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Caderno B Sábado, 28 de Março de 2020, 00:00 - A | A

28 de Março de 2020, 00h:00 - A | A

Caderno B /

VITRINE: Tempo de recomeçar



por Márcio Maio

TV Press

A história de Guilherme Ferraz com a tevê não é recente. Porém, o intérprete do cauteloso Marcelo de “Éramos Seis” reconhece que teve na novela das 18h da Globo, que se encerra no próximo dia 27, sua maior chance de se mostrar como ator na televisão. Às vésperas de se despedir do personagem, Guilherme não hesita em afirmar que a repercussão do trabalho não poderia ser melhor. “Eu acompanho pela internet e também pelas pessoas que conversam comigo, nas ruas. Todo mundo gosta do Marcelo, o acha fofo e muito elegante. E é isso mesmo que tento passar”, conta ele, cujo primeiro papel na tevê foi em “Malhação Conectados”, entre 2011 e 2012, na Globo, como o sonhador Café.

Na trama, Marcelo era o melhor amigo de Carlos, papel de Danilo Mesquita, que acabou morrendo baleado durante o protesto do qual sequer participou. Os dois estudaram Medicina e isso acabou aproximando o jovem negro da família da protagonista Lola, vivida por Gloria Pires. Assim, também se aproximou bastante de Isabel, interpretada por Giullia Buscacio. A história dela com Felício, personagem de Paulo Rocha e tio de Marcelo, inclusive, ajudou Guilherme a ver suas cenas aumentarem no folhetim. “Era um homem mais velho interessado justamente pela caçula daquela família, a irmã do melhor amigo dele. O Marcelo achava que aquilo não era ético. Então, os papéis se inverteram e o sobrinho, bem mais novo, é que aconselhava o tio”, analisa.

Foi com outro conflito, porém, que Guilherme conquistou um espaço ainda mais importante na novela. O rapaz se apaixonou por Lili, vivida por Triz Pariz, e o casal ganhou muita torcida nas redes sociais. Tanto que o romance engrenou, apesar dos preconceitos em uma sociedade de 1930, que condenava relações inter-raciais. “Sempre torci por isso. A relação entre Marcelo e Isabel era de zelo, de cuidado. O pessoal do Twitter ‘shippou’ (aprovou) bastante, foi gostoso ver”, confessa.

Interpretar papéis ligados às questões raciais ainda é algo muito comum na trajetória de qualquer ator negro. Para Guilherme, no entanto, sua participação em “Éramos Seis” teve um gosto especial nesse aspecto. Afinal, mesmo se passando quase 100 atrás, a trama retratou um jovem negro de classe social favorecida e circulando pelos mesmos ambientes que os brancos. “O Brasil ainda é um país racista, mas era bem pior em 1930 e 1940. Dificilmente se achava um preto com dinheiro. O Marcelo foi importante ali para falar da representatividade de hoje”, argumenta ele, que tem 29 anos e é pai de duas meninas, a mais velha com dois anos e a mais nova com apenas quatro meses.

Para construir o personagem, o ator buscou inspiração em outros negros que, no passado, ocuparam postos normalmente preenchidos por homens brancos. “André Rebouças e Machado de Assis eram pretos e tinham posses. Machado foi fundador da Academia Brasileira de Letras e André, um dos maiores engenheiros que já tivemos”, conta, orgulhoso. Já o lado elegante de Marcelo veio muito da própria equipe de caracterização e figurino, mas com a participação das memórias que Guilherme tem de sua própria infância. “Não sei se sou elegante como o Marcelo, mas acabei descobrindo isso dentro de mim. Vieram uns flashbacks da minha mãe me ensinando certas coisas, quando eu era pequeno, que me ajudaram nisso. Lembranças que eu nem sabia que eu tinha”, conta.

 

Éramos Seis” – Globo – Segunda a sexta, às 18h.

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