POR GERALDO BESSA
TV PRESS
A relação de Mel Lisboa com as novelas é, no mínimo, incomum. Mesmo interessada pelo formato, ela já desistiu de alguns convites por conta da dedicação que um trabalho de longa duração exige. Nas vezes em que resolveu se aventurar, ficou com a impressão que o trabalho ficou aquém do esperado e acredita que, de fato, teve pouquíssimas experiências realmente marcantes em folhetins. Mesmo com esse cenário, a busca por boas e diferentes personagens move a atriz, que viu na ambiciosa Regina de “Cara e Coragem” um bom motivo para mais uma investida folhetinesca, quase uma década depois de “Pecado Mortal”, da Record, última trama que participou de forma integral. “O que me atrai neste formato é o imponderável. Acho interessante essa questão de a novela estar em construção. Por mais que a gente receba a sinopse e os capítulos, a obra é aberta e pode seguir um desenvolvimento totalmente diferente do idealizado. Não existe melhor exercício de versatilidade para um intérprete”, pontua.
Na história escrita por Claudia Souto, Regina é a parceira de trapaças e crimes do mimado Leonardo, de Ícaro Silva. A parceria para o mal, entretanto, sofre com a falta de confiança que centraliza a ação entre os vilões. “Eles são loucos um pelo outro, mas existe uma necessidade de manipulação. Então, escondem muita coisa, o que torna essa relação difícil, perigosa e, ao mesmo tempo, deliciosa”, conceitua. Ao ler as primeiras cenas, Mel logo identificou semelhanças entre Regina e Lady Macbeth, a icônica personagem do dramaturgo inglês William Shakespeare. “Regina reside em um lugar de aparente subserviência, mas ela está sempre ligada em tudo e pronta para se destacar. Apesar da relação genuína com o Leonardo, ela tem em mente que precisa dele para chegar aos seus propósitos”, analisa a atriz, que destaca a fina sintonia profissional que desenvolveu com Ícaro ao longo das gravações de “Cara e Coragem”. “Os personagens têm algo de humor também e fica difícil não rir. A gente se diverte muito e acho que isso fica nítido no vídeo”, ressalta.
Além da volta aos folhetins, a atual trama das sete também marca o retorno de Mel à Globo, onde foi revelada, em 2001, como protagonista de “Presença de Anita”. Por muitos anos, o êxito da minissérie perseguiu os caminhos e escolhas da atriz. “O sucesso da minissérie quase me enlouqueceu. Hoje, sei da importância de falar sobre esse trabalho e o quanto ele é admirado até hoje. É aquele tipo de produção que conquista mesmo o público, não importa quantas reprises sejam exibidas”, destaca.
Gaúcha de Porto Alegre, Mel fez sua estreia na tevê quando tinha pouco mais de 20 anos e teve de equilibrar seus anseios artísticos com a alcunha de “sex symbol” do início dos anos 2000. Na sequência, já contratada da Globo e em comum acordo com a emissora, acabou sendo escalada para personagens de pouca expressão em novelas medianas como “Desejos de Mulher”, “Sete Pecados” e “Como Uma Onda”, movimento que a fez buscar no teatro e no cinema papéis que pudessem dar ânimo a sua trajetória. “A visibilidade da televisão me abriu outras portas e fui aproveitando as oportunidades”, entrega. Com o fim do vínculo com a Globo, acabou transferindo-se para a Record, onde se apaixonou pelo projeto de “Sansão e Dalila”, mas decidiu sair antes de começar a se repetir nas inúmeras novelas bíblicas produzidas pela emissora e que acabaria tendo de fazer por conta de contrato. Aos 40 anos, Mel hoje orgulha-se de ser uma atriz sem grandes limitações empresariais e exerce esse poder de escolha de forma feliz e intuitiva. “Comecei a gostar de trabalhar como contratada por obra antes mesmo de ser uma imposição do mercado. Ser dona da minha atuação é incrível e me dá grandes possibilidades de trabalho”, valoriza.
“Cara e Coragem” - Globo - de segunda a sábado, às 19h20.