por Geraldo Bessa TV Press
Já acostumado com convites para viver personagens semelhantes na tevê – geralmente, sujeitos rústicos e de caráter duvidoso –, Ernani Moraes se surpreendeu com a proposta de “Dona de Mim”. No ar na pele do amoroso Manuel, dono da padaria mais movimentada do bairro de São Cristóvão, Ernani acredita ter a chance de mostrar um outro lado de sua atuação.
“A novela é extremamente carioca e naturalista. Estou me sentindo em casa e acredito que o público poucas vezes me viu em um papel mais sentimental. Manuel é um pai dedicado, um sujeito que acredita no bem comum. É bem diferente de tudo o que tenho feito”, analisa.
Natural de Recife, Pernambuco, mas vivendo na cidade do Rio de Janeiro desde que tinha 1 ano de idade, Ernani bem que tentou fugir das Artes Cênicas. Formado em Física, ele chegou a ministrar aulas, mas logo foi seduzido pelo teatro. Muito devoto dos palcos, ele tinha 30 anos quando começou a fazer pequenas pontas na tevê, a começar por “Corpo a Corpo”, de 1984.
“Fiz muita figuração e papéis pequenos. Fui conhecendo pessoas, me familiarizando com os estúdios e as coisas foram acontecendo”, conta o ator, que só ganhou mesmo popularidade a partir de “Torre de Babel”, de 1998.
Com passagem recente pela Record e participação em diversas produções do streaming, do alto de seus 68 anos, Ernani exalta a vitalidade e os bons convites que vem recebendo. “Me sinto muito sortudo em poder viver do que amo, encontrar meus amigos no trabalho, ter contato com o talento dos jovens e fazer personagens que realmente têm algo a dizer”, analisa.
Estou interpretando um tipo que conheço bem
P – Seus personagens em novelas são geralmente mais rústicos e “durões”. Como é dar vida ao sensível Manuel em “Dona de Mim”?
R – É muito surpreendente. Um personagem meio fora da curva na minha carreira e que estou gostando muito de viver. Manuel é aquele cara querido por todos no bairro, dono de uma padaria onde boa parte do elenco se encontra. Ele vive sozinho com os filhos, é um cara superprotetor e que se culpa pelo fato de sua ex-esposa ter abandonado a família. Aos poucos, entretanto, está abrindo o coração.
P – Como?
R – Então, o Manuel está encantado com duas vizinhas e isso gera humor, confusão e cenas muito boas. Já conhecia do teatro a Cida Moreno e a Vilma Melo, que interpretam a Yara e a Jussara. Então, é um reencontro muito divertido. Um triângulo que mostra que pessoas na terceira idade estão muito vivas. Acho bacana o jeito com que a Rosane (Svartman, autora) desenvolve a história de “Dona de Mim” de forma muito orgânica e realista, do jeito que a vida é.
P – O tom mais naturalista facilita ou atrapalha o seu processo de trabalho?
R – Apesar de parecer mais fácil, é preciso ter cuidado com trabalhos naturalistas, justamente porque eles não têm apetrechos, sotaques, figurinos para ajudar na composição. Ao mesmo tempo, a leveza de viver o Manuel, um sujeito carioquíssimo, é reconfortante. Estou interpretando um tipo que conheço bem. Apesar de ter nascido em Pernambuco, mudei para o Rio quando tinha um ano de idade. Então, entendo o personagem que tenho em mãos.
P – Você tem transitado muito entre emissoras de tevê, canais fechados e plataformas de streaming na última década. Como lida com essa autonomia profissional?
R – Ter um contrato longo é algo que traz um certo conforto. Porém, a liberdade de fazer coisas diferentes e experimentar outras formas de trabalho, do alto dos meus 68 anos, é muito instigante. É claro que algumas vezes a gente precisa buscar trabalhos e nem todos são artisticamente satisfatórios, mas tenho dado sorte. O Guarabira, de “Rensga Hits!”, por exemplo, me enche de orgulho.
P – Por quê? R – O projeto da série é muito bom, esse contexto do universo musical sertanejo, que tira a dramaturgia da região Sudeste, é muito rico. E meu personagem é aquele vilão delicioso de interpretar, um cara extremamente egocêntrico que quer ganhar dinheiro de forma fácil. Então, acredita que pode fazer uma fortuna com o talento das filhas. A série cresce a cada nova temporada.
“Dona de Mim” - Globo - de segunda a sábado, às 19h10. “Rensga Hits!” - Globoplay - duas temporadas disponíveis.