POR GERALDO BESSA
TV PRESS
Premiadíssima no teatro e no cinema, o nome de Selma Egrei carrega uma densidade que não condiz com sua personalidade leve e divertida. No ar em “Pantanal”, ela ganha a possibilidade de mostrar um pouco mais de humor ao interpretar a elegante Mariana, matriarca que perdeu a fortuna, mas manteve a pose e a fina ironia intactas. “É difícil para a Mariana aceitar que perdeu tudo e agora está morando de favor na casa de um homem que ela sempre julgou muito mal. Porém, ela começa a se entrosar com essa outra vida de maneira mais suave e divertida. A personagem começou de um jeito e ganhou alterações muito significativas ao longo dos capítulos. A vida tem essas transições mesmo”, analisa.
Natural de São Paulo, Selma está na tevê desde o início dos anos 1970. Ao longo da carreira, ela equilibrou breves participações no vídeo com a adaptação de clássicos nos palcos e uma frutífera relação com o cinema alternativo e a pornochanchada. “A partir dos anos 2000, resolvi escrever uma outra história com a tevê. Me mostrei disposta e bons convites foram surgindo”, conta. Com passagens por produções da HBO, Record, GNT e Globo, ela chamou a atenção do público e da crítica em produções como “Essas Mulheres”, “Sessão de Terapia” e “Felizes Para Sempre?”. “Minha carreira sempre foi marcada pela liberdade. Gosto de transitar e ter autonomia sobre o que quero fazer”, avalia, do alto de seus 73 anos.
P – Sua última novela na Globo foi “Velho Chico”, de 2016. Como foi o retorno ao universo criado pelo Benedito Ruy Barbosa no “remake” de “Pantanal”?
R – Fiquei realmente emocionada com o convite. “Velho Chico” foi um projeto incrível, complexo e um deleite para qualquer intérprete. Agora, quis chegar um pouco mais preparada para o que me esperava e corri para ver cenas da versão original de “Pantanal”.
P – E o que achou?
R – Fiquei apaixonada. Mesmo que o conteúdo da internet não tenha muita qualidade de imagem, é uma obra muito gostosa de assistir e que prende o telespectador. Não lembro o motivo de não ter visto quando passou, mas me ganhou muito rápido agora.
P – Você é um dos poucos nomes do elenco que integra as duas fases do folhetim. Como é essa experiência?
R – É como trabalhar em duas novelas. Contracenei durantes meses com um elenco mais enxuto, já que Mariana ficava mais no núcleo do Rio de Janeiro. De repente, mudou tudo. A personagem, inclusive, se transformou também.
P – Em que sentido?
R – A Mariana da primeira fase é uma pessoa mais rígida, mais dura. Agora, se tornou mais sagaz. Tudo o que ela faz é para garantir que a família continue tendo uma vida confortável. Nos primeiros capítulos, ela está começando a passar pelas dificuldades financeiras provocadas pelas más escolhas do marido, que foi perdendo muito dinheiro no jogo. A personagem sofre um grande revés e tem um ponto de virada, onde ganha mais jogo de cintura, mas continua sendo muito irônica e mandona (risos).
P - A personagem ganhou camadas de humor na chegada ao pantanal. Como isso influenciou na sua dinâmica de atuação?
R – Foi muito positivo. O humor fez o público entender e acolher a personagem. Esses momentos de fragilidade a deixaram mais rica do ponto de vista da dramaturgia. Gosto de vê-la totalmente perdedora diante dos fatos. É quando ela enxerga que não tem domínio sobre tudo. Mas, de um modo geral, Mariana mantém uma camada externa como se ninguém conseguisse atingi-la. A construção das cenas é muito gostosa.
“Pantanal” - de segunda a sábado, às 21h.