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Caderno B Sexta-feira, 30 de Setembro de 2022, 10:58 - A | A

30 de Setembro de 2022, 10h:58 - A | A

Caderno B / CINCO PERGUNTAS

Força interior

Autor de “Mar do Sertão”, Mário Teixeira exalta histórias regionais com apelos universais



POR GERALDO BESSA
TV PRESS

A versatilidade é um dos grandes trunfos de Mário Teixeira. Com tramas urbanas, de época e futuristas no currículo, ele agora aposta no regionalismo em “Mar do Sertão”. Apesar da premissa simples – aglutinar uma história de amor clássica com a politicagem do coronelismo –, o autor enxerga a atual novela das seis como um “microcosmo” do mundo. “O regionalismo na verdade é universal. Falar de uma pequena aldeia é falar do mundo. Os tipos humanos se repetem sempre. É uma história regional de fato, ambientado no interior, em um Brasil profundo, mas que está dentro de todo mundo”, avalia o autor, que vem se divertindo ao criar as cenas da história capitaneada pelo triângulo amoroso formado por Candoca, Zé Paulino e Tertulinho, papéis de Isadora Cruz, Sergio Guizé e Renato Góes. “O que enche meu coração são as entrelinhas do meu texto que são interpretadas por esses atores. Tem os veteranos, mas tem os que estão estreando também e que estão dando um show”, elogia.

Natural da cidade de São Paulo, Teixeira estreou na tevê no final dos anos 1990 como integrante da equipe de roteiristas do clássico “Castelo Rá-Tim-Bum”, da TV Cultura. Ao longo da carreira, passou por emissoras como a extinta Manchete, SBT e Band, até que se fixou na Globo, onde colaborou em novelas de Walcyr Carrasco, Alcides Nogueira e Silvio de Abreu. Após 15 anos trabalhando em novelas alheias, estreou como autor titular em “I Love Paraisópolis”, trama cômica que conquistou o público das sete e catapultou Teixeira para o primeiro time de autores da emissora. “Logo depois, veio a chance de escrever uma novela das onze. Foi ótimo ter de fazer novelas tão diferentes em um curto espaço de tempo”, garante o autor que, paralelamente ao ofício de novelista, mantém uma frutífera e premiada carreira na literatura juvenil, com títulos como “Salvando a Pele” e “A Linha Negra”.

 

P – “Mar do Sertão” é a novela mais regionalista entre seus títulos mais recentes. O que esse trabalho agrega a sua carreira?

R – É um retorno ao Nordeste. Quis apresentar a região como ela é: um lugar alegre e colorido. A geografia da novela é uma mistura do Norte e do Nordeste do Brasil. Nós temos cânions e temos caatinga. É uma realidade imaginada, já que Canta Pedra é uma cidade fictícia. Nós queremos mostrar o Nordeste que vai muito além da aridez do sertão.

 

P – É aí que entra a imagem figurativa do mar?

R – Exato. Queremos resgatar a alegria do forró e a vivacidade da flor do mandacaru. Claro que a realidade da seca vai estar presente, mas é um pano de fundo, não é a história inteira. Canta Pedra é um lugar imaginado do Brasil, um microcosmo político e social do nosso país.

 

P – Como essa política local atinge a história de amor dos protagonistas?

R - Na verdade, o romance deles é posto à prova pelas circunstâncias da vida. Depois que sofre um acidente e é dado como morto, Zé Paulino vê Candoca se casar com Tertulinho, seu grande rival, que pensa que pode tudo e é filho do grande Coronel da região. Quando Zé volta para a cidade, 10 anos depois, e Candoca descobre que seu ex-noivo está vivo, apesar do amor imorredouro que existe entre eles, Candoca começa a achar que ele se transformou em outra pessoa. Só que, na verdade, o Zé Paulino que ela conheceu está sempre ali. A questão é se eles vão conseguir superar todas as mágoas que guardaram ao longo dos anos.

 

P – Os nomes escolhidos para os personagens são bem diferentes. Qual foi sua inspiração?

R – Todos eles têm uma etimologia, uma raiz sertaneja que lhes confere identidade e provêm de minha experiência e pesquisas. Candoca, por exemplo, é um apelido amoroso para Maria Cândida. O prefeito Sabá Bodó, Sabá é apelido de Sebastião, enquanto Bodó é o nome de um peixe espinhoso e cascudo da região. Gosto de fazer essas homenagens.

 

P - Falando no Prefeito, a novela aposta no vilão para capitanear o núcleo cômico. É uma forma de humanizá-lo e conquistar o público?

R - Também. Mas é que Welder (Rodrigues) é um ator maravilhoso e que tem muito carisma. Ele cria esse personagem junto comigo. Fiz dois tipos de vilão em “Mar do Sertão” e eles entram em conflito: o prefeito fanfarrão que quer se perpetuar no poder a qualquer preço e o poderoso Coronel Tertúlio (José de Abreu), que guarda esse título anacrônico, símbolo do poder ancestral dos latifundiários da região. Mesmo amando a terra que o enriqueceu, ele não hesita em cometer atrocidades para se manter no topo. Ainda tem sua esposa Deodora (Débora Bloch), personagem dúbia que se revelará no decorrer da trama.

 

“Mar do Sertão” - Globo - de segunda a sábado, às 18h20.

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