, indispensável no processo de conquista de confiança recíproca com os entrevistados. Minha grande sorte foi ter bons profissionais ao meu lado, que entendiam exatamente a proposta plural do programa.
P - Na nova temporada, o “Profissão Repórter” ganhou três integrantes. Como é o processo de seleção de candidatos?
R - Basicamente, é necessário ser apaixonado pela produção de reportagem. Os três têm alguns anos de experiência em jornalismo investigativo produzido com luz própria. A gaúcha Augusta Lunardi atuou como repórter independente para programas de tevê da França e da Espanha. A baiana Clara Velasco é especialista em jornalismo de dados, experiência desenvolvida no portal G1. E o Pedro Borges, paulistano, é um dos fundadores do Alma Preta, um portal de mídia negra atuante da periferia de São Paulo.
P - A nova temporada do “Profissão Repórter” foca nos bastidores da pandemia. Como abordar esse assunto sem soar repetitivo?
R - A profundidade dribla a mesmice. Apontamos nossas câmeras para as transformações ocorridas no país por consequência da pandemia. Focamos nos brasileiros que mais têm sofrido com a crise sanitária: as pessoas que ficaram sem renda, sem emprego, sem moradia, sem comida na mesa, sem leito nos hospitais, sem oxigênio para respirar e sem garantia de vacina. Existem muitas possibilidades de abordagem quando a gente trabalha as matérias de forma mais aprofundada, é isso que fez com que, mesmo com o programa fora do ar, a Globo aproveitasse o olhar da nossa equipe para a cobertura da pandemia.
P - É um sinal de que a emissora valoriza o programa?
R - Sim e isso me deixa muito orgulhoso. Nossos repórteres, todos jovens, continuaram no “front”, envolvidos na cobertura da pandemia para os telejornais e também em reportagens especiais para o “Fantástico”. Mantivemos nossa mesma dinâmica, mesmo com três editores experientes como eu, trabalhando sem sair de casa. Além de reforçar a cobertura do jornalismo, parte da equipe também ajudou a produzir um documentário sobre os bastidores do trabalho da imprensa durante a pandemia. “Cercados”, disponível no Globoplay, teve a direção de Caio Cavechini, diretor executivo do nosso programa.
“Profissão Repórter” - Globo - terças, às 0h50.