por Geraldo Bessa TV Press
Silvio Guindane tinha apenas 13 anos quando entrou pela primeira vez em um set de gravação. Mesmo empolgado com a situação, aos poucos ele foi concluindo que, por conta da cor de sua pele, teria de trabalhar muito mais para ser reconhecido no meio audiovisual. Ao longo dos anos, aprendeu a não depender de contratos de longa duração com emissoras e, sobretudo, a fazer seus projetos autorais virarem realidade. Hoje, diretor premiado e ator disputado, ele protagoniza o sucesso “A Divisão”, que acaba de ter sua quarta temporada lançada no Globoplay, e celebra o tom diverso e a autonomia artística que construiu ao longo de quase três décadas de trabalho. “Acredito que todos os atores buscam essa independência, mas é preciso ter coragem de largar a zona de conforto, a segurança de um contrato, para ir atrás de projetos que façam a diferença. Senti medo em várias ocasiões e é claro que fiz escolhas erradas. Mas todo esse processo foi importante para me tornar o profissional que sou hoje”, garante o intérprete do delegado Mendonça.
Natural de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, Guindane já tinha até feito participações em produções globais como “Aquarela do Brasil” e “Andando nas Nuvens”, mas se tornou conhecido do grande público ao viver o fofoqueiro Basílio de “O Clone”, de 2001. Com passagem por canais pagos como Multishow, Fox e Canal Brasil, Guindane fez diversas séries e novelas na Globo e na Record e ainda segue atuante nas plataformas de streaming. No momento, ele pode ser visto no cinema em “Vitória”, longa de Breno Silveira e Andrucha Waddington, é o responsável pela direção da atual temporada de “Vai que Cola!” e ainda finalizada a série documental “Sankofa – A África que Habita o Brasil”. “Faço diversas coisas ao mesmo tempo. É trabalhando que eu me reinvento, seja como ator, escritor ou diretor”, destaca.
P – “A Divisão” chega a quarta temporada sendo um dos principais sucessos originais da Globoplay. Como você encara a longevidade da série?
R – É sem dúvida um dos trabalhos mais importantes da minha carreira. Entre leituras, ensaios, gravações e estreias, já são sete anos vivendo o Mendonça e são quatro temporadas muito bem arquitetadas, onde sempre apresenta algo novo e instigante tanto para o público quanto para o elenco e a equipe. O sucesso inicial foi fundamental nessa jornada, mas a série se firmou por conta da qualidade do texto, da direção e dos atores. Tenho muito orgulho!
P – Como foi voltar a esse universo para gravar a nova temporada?
R – O reencontro é sempre muito empolgante. Eu faço um monte de coisas entre uma temporada e outra. Mas quando chega o momento de me dedicar ao Mendonça, paro tudo e o foco é total. Embora a ação ainda esteja no centro da história, acho que “A Divisão” foi ganhando contornos cada vez mais psicológicos à medida em que os protagonistas são encurralados pelo sistema. O trabalho do Mendonça, se bem feito, pode não ser interessante para um monte de gente. É um personagem que está sempre tendo que se equilibrar no jogo político.
P – Antes rivais, o Mendonça e Santiago (Erom Cordeiro) agora são amigos e parceiros de trabalho. Como você avalia essa nova relação?
R – Essa amizade foi se estabelecendo de forma muito legal na história. A verdade é que, depois de tantas diferenças, eles começaram a ter um mesmo objetivo dentro da polícia. Porém, mesmo com essa perspectiva parecida, os meios de se chegar aos resultados são bem diferentes. Meu personagem é marcado pela rigidez de valores e eles de vez em quando entram em rota de colisão, o que sempre valoriza as cenas.
P – Como assim?
R – Acho que a dinâmica que eu e Erom criamos com os personagens acaba influenciando os roteiristas da série. Uma série de situações tentam colocar os dois novamente em lados distintos, mas existe um elo forte entre eles. Eu adoro essa dupla, eu e Erom também nos tornamos grandes amigos ao longo deste trabalho. É muita entrega e momentos compartilhados e isso acabou fazendo a gente ficar muito próximo também.
P – Além de protagonizar “A Divisão”, você continua muito atuante no cinema e está envolvido em diversas produções como roteirista e diretor. Como consegue conciliar tantos projetos?
R – As oportunidades vão surgindo e eu amo trabalhar. Então, normalmente, vou organizando os roteiros de gravação e tentando encaixar tudo na agenda. Tento mesclar projetos mais autorais com o convite de amigos para que tudo fique bem equilibrado. Não é uma conta fácil, mas as coisas têm funcionado. Estou muito contente com todos os projetos que estou envolvido.
“A Divisão” – Globoplay – quatro temporadas disponíveis.