GERALDO BESSA/TV PRESS
Protagonista definitivo e, há mais de quatro décadas, um dos atores mais disputados da Globo, chega a impressionar a empolgação de Tony Ramos com o trabalho. “No dia em que eu tratar a atuação como qualquer coisa, é sinal de que é hora de me aposentar. Acredito que isso esteja bem longe de acontecer”, brinca. E está longe mesmo. Sempre que acaba um trabalho, Tony já está pensando no próximo. Tanto é que acaba de deixar o elenco de “Dona de Mim” e já está se preparando para “Quem Ama, Cuida”, próxima trama das nove.
Aos 77 anos e com toda a gama de personagens já vividos sob o olhar do público, o ator no momento se diverte ao lembrar do egocêntrico Edu, mocinho de “Rainha da Sucata”, produção original de 1990 e atual reprise do “Vale a Pena Ver de Novo”. “Revisitar essa novela mexe com meu emocional e com meu imaginário. Recordo como se fosse hoje, de começar a gravar as cenas na Avenida Paulista”, ressalta.
Paranaense da pequena Arapongas, Tony passou parte da juventude no interior de São Paulo, onde teve suas primeiras impressões com o cinema e virou fã dos filmes de Oscarito. Aos 16 anos, disposto a seguir a carreira de ator, resolveu se mudar para a capital, onde logo encontrou abrigo em pequenos grupos de teatro amador. Entre os anos 1960 e 1970, trabalhou de forma ininterrupta em novelas e programas da extinta Tupi. Em 1977, transferiu-se para a Globo e, consequentemente, para o Rio de Janeiro, onde está até hoje.
Somos discretos. Não temos redes sociais e nem a pretensão de ficar mostrando tudo o que fazemos
Na lista de sucessos, tramas como “O Astro”, “Pai Herói”, “Baila Comigo”, “A Próxima Vítima” e “Belíssima”, entre outras. Apesar dos inúmeros personagens no seu histórico e de ter se tornado um dos símbolos do herói romântico, Tony se mostra avesso a qualquer glamourização. “A tevê voltou a se interessar mais pelo talento. Por muitos anos, a beleza foi uma grande porta de entrada.
Agora, vejo jovens preocupados com disciplina e repertório e não apenas em aparecer nas capas de revista. Acho que vem uma geração muito boa por aí”, ressalta o ator, que vive um casamento tranquilo e longe dos holofotes com Lidiane Barbosa desde 1969. “Somos naturalmente discretos. Não temos redes sociais e nem a pretensão de ficar mostrando tudo o que fazemos”, assume.
P – Com a Globo promovendo um resgate de novelas mais antigas, o público agora pode revisitar a trama de “Rainha da Sucata”. Como você recebeu o retorno do folhetim no “Vale a Pena Ver de Novo”?
R – É uma volta no tempo para mim e fico muito feliz a cada nova aposta da Globo nessas tramas mais clássicas. Lembro do meu encontro com Silvio de Abreu e com colegas queridos como Regina (Duarte), Glória (Menezes), o grande Paulo Gracindo, o saudoso diretor Jorginho Fernando e tantos outros. Foi marcante demais para mim e para o público, o Edu se tornou um dos grandes papéis da minha trajetória.
P – A trajetória do Edu na trama é bem ambígua, muito por conta da relação dele com a madrasta, Laurinha (Glória Menezes). Foi bom sair um pouco da mesmice dos mocinhos tradicionais?
R – Q ando Silvio me fez o convite, vi ali uma chance de fazer algo diferente do que as pessoas esperavam de mim. Edu é um playboy que entende a decadência familiar e financeira que está vivendo. Ele tenta se salvar a todo custo, acaba se apaixonando de verdade, mas foi todo um processo de redenção. As cenas entre ele, Laurinha e Maria do Carmo eram eletrizantes.
P – Em que sentido?
R – A disputa era intensa, porque Laurinha era uma mulher ambiciosa, que percebia a queda da sua condição social. Ela via com arrogância uma mulher jovem como a Maria do Carmo (Regina Duarte), com muito dinheiro, ascendendo naquela sociedade. A dinâmica com Regina e Glória foi muito fácil de se estabelecer. Aliado a isso, a direção do Jorge Fernando era muito precisa, tanto para o drama quanto para o humor.
P – Depois de “Rainha da Sucata” você acabou participando de outras produções assinadas por Silvio de Abreu ou dirigidas por Jorge Fernando. Como essa amizade e parceria profissional se desenvolveu?
R – Foram dois lindos encontros que a televisão me proporcionou. Silvio é um autor que sempre me levou para caminhos diferentes. Foi com ele que fiz meu primeiro vilão de fato, em “Torre de Babel”, por exemplo. E Jorginho era um diretor que tinha sido ator, entendia nossas inseguranças e sabia tudo sobre o jogo de cena que é preciso estabelecer em um trabalho. Tenho muita saudade dele.
P – Este ano você completou 60 anos de televisão com um personagem de sucesso em “Dona de Mim”, está trabalhando no teatro ao lado da Denise Fraga e já tem uma próxima novela engatilhada para o ano que vem. O que o motiva a manter essa rotina intensa de trabalho?
R – Sou uma pessoa que tenho prazer com a minha profissão. Gosto de estar atuando e estar entre meus colegas de cena. Sei que todas as noites têm, pelo menos, 50 milhões de brasileiros que esperam o melhor possível de mim. Tudo isso independentemente de dor de cabeça, unha encravada ou qualquer problema pessoal. Sou grato pela minha trajetória. Daqui a pouco vou estar aposentado ou trabalhando menos e vem uma rapaziada boa por aí. Vou para o teatro, fazer Shakespeare para sempre ou fazer uma novela de vez em quando.
“Rainha da Sucata” – Globo – de segunda a sexta, às 17h.









