Carta Z
Anna Bittencourt
TV Press
A agitação de Milena Toscano é percebida assim que a atriz começa a falar. A intérprete da protagonista Joana em “O Rico e Lázaro”, da Record, garante que não gosta de ficar sem fazer nada. Por isso, praticamente emendou seus dois primeiros trabalhos na emissora - antes do folhetim bíblico, ela havia interpretado a abolicionista Felipa em “Escrava Mãe”. “Detesto ficar ociosa. Sei que parece texto pronto, mas gosto do ofício e gravo até a hora que for”, jura. Antes de migrar para a Record, a atriz havia trilhado uma carreira televisiva exclusivamente na Globo - sua estreia foi em “A Casa das Sete Mulheres”, de 2003, e seu último papel havia sido na temporada de 2013 de “Malhação”. “O mercado está aí e abre portas. O movimento foi natural, agarrei uma oportunidade irrecusável. Não preciso ser atriz de um lugar só. Nada me impede de um dia voltar ou procurar outra emissora”, explica.
Na história de Paula Richard, a personagem de Milena é uma típica mocinha. Joana cresceu ao lado de Zac e Asher, interpretados por Igor Rickli e Dudu Azevedo. Embora sempre tenha tratado os dois de forma igual, os rapazes brigam constantemente por sua atenção e, sobretudo, seu amor. “Independentemente de tudo, eles são muito grudados, muito unidos. Mas a vida acaba os separando de forma diferente para depois unir, também de outra maneira”, antecipa. Por ser disputada - e até enganada - pelos seus pretendentes, a personagem sofre muito. “Ela perde muita coisa, mas tem muita fé. Ela acredita que nada é por acaso”, conta. Essa força, inclusive, tem mudado a forma como a atriz encara a própria vida. “Eu também acredito muito em uma força maior. De uma certa forma, a novela está me ajudando a fortalecer esse lado, a ter mais fé”, afirma.
Apesar de “O Rico e Lázaro” ser a primeira novela bíblica de seu currículo, Milena garante que os anos estudados em um colégio católico a ajudaram no processo de composição. “Claro que tive de ler a Bíblia para entender o contexto daquele momento e sobre Jó, uma das inspirações para a minha personagem”, diz. Ela também contou com a ajuda de diversos “workshops” na emissora. Palestras com teólogos, historiadores e aulas de tear estavam dentro do conjunto, além de uma “coach” particular para ajudá-la fora dos estúdios Casablanca - local onde o folhetim é realizado, localizado na Zona Oeste do Rio de Janeiro. “Sempre leio o capítulo inteiro quando recebo, e não só a minha parte. Acho que o posto de protagonista demanda muita responsabilidade e é preciso contar com toda ajuda e dedicação possíveis”, explica.
Natural de Santo André, na região do Grande ABC paulista, Milena começou a carreira como modelo. Depois de diversas campanhas publicitárias, entrou na Escola de Atores da Globo, em 2003, e fez diversos cursos livres no Rio de Janeiro, cidade para a qual se mudou na juventude. Hoje, aos 33 anos, ela olha para trás e enxerga sua carreira com carinho. “Sempre tive personagens muito fortes e interessantes. Sei que há a pressão por todas terem sido mocinhas, mas, ainda assim, consigo diferenciá-las”, garante. Satisfeita com o atual momento, a atriz não se limita à interpretação. Ela também tem um canal online que leva seu nome, onde ensina receitas. “Ensino a preparar comidas simples do cotidiano”, avisa.
Volta às raízes
Milena confessa ter uma certa “queda” pelas novelas de época. Para ela, a viagem no tempo sempre acaba enriquecendo de alguma forma as personagens. “É um tempo diferente, um figurino novo... A gente acaba aprendendo muito com os costumes”, reflete. Por isso, a atriz luta para afastar o estereótipo de que as mocinhas desse tipo de trama são sempre ingênuas e fracas - em “A Escrava Mãe”, na pele de Felipa, ela vivia uma feminista à frente de seu tempo. Agora, em “O Rico e Lázaro”, encarna uma mulher diferente, mais contida e sofrida. “As pessoas não querem mais ver aquela mulher que abaixa a cabeça para tudo, mesmo sendo em um universo antes de Cristo. Acho que dá para mostrar a fraqueza, que todos têm, mas de uma forma mais segura”, explica.
Além disso, Milena jura estar muito empolgada em seu primeiro papel bíblico. Segundo ela, os valores passados pelo folhetim estão em falta nos tempos de hoje. “As pessoas estão precisando de fé, união e respeito. Independentemente da religião, a história vem lembrar conceitos e preceitos de paz e amor ao próximo. E nunca é demais falar isso. Quanto mais se fala, mais acontece”, prega.
Instantâneas
# “Escrava Mãe” foi inteiramente gravada em São Paulo. Por isso, a atriz morou com seus colegas de elenco em um hotel em Campinas por cerca de oito meses.
# Com muitas mocinhas no currículo, Milena sonha em interpretar uma vilã. “Uma daquelas que quase apanha na rua”, diverte-se.
# Ela confessa que encontra certa dificuldade em chorar em cena. “Às vezes, preciso ouvir uma música, colocar um cristal no olho…”, diz, com simplicidade.
# Sua primeira protagonista foi em “Araguaia”, exibida pela Globo em 2010.