Sexta-feira, 12 de Dezembro de 2025

Caderno B Sexta-feira, 12 de Dezembro de 2025, 08:43 - A | A

12 de Dezembro de 2025, 08h:43 - A | A

Caderno B / VITRINE

Consciência cênica

Renata Gaspar aposta em Gilda, de “Ângela Diniz...” como reforço da dimensão política da amizade feminina



 MÁRCIO MAIO/TV PRESS

Em “Ângela Diniz: Assassinada e Condenada”, minissérie da HBO Max dirigida por Andrucha Waddington, Renata Gaspar interpreta Gilda Rabelo, uma personagem criada pela dramaturgia, mas alicerçada em mulheres reais que cercaram Ângela em diferentes momentos da vida. Na trama, ela simboliza um ponto essencial: a consciência política e afetiva que emerge quando uma sociedade tenta calar uma mulher que ousou existir fora das normas. “Faço a Gilda Rabelo, que é uma amiga de infância da Ângela”, resume a atriz. E se a personagem não existiu exatamente como é mostrada, sua função tem raízes profundas ali.

“Gilda simboliza um movimento que vem depois do primeiro julgamento, que é o ‘Quem ama não mata’”, avisa Gaspar. Renata reconhece que revisitar o caso quase 50 anos depois continua urgente. O feminicídio que vitimou Ângela, sustentado pela tese da legítima defesa da honra, declarada inconstitucional apenas em 2023, revela um padrão ainda reconhecível. Para a atriz, a minissérie estimula diálogos que permanecem essenciais. “É importante uma série assim para a gente abrir um debate, para conversarmos sobre a violência de gênero”, afirma. E o impacto não se restringe ao público mais jovem.

“Minha família é superconservadora. O que é bom é que essa questão fica exposta, abrindo mais espaço para uma discussão que é necessária”, observa. A construção da personagem misturou pesquisa histórica e sensibilidade artística. Embora ficcional, Gilda nasce de referências concretas, como as amigas reais da Ângela Diniz que aparecem no podcast “Praia dos Ossos”, da Rádio Novelo.

“Celina Albano foi estudar na Inglaterra, acho que pegaram dela essa referência, porque a Gilda vai estudar o sufragismo em Londres”, explica Renata. Outras figuras femininas foram fundamentais para a composição, especialmente Jacqueline Pitanguy, cuja trajetória inclui a publicação do livro “Feminismo no Brasil – Memórias de Quem Fez Acontecer” e que era amiga de Ângela desde criança.

Se Lulu, vivida por Camila Márdila, se aproxima de Ângela pela cumplicidade afetiva, Gilda se apresenta como uma espécie de lembrete permanente de um posicionamento no mundo. Renata define essa função com precisão.

“Gilda é sempre muito consciente de seu corpo político, de como ela vive nessa sociedade e de qual é a função dela”, aponta. Enquanto Ângela busca viver plenamente, sendo inclusive punida historicamente por isso, Gilda se coloca como contraponto: uma consciência crítica que não exclui afeto. A relação entre as duas é marcada também por um cuidado que atravessa oceano, distâncias e julgamentos. Renata sintetiza esse movimento em um gesto simbólico que a série incorpora de forma delicada.

“Gilda dá um livro da Simone de Beauvoir para Ângela, ou seja, ela sempre vem como uma espécie de cuidadora dessa amiga”, reflete. Mais que uma amiga, Gilda funciona como um farol. “Tem sempre aquele tom de: ‘olha, lembra de quem você é’, ‘não se perca’”, defende.


“Ângela Diniz: Assassinada e Condenada” – HBO Max.

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