Juliana Daher Delfino Tesolin
Brasília, inaugurada em 1960 como a nova capital do Brasil, sempre carregou o peso simbólico de ser o centro nervoso da política nacional. Mais do que um projeto arquitetônico arrojado ou um marco de modernidade, a cidade representa a pulsação da democracia no país. Com a sede dos três Poderes – Executivo, Legislativo e Judiciário – Brasília se tornou o palco das principais decisões que moldam o futuro do Brasil.
A ideia de transferir a capital para o interior do país não era nova. Desde o Brasil Colônia já se pensava em uma nova sede administrativa, mas foi apenas com o presidente Juscelino Kubitschek que o projeto ganhou vida. O Plano de Metas de JK previa a construção de Brasília como uma forma de integrar o território, incentivar o desenvolvimento e descentralizar o poder concentrado no litoral. Em um esforço monumental, a cidade projetada por Lúcio Costa e Oscar Niemeyer foi erguida em pouco mais de três anos.
Mas a mudança para o Planalto Central não era apenas sobre logística e arquitetura. Era também um ato político e simbólico. A nova capital representava o desejo de um país em modernização, de uma nação que queria se ver como protagonista no cenário internacional e que buscava consolidar sua identidade democrática.
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Como sede dos três Poderes, Brasília tornou-se o epicentro da governança brasileira. O Supremo Tribunal Federal (STF), instalado na Praça dos Três Poderes, é o guardião da Constituição e responsável por decisões que impactam a vida de todos os cidadãos. O Congresso Nacional, localizado a poucos metros do STF, é onde as leis que regem o país são debatidas e aprovadas. Já o Palácio do Planalto, residência do presidente da República, comanda o poder executivo e a implementação de políticas públicas.
Como a capital federal, Brasília foi palco de episódios marcantes que consolidaram sua posição como o coração pulsante da democracia brasileira. A cidade, além de ser o centro administrativo, se tornou o espaço onde questões cruciais para a história política do país foram decididas, manifestações populares ocorreram, e o próprio conceito de democracia foi desafiado e fortalecido.
O Supremo Tribunal Federal (STF), instalado na Praça dos Três Poderes, é o guardião da Constituição e responsável por decisões que impactam a vida de todos os cidadãos
Destaco seis episódios concretos que ilustram a importância de Brasília nesse contexto: a Promulgação da Constituição de 1988; o Impeachment de Fernando Collor (1992); o Impeachment de Dilma Rousseff (2016); a prisão e a libertação de Luiz Inácio Lula da Silva (2018-2019); as Manifestações de 7 de Setembro (2021) e a Invasão aos Três Poderes (2023).
Por todo o exposto, temos que mais do que o centro do poder, Brasília é o símbolo de uma nação que luta pela consolidação de sua democracia. Ao longo de seis décadas, a cidade não apenas testemunhou momentos históricos, como também foi o espaço onde muitos deles se desenrolaram. Da promulgação da Constituição de 1988 aos protestos contemporâneos, a capital carrega em suas ruas e monumentos as marcas da evolução democrática do Brasil.
Apesar das críticas e dos desafios, Brasília permanece como o coração pulsante da política brasileira, onde o presente e o futuro do país são discutidos e definidos. É uma cidade que, mais do que abrigar os Poderes, representa os anseios de um povo que busca um Estado mais justo e democrático.
Juliana Daher Delfino Tesolin é coordenadora de Projetos e de Internacionalização da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Brasília, professora de graduação e pós-graduação do curso de Direito e advogada com atuação perante Tribunais Superiores