POR GERALDO BESSA/TV PRESS
A história recente de Aguinaldo Silva com a Globo é digna de um novelão, daqueles com direito a momentos de drama intenso e superação. Único novelista a escrever apenas para o seleto horário das nove, Aguinaldo não teve seu contrato renovado após o fracasso de “O Sétimo Guardião”, de 2018. Porém, com a paralisação dos trabalhos nos estúdios durante a pandemia, a Globo revisitou sucessos de Aguinaldo para ocupar a faixa das 21h e prendeu a audiência ao reprisar títulos como “Fina Estampa” e “Império”.
A resposta do público acabou promovendo uma reaproximação entre a emissora e o autor que, em setembro do ano passado, o contratou por obra ao aprovar a sinopse da recém-lançada “Três Graças”. “Fiquei muito satisfeito em ver o sucesso de trabalhos antigos. Minha ideia nesta nova trama é fazer algo nesta mesma linha popular e abrangente. ‘Três Graças’ nasce da vontade de retratar o Brasil que está acontecendo nesse momento. É uma novela da atualidade, do ônibus, do metrô, do trem”, conceitua o novelista.
Com formação jornalística, Aguinaldo trabalhou por algum tempo como repórter de polícia no jornal “O Globo”, o que acabou ensejando, anos depois, o convite para trabalhar na Globo em 1979, como roteirista de seriados e minisséries, como “Plantão de Polícia” e “Bandidos da Falange”. Logo estreou em novelas, assinando junto com Glória Perez a pouco lembrada “Partido Alto”, de 1984.
Na mesma década, ele começaria a conhecer o gosto do sucesso ao participar das clássicas “Roque Santeiro”, “Vale Tudo” e, sobretudo, “Tieta”, com a qual pôde desenvolver uma assinatura pessoal, levando o público para fictícias cidades nordestinas que ambientaram sucessos como “Fera Ferida” e “A Indomada”. Nos anos 2000, resolveu investir em tramas mais urbanas e concebeu êxitos como “Senhora do Destino” e “Duas Caras”.
“Precisei me renovar para continuar criando. Entre altos e baixos, sigo em frente, feliz e produtivo”, avalia o autor, do alto de seus 82 anos.
P – “Três Graças” é seu retorno à Globo e ao horário das nove, quase seis anos depois do final de “O Sétimo Guardião”. Como foi essa reaproximação com a emissora?
R – Em 2022, trabalhei na sinopse e comecei a desenvolver a história de “Três Graças” sem saber onde ela seria realizada. Meus agentes apresentaram o projeto à Globo e iniciamos as negociações. A verdade é que, mesmo fora da emissora, nunca estive distante, visto que muitas das minhas novelas foram reprisadas ao longo dos últimos anos e com muito sucesso.
P – De onde surgiu a inspiração para “Três Graças”?
R – Quando estava escrevendo “Duas Caras”, por uma razão que tinha a ver com a trama da novela, fui fazer uma pesquisa na maternidade Leila Diniz, no Rio de Janeiro. Quando cheguei lá, logo cedo, tinha uma fila enorme de mulheres esperando para serem atendidas, e eu percebi que a maioria dessas mulheres eram meninas. Isso me chocou profundamente, porque eram adolescentes grávidas, de 15, 16 anos. Algumas ainda com jeito meio infantil.
P – O que fez você sentir que o tema poderia render uma boa história? R – O amigo que foi comigo na ocasião destacou algo muito importante: “Você está vendo algum homem aqui?”. Ou seja, eram mães solo, o que me tocou demais. Isso foi lá em 2007, mas eu fiquei com aquela ideia da fila de meninas grávidas à espera de atendimento. Achei que um dia eu teria de escrever sobre elas, e foi, na verdade, desse meu compromisso que surgiu essa obra.
P – Inicialmente, “Três Graças” seria ambientada no Rio de Janeiro. Como você avalia a mudança da história para São Paulo? R – Foi um pedido da Globo e eu achei muito natural que a emissora desejasse trocar o cenário e fazer um aceno ao público paulistano. Já escrevi histórias ambientadas na Bahia, em Pernambuco. Então, esse desenvolvimento não seria um problema. Quando começamos a fazer as alterações, vi que essa sugestão da emissora daria uma complexidade a mais ao enredo.
P – Em que sentido? R - Acho que a história ganhou mais em tensão e agilidade. Visto que o ritmo de vida de São Paulo é mais intenso. Criamos uma novela com uma linguagem bastante popular e abrangente, que fala do dia a dia das pessoas, dos desafios que se encontram em uma grande metrópole, de quem sai às 5 h da manhã e pega três ônibus para ir trabalhar.
“Três Graças” – de segunda a sábado, às 21h, na Globo.








