Jornal Mato Grosso do Norte
por Geraldo Bessa
TV Press
Caio Blat é do tipo que escolhe meticulosamente os trabalhos que quer fazer. Contratado da Globo desde o final dos anos 1990, o ator conquistou essa autonomia a partir de bons desempenhos e, sobretudo, da total disponibilidade para o trabalho em seus primeiros anos de carreira. "Chegou uma hora em que eu já conhecia todos os diretores, autores e equipes. Aí ficava fácil negociar o projeto que mais combinava com os meus anseios", destaca o ator que, mesmo de forma breve, fez questão de participar do elenco de "Os Dias Eram Assim", nova produção das 23 horas, que estreia na próxima segunda, 17 de abril. "A gente vive tempos sombrios. Tem gente nas ruas com saudade da ditadura militar. É importante abordar e mostrar as atrocidades desse período. São histórias muito fortes", ressalta.
Dos 80 capítulos previstos, Caio participa de apenas dois. Na história escrita por Angela Chaves e Alessandra Poggi, o ator é Túlio, idealista e ativista político. "Ele se envolve com a luta armada e planeja o ataque que desencadeia toda a trama. Morre nos porões dos militares", conta. A participação especial encaixa perfeitamente no atual momento profissional do ator. Nos últimos meses, Caio vive entre o Brasil e a Europa, onde grava a série da BBC "McMafia". "As gravações seguem até junho. Mas conseguimos negociar essa vinda ao Brasil", explica. No projeto internacional dirigido por James Watkins, Caio vive um gângster moderno. "Estou aprendendo muito. O cuidado que os ingleses têm com cada um dos oitos episódios faz com que a gente tenha a sensação de que está fazendo oito filmes", elogia.
P - Você já esteve em outros trabalhos que abordaram o período da ditadura, como os longas "Batismo de Sangue" e "É Proibido Proibir". Foi o tema que o fez acertar sua participação em "E Os Dias Eram Assim"?
R - A barbárie ocorrida durante os anos de chumbo rendem histórias fortes. Trazer esse assunto para as massas é muito importante. Ainda mais em um momento como agora, em que a gente vê algumas pessoas indo às ruas com pedidos de intervenção militar. Vivemos tempos delicados, de uma volta do tradicionalismo e de ideias retrógradas. É um bom momento para esse tipo de tema ser estampado de forma realista. Soube do projeto e fiquei com muita vontade de fazer.
P - Você atua em somente dois capítulos. Mesmo breve, existiu algum tipo de preparação específica para essa participação?
R - Por mais rápida que seja a aparição, é sempre bom estar seguro em cena. Nem que seja uma integração com os atores do mesmo núcleo, passar as cenas com o diretor. Trabalhei esse personagem de forma mais intuitiva e com as referências que eu já tinha de outros trabalhos. É uma participação rápida, mas relevante.
P - Como assim?
R - O Túlio é um ativista político, envolvido com a luta armada e que, como muitas pessoas, acabou preso, torturado e assassinado pelos militares. Mas, antes de morrer, ele idealiza o ataque que é o ponto de partida da história.
P - Você gravou suas cenas em "Os Dias Eram Assim" durante uma pausa nos trabalhos de "McMafia", série produzida pela rede inglesa BBC. Foi tranquilo conciliar os dois trabalhos?
R - O calendário era apertado. Mas deu tudo certo, sim. Se o Túlio tivesse de ficar mais na novela, eu teria de recusar o trabalho. Desde que fui convidado, a direção e as autoras já sabiam que eu estava envolvido com uma produção fora do país.
P - "McMafia" é o primeiro projeto internacional em que você atua. Seguir fazendo trabalhos no exterior está entre as suas prioridades?
R - Não entrei nesse projeto de forma pretensiosa. A produção precisava de um ator latino, testaram muitas pessoas e acabei selecionado. Estou adorando e aprendendo muito. Sou contratado da Globo e ela entendeu a importância desse trabalho e me liberou. Ainda gravo maio e junho na Croácia e a série será lançada (na Inglaterra) no segundo semestre.
"Os Dias Eram Assim" - Globo - Estreia segunda, dia 17 de abril, às 23h.